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26 março 2008

Excesso de Confiança


O excesso de confiança é um dos itens mais interessantes das finanças comportamentais. A pesquisa clássica é a pergunta aos motoristas se eles estão acima ou abaixo da média dos outros motoristas quanto a sua habilidade no volante. Um percentual elevado responde que suas habilidades são superiores a da média, o que revela este excesso de confiança.

O excesso de confiança também pode ser conhecido como Lake Wobegon Effect. A seguir um texto sobre este assunto, publicado no Valor Econômico, e enviado por Ricardo Viana (grato):

O excesso de confiança nas decisões de investimento
Aquiles Mosca
Valor Econômico - 25/03/2008

Excesso de confiança diz respeito à sobreestimação das capacidades pessoais. Esse comportamento é sem dúvida aquele que possui maior número de estudos que confirmam sua existência e, para alguns pesquisadores, chega a ser o elemento de maior influência no processo decisório. Ele é observado em indivíduos que imaginam ter capacidade decisória superior à média da população. Diversas categorias profissionais já foram alvo de estudos sobre excesso de confiança e entre as mais afetadas pelo fenômeno estão psicólogos, juristas, empreendedores e profissionais do mercado financeiro.

A mensuração do excesso de confiança é, via de regra, feita por meio de questionários onde os pesquisados devem responder a algumas perguntas de variado grau de complexidade e, em seguida, avaliar a confiança (expressa em porcentagem) na resposta ou conclusão a que chegaram. Verifica-se excesso de confiança quando em uma população a proporção de respostas corretas é significativamente inferior ao grau de confiança médio.

Um dos pontos mais surpreendentes revelados por tais estudos é que o excesso de confiança cresce com o nível de complexidade da decisão que precisa ser tomada ou da pergunta a ser respondida. Estranhamente, quando as perguntas são muito simples, ou seja, questões que a maioria consegue responder sem problemas, o nível de confiança reportado é geralmente baixo. Os meteorologistas aparecem como a única categoria profissional que é capaz de julgar de maneira justa e correta a exatidão de sua capacidade de previsão e o acerto de seus prognósticos.

No mundo dos investimentos, excesso de confiança faz com que aplicadores acreditem compreender o mercado e serem capazes de antecipar flutuações de curto prazo, mesmo em circunstâncias de volatilidade extrema. Shiller (2000) recorre a um levantamento feito por ocasião da quebra da bolsa em 19 de outubro de 1987 para testar a hipótese de que investidores individuais e institucionais sofrem de excesso de confiança. Na semana seguinte à quebra de 1987, a equipe de Shiller enviou a um grupo de 620 investidores profissionais e amadores um questionário semelhante ao descrito acima. Resultado: 30% afirmaram pensar no dia da quebra do mercado saber exatamente em que nível voltariam a investir na bolsa. Entre os que compraram ações no dia da quebra, 48% acreditavam ser capazes de identificar com precisão o ponto mais baixo de preços para retomar suas compras de ações. Em 88% dos casos, a justificativa para tal certeza não se baseava em elementos objetivos, mas em sua "intuição de investidor".

Hilton, Biais, Mazurier e Pouget (2005) criaram um mercado experimental para estudar a influência desses traços de comportamento sobre a performance de carteiras de investimento. O alvo do estudo foram os estudantes da London Business School e da Universidade de Toulouse. Esse mercado era composto de uma única ação e os investidores precisavam avaliar se no período seguinte o dividendo a ser pago seria de 50 euros, 240 euros ou 490 euros e negociar a ação com base em suas expectativas.

Divididos em dois grupos, os estudantes recebiam uma única informação dizendo qual dos três dividendos não seria pago. Por exemplo, se o real valor do dividendo a ser pago era de 490 euros, a informação recebida por um dos grupos era de que o dividendo não seria de 50 euros. O outro grupo receberia a informação de que o dividendo não seria de 240 euros. Em seguida, abria-se mercado para negociarem a ação em nove pregões sucessivos. A cada negócio fechado, precisavam julgar se haviam feito um bom negócio e o nível de confiança que tinham no resultado obtido. Conclusão: 90% dos investidores acreditava no momento da negociação ter feito o melhor negócio possível, ao passo que os resultados efetivos revelaram que só 36% tiveram uma performance tão positiva, ou seja, houve um excesso de confiança generalizado.

Além disso, o estudo mostrou que, quanto mais um indivíduo sofre de excesso de confiança, pior é a performance de sua carteira quando comparada a outros investidores que possuem um nível de confiança menor e mais em linha com a realidade. No exercício, ao passo que o lucro médio por investidor foi zero (como em qualquer mercado a soma de lucros e perdas é sempre zero), os 25% de participantes melhor "calibrados" quanto à exatidão de confiança tiveram lucro de 131,40 euros. Já os 25% com excesso de confiança tiveram prejuízo de 147,70 euros.

Dentre os malefícios associados à tendência comportamental, temos que o investidor é levado a não utilizar toda informação disponível, confiar na intuição e crenças pessoais. Adicionalmente, o excesso de confiança leva-o a subestimar os riscos associados às modalidades de investimento, à superestimar o potencial de alta e o preço de aquisição, prejudicando a diversificação eficiente da carteira de investimentos.

Dessa forma, na hora de decidir onde e, mais importante, com quem investir, o aplicador deve também avaliar esse aspecto bastante intangível, mas relevante para o processo decisório e, conseqüentemente, para a performance da carteira. Desconfie de analistas e gestores repletos de certezas. A evidência empírica mostra que segui-los cegamente ou deixar-se levar pelo excesso de confiança resulta, apesar da grande sensação de confiança que é gerada no momento da decisão de investimentos, em perdas e arrependimento.

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