Balanços mostrarão estragos da crise
Valor Econômico – 6/11/2008
Os resultados da Gafisa abrem a esperada safra de balanços do setor de construção civil. Investidores aguardam, ansiosos, para saber a exata dimensão dos efeitos da crise financeira sobre os números das companhias - que padecem da falta de liquidez e de crédito. O setor tinha dificuldades pontuais, mas depois de deflagrada a crise nenhuma empresa escapou. Os papéis derreteram desde meados de setembro. As empresas mais prejudicadas tiveram quedas de mais de 60%, como Abyara, Klabin Segall e Rodobens. A Agra caiu 83%, também influenciada pelo fim do acordo com a Cyrela. Mas as grandes também assistiram a um drástico recuo das ações. Cyrela caiu 38% desde 15 de setembro, Gafisa, 33%, PDG, 41% e MRV, 55%. As prévias divulgadas por sete das 21 empresas de capital aberto já sinalizam um recuo médio de 25% nas vendas em relação ao segundo trimestre. Até a Cyrela, maior do setor, registrou queda de 43% nas vendas, surpreendendo o mercado.
Até as empresas com foco na baixa renda - consideradas como as mais blindadas na crise pelas garantias de financiamento com recursos da poupança e do fundo de garantia - venderam menos entre julho e setembro. A primeira medida tomada pelas empresas - mesmo antes da crise - foi a redução da projeção de lançamentos. A euforia do ano passado e início deste deu lugar à cautela. Levantamento realizado pelo Valor mostra que, para 2008, o encolhimento das projeções de lançamento já está em 28% e, para 2009, o ajuste será ainda maior: de 34%. As oito empresas que ajustaram lançamentos previam R$ 16 bilhões em novos empreendimentos só neste ano. Agora, reduziram a meta para R$ 11,6 bilhões. Por enquanto, apenas empresas médias e pequenas corrigiram metas, mas analistas já prevêem algumas das grandes na mesma direção. Diante da drástica mudança de cenário e da importância do setor, principal empregador do país, o governo resolveu agir. Depois de desagradar as empresas dizendo que a medida provisória 443 valia também para o setor e que o governo poderia comprar participação nas empresas em dificuldade, anunciou um pacote mais "amistoso". Os bancos poderão cumprir parte da exigibilidade de financiamento ao setor com recursos da poupança por meio de operações de capital de giro para as construtoras, o que não era permitido. Mas o fato é que as construtoras não esperaram o governo para aumentar a liquidez ou para tentar melhorar o desempenho das ações: fizeram aumento de capital ou programa de recompra. A Even conseguiu que três novos sócios, além dos antigos, colocassem R$ 150 milhões na companhia por meio de um aumento de capital. Em outras empresas, os sócios capitalizados - muitos deles em função de ofertas secundárias na bolsa - injetaram dinheiro no caixa. Rossi e Agra fizeram aumento de capital de R$ 100 milhões cada. Outra saída foi a recompra de ações, opção usada por PDG, JHSF, Trisul e Eztec. A intenção é mostrar ao mercado que os papéis estão com desconto exagerado e que consideram o próprio negócio como o melhor investimento. (DD)
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Muito bom este assunto...parabens
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