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06 novembro 2008

Conservadorismo e Vida da empresa

Gestão financeira conservadora é pilar de empresas centenárias
Valor Econômico - 6/11/2008

O conservadorismo aplicado na gestão financeira durante séculos de história e uma forte ligação com a família são apontados por companhias tradicionais como os dois principais pilares de sobrevivência no mundo corporativo. Essa foi uma das conclusões do seminário Empresas de Vida Longa, organizado pelo Valor, que aconteceu ontem em São Paulo. No mundo inteiro, segundo Miguel Juan Bacic, professor de economia de empresas Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp, 70% das empresas fecham as portas antes mesmo de completarem 20 anos de existência. No Brasil, a realidade é mais dramática: a maioria morre antes de três anos. "Aqui, uma empresa com mais de 30 anos já pode ser considerada longeva." Durante o evento, executivos das seculares Stora Enso, companhia de incríveis 720 anos, da Saint-Gobain, que começou fabricando vidro, na França em 1665, e também do Banco do Brasil, que completou 200 anos no mês passado, ressaltaram a importância da cautela como diretiva de administração.

"No caso do grupo Saint-Gobain, a recomendação não é ser conservadora. Mas sim muito conservadora", disse Laurent Guillot, delegado geral para o Mercosul e Chile da multinacional francesa. Arie de Geus, escritor e ex-diretor da Shell presente no seminário, contou que na década de 80 a Shell elaborou um estudo sobre as companhias mais antigas do mundo, destacando entre outras Dupont, Mitsui, Stora Enso. No total, se encaixaram no estereótipo 27 companhias. Em comum, pelo menos dois princípios de gestão: conservadorismo, proximidade com a comunidade. "Essa empresas relutaram em buscar recursos de terceiros", disse.

É o que acontece, por exemplo, com a fabricante cearense de cachaça, Ypióca. "Somos uma companhia com endividamento zero, que cresce com seus próprios recursos", disse, Aline Telles Chaves, diretora de marketing do grupo, que completou em 2008 162 anos, uma das palestrantes. Como membro da quinta geração da família fundadora da empresa. Aline ressalta também que além do traço conservador, uma base familiar é importante para uma empresa que quer ter vida longa. "A grande maioria das empresas centenárias são também familiares ou pelo menos mistas", afirmou ela. A Cedro Cachoeira, de 136 anos, mistura a gestão familiar e a chamada "profissionalização". "No mundo de hoje, a empresa que quer crescer não pode ficar apenas nas mãos da família que a fundou. É preciso trazer gente de fora, mesclar", disse Renato Bernhoeft, especialista em sucessão empresarial familiar. Fábio Mascarenhas, diretor administrativo e de relação com os investidores da Cedro Cachoeira, concorda. "Ter uma ligação familiar é fundamental pois ela dá aos gestores o sentimento de que o negócio tem de se tornar perene." A Droga Raia é outro exemplo. "Somos uma empresa aberta mas 70% de nosso capital é familiar", afirmou Antonio Carlos Pipponzi, presidente da Droga Raia, empresa com 103 anos. A proximidade com as comunidades que cercam a empresa e a participação nas decisões políticas da região também são outra característica das empresas duradouras. "Muitas delas acabam caracterizando a cidade onde foram fundadas", disse o professor Bacic. É o caso da fabricante de máquinas Romi, de Santa Bárbara D'Oeste (SP). A diversificação dos negócios também é um ingrediente para a longevidade, segundo o escritor Geus. Ele relatou que durante sua passagem pela petrolífera, a dúvida recorrente entre os funcionários era o que fazer quando o petróleo acabar. Segundo ele, foi neste momento, em meados dos anos 30, que a Shell passou a atuar no setor químico. "Depois fomos até para o ramo de energia nuclear. Enfim, diversificação era a palavra de ordem na empresa", lembrou.

Na Stora Enso, a atividade que marcou o início da companhia, em 1288 foi a extração de cobre, passando para o minério de ferro e só depois chegando ao cultivo de florestas. E mesmo este, atual ramo da empresa, é colocado em xeque. "A comunicação eletrônica tem reduzido o uso do papel", diz Otavio Pontes, vice-presidente para a América Latina da Stora Enso. Segundo ele, esta é uma tendência natural, hoje compensada pelo consumo dos países emergentes, com potencial de crescimento. á o Banco do Brasil, projeta para os próximos anos a consolidação do sistema bancário, que na visão de Francisco Djalma Oliveira, gerente-executivo, tende a ser acelerada após a fusão do Itaú e do Unibanco. "Claro que nós e outros competidores, como o Bradesco, vamos nos mexer em busca de oportunidades", observou Oliveira.



Tenho duas observações:
1. Não faz sentido incluir o Banco do Brasil como exemplo já que é uma entidade estatal (e a sobrevivência não depende das forças do mercado e sim de vontade política) e que não possui, efetivamente, 220 anos. (Faliu durante sua história e isto deveria contar)
2. A teoria de Arie de Geus não destaca somente dois aspectos, como apresenta a reportagem. Um dos fatores de De Geus percebeu foi a mudança de rumo das entidades. Este aspecto, inclusive, é ressalvado no texto com os exemplos da Stora Enso e outros.

Aqui uma postagem anterior sobre uma empresa de 1428 anos que fechou em 2007. Aqui sobre a Casio.

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