Contabilidade do tráfico apreendida pela polícia tem ainda propinas a policiais
Ana Cláudia Costa - Globo - 25/9/2008
O faturamento de uma única boca-de-fumo na Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, impressionou policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA). Em agendas e folhas de papel com a movimentação do tráfico apreendidas numa casa na semana passada, durante uma operação na área, agentes descobriram que um ponto de venda de drogas chegou a arrecadar R$29,5 mil por dia, em dezembro do ano passado. Em janeiro, o movimento caiu: foram R$15 mil por dia.
Da contabilidade também consta o pagamento de propinas a policiais, o chamado “arrego”. Em dezembro de 2007, traficantes de uma boca-de-fumo da Nova Brasília deram R$2 mil de “arrego de Natal”. No mês seguinte, o valor caiu para R$1,4 mil.
Todo o material apreendido está sendo analisado pelo delegado titular da DRFA, Ronaldo Oliveira:
— A movimentação financeira de apenas uma boca-de-fumo é muito grande. Se a gente levar em conta que o Complexo do Alemão tem 17 favelas e em cada uma delas há mais de dez bocas-de-fumo, dá para ter uma noção da alta rentabilidade do tráfico na região. Mas, com tantas bocas, não dá para dizer quanto os traficantes arrecadam mensalmente.
Visitante levou R$1.510a presos em Gericinó
Bem organizadas e detalhadas, as agendas mostram quanto diariamente o “gerente” de um ponto de venda de drogas gasta e devolve ao chefe do tráfico. Na relação diária de despesas, há pagamentos destinados a presos no Complexo Penitenciário de Gericinó e a advogados de detentos. A lista apresenta ainda gastos com cestas básicas, remédios, manutenção e conserto de armas, além de aquisição de armamento pesado e munição.
Somente em julho do ano passado, o “gerente” mandou, por intermédio de uma pessoa que foi fazer uma visita em Gericinó, R$1.510 a cúmplices cumprindo pena no local. Detido em junho do ano passado, o traficante Marcelo Soares de Medeiros, o Marcelo PQD, perdeu um pouco de prestígio na quadrilha. Enquanto comparsas seus presos no complexo penitenciário recebem R$200 por semana, ele ganha R$50. Segundo o delegado titular da DRFA, isso acontece porque PQD, ao ser capturado, perdeu muitas armas, dando grande prejuízo ao bando.
Para despistar a polícia, traficantes adotam um código para se referir às drogas. “Ronaldo” quer dizer pedra de crack; “Maradona”, cocaína; “Super-Homem”, a mesma droga, mais pura; e “moreno”, maconha.
Munição permite a bando sustentar longos tiroteios
Nas anotações, há detalhes sobre a distribuição do armamento. Somente numa boca-de-fumo, traficantes estavam armados com duas metralhadoras .30, 14 pistolas, dois mosquetões, dois fuzis FAL calibre 762, outro G3, um AR-15 e duas escopetas calibre 12. Todas as armas, segundo o delegado Ronaldo de Oliveira, são entregues aos bandidos com munição suficiente para sustentar uma troca de tiros durante um dia inteiro.
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