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07 fevereiro 2008

Custos do Jogos Olímpicos

Tenho postado diversas reportagens comentando do elevado custo de uma olimpíadas (ou até mesmo jogos pan-americanos). Abaixo, numa entrevista, um outro ponto de vista:

Especialista faz defesa de custo bilionário de Jogos
Folha de São Paulo - 6/2/2008

Holger Preuss defende aumento de custos de Londres-12 e diz que maior legado de Pequim será em imagem da China

Alemão, autoridade em megaeventos, diz que gasto é fartamente compensado por exposição gratuita de país e nova infra-estrutura

Adalberto Leister Filho

Os aumentos dos custos são estratosféricos. Os gastos atingem os bilhões. O evento dura pouco mais de duas semanas. Vale a pena investir tantos recursos na Olimpíada? Os Jogos geram boa herança às sedes?

Uma das principais autoridades sobre megaeventos esportivos, Holger Preuss, professor da Universidade de Mainz, responde sim a ambas as questões. O alemão defende os aumentos de gastos dos Jogos de Londres-12. E declara que o maior legado de Pequim-08 não serão em arenas, mas em imagem.

FOLHA - Qual é a importância, para as cidades, de receber a Olimpíada?

HOLGER PREUSS - Além do impacto econômico, vamos citar dois aspectos: significado e mudança de agentes locais. Por significado, entendo que megaeventos são mostrados no mundo todo. A sede ganha exposição gratuita. E as mudanças locais podem ser obtidas se houver obras de infra-estrutura. Isso atrai negócios que não estão diretamente relacionados aos Jogos. As cidades-sedes recebem mais turistas e congressos nos anos seguintes ao evento.

FOLHA - Mas como controlar o gigantismo dos Jogos?

PREUSS - Os problemas são políticos. São muitos os interessados na Olimpíada. Todas as federações querem que seu esporte seja olímpico e que tenham muitos atletas. Isso aumenta o número de competidores e esportes e, portanto, arenas e apartamentos na Vila Olímpica. Jacques Rogge [presidente do COI] limitou esse crescimento: 10.500 atletas e no máximo 28 esportes [hoje são 26] podem tomar parte nos Jogos. Mas as federações lutam, porque há muito dinheiro de TV envolvido. O gigantismo é fruto do interesse humano e financeiro na Olimpíada. Seu controle será uma das principais tarefas do COI no futuro.

FOLHA - Isso torna impraticável para países com menos recursos, como o Brasil, organizarem os Jogos?

PREUSS - É difícil responder. Há grandes custos e muitos cuidados a serem observados sobre se as instalações dos Jogos são sustentáveis. Por outro lado, há benefícios, como a conquista de uma nova imagem. É só examinarmos os casos [dos Jogos] de Tóquio-64, Seul-88 e Pequim-08. A indústria japonesa apareceu para o mundo, as fábricas sul-coreanas se tornaram viáveis, e a indústria chinesa será vista de outra forma. Mas, em países pobres, é preciso considerar mais os prós e contras para evitar polarização social.

FOLHA - Pequim-08 estima gastos de mais de US$ 37 bilhões...

PREUSS - Os Jogos de Pequim custarão o mesmo que os outros: cerca de US$ 2 bilhões para organizar e de US$ 1 bilhão a US$ 3 bilhões para construção e reforma de instalações. O resto são projetos que são somados ao evento, mas que provavelmente seriam feitos sem os Jogos, como o plantio de árvores, sistema de esgoto etc.

FOLHA - Como a China trabalha com a questão do legado?

PREUSS - O legado esportivo não é tão importante, para eles, em relação aos benefícios de uma imensa promoção do país. Isso deve fazer do caso chinês especial. Eles constroem símbolos para mostrar ao mundo a glória dos Jogos e da China.

FOLHA - Londres-12 anunciou vários aumentos de custo. É impossível ter uma previsão realista de gastos?

PREUSS - Sim. Há razões complexas para isso, como tempo das obras, mudança e aumento dos projetos, novidades tecnológicas, especulação etc.

FOLHA - O que o sr. acha de o Estádio Olímpico reduzir capacidade de 80 mil para 25 mil após os Jogos-12?

PREUSS - É um bom modo de assegurar um legado positivo e também de preencher os requisitos do COI, assim como ocorreu em Sydney, que reduziu o local para 30 mil assentos.

FOLHA - A arena custará 712 milhões. Não é muito cara?

PREUSS - Sim. Mas o custo com operários na Inglaterra é alto. Uma comparação é difícil. E o estádio também é um sinal de prestígio dos Jogos, seu ícone.

FOLHA - É viável manter a arena só para atletismo, como a de Londres?

PREUSS - Ela também servirá para outros eventos, como shows. E o país precisa de um estádio de atletismo. A maioria das arenas é feita para futebol.

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