(...) Uma prova da sua crescente importância nas corporações [do controller] é que hoje 90% das áreas de negócios o consultam antes de tomar suas decisões, segundo pesquisa que ouviu 100 das maiores empresas do país, realizada por Márcio Luiz Borinelli, para tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo (USP).
(...) Quem atua na área reconhece as transformações ocorridas recentemente. "A função dos controllers mudou radicalmente", diz Marcus Severini, diretor de controladoria da Vale. Eles basicamente continuam produzindo relatórios, mas além de olhar para dentro da organização, tiveram que ampliar seus horizontes. Hoje, eles também precisam observar a concorrência, participar de processos de produção, analisar os cenários econômicos e políticos do mercado nacional e estrangeiro e até desenvolver oportunidades. Com 27 anos de experiência na área de controladoria e há quatro como diretor, Severini, 50 anos, afirma que sua rotina mudou. Hoje ela inclui ajudar a empresa a se adequar a leis brasileiras e internacionais, garantir o sucesso de projetos de abrangência internacional, dar suporte à captação de recursos, lidar com diferentes culturas, entre outras obrigações."
(...) Entretanto, há outros fatores determinantes para que os controllers ganhem notoriedade. O primeiro é a rigidez dos processos. Depois dos escândalos financeiros da Worldcom e Enron - que resultaram na criação da lei Sarbanes-Oxley -, o acompanhamento numérico dos processos tornou-se mais próximo e detalhado. As novas regulamentações exigiram um controle maior dos resultados e das movimentações financeiras das empresas com capital aberto nas bolsas americanas, com implicações que comprometem pessoalmente CFOs e CEOs. Do lado brasileiro, a lei 11.638, conhecida como lei das S.A., somada a um momento de crescimento da economia nacional - o que levou a um boom de empresas abrindo capital na bolsa de valores nos últimos dois anos -, também criou novas atribuições para os controllers. Eles passaram a cuidar do levantamento das informações da parte societária.
(...) A pesquisa de Borinelli comprova as alterações no perfil da profissão: 70% dos entrevistados são responsáveis pela contabilidade societária e 88% daqueles que atuam na área cuidam também da contabilidade gerencial (para apoio a tomada de decisão interna). (...) As novas atribuições mostram que esses profissionais deixaram para trás trabalhos de consolidação de números, mais dirigidos à contabilidade.
(...) A tese de Borinelli mostrou que 40% dos controllers eram formados em administração ou engenharia. Na turma de MBA dessa semana, 13,6% são formados em direito. A graduação, portanto, não é o elemento mais importante para quem quer seguir a profissão. O principal é ter condições de garantir a eficiência do processo de gestão, o significa saber um pouco de tudo o que acontece. "As pessoas riem de mim, mas os controllers viraram especialistas em generalidades", diz Severini, da Vale.
Cresce no país a demanda por um novo perfil de controllers
Valor Econômico - 13/08/2008
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