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07 janeiro 2008
Fundos quantitativos
Máquinas do lucro
Por Angelo Pavini, de São Paulo
04/01/2008
A maioria dos fundos quantitativos, que usam sistemas automáticos de decisão de investimentos com base em modelos estatísticos e matemáticos, se saiu bem no ano passado. De uma amostra de 12 fundos acompanhados pelo Valor com base em dados do site Fortuna, oito conseguiram superar o CDI de 11,82% em 2007. Apesar disso, a estratégia parece não ter ainda caído nas graças dos investidores, com um resgate líquido de R$ 95 milhões, fechando dezembro com um patrimônio de R$ 630 milhões. Esse valor está concentrado em cinco carteiras - Santander Dinâmico, SLW Volatilidade, ABN Amro Quant e os dois fundos que o Itaú herdou do BankBoston, Quant IB e Expert IB. Muitas carteiras têm menos de R$ 10 milhões.
Um dos destaques do ano é a novata Vector Investimentos, cujo fundo Vector Quantitativo acumulou 16,70% no ano, o melhor desempenho da amostra. A gestora foi criada em 2006 por um grupo de ex-executivos do Garantia/Credit Suisse e do Unibanco que resolveu criar uma carteira quantitativa dentro do projeto de uma encubadora de fundos do Banque Safdié. "A idéia era receber aplicações dessa encubadora, mas o Safdié desistiu do projeto", explica Moacir Kang, sócio da Vector. Assim, o fundo acabou sendo criado com recursos dos sócios e conhecidos, acumulando R$ 3,5 milhões.
Kang - que foi responsável pela área de derivativos da Unibanco Asset Management e da tesouraria do banco - e seu sócio Marcelo Chilov tiveram sua primeira experiência com gestão quantitativa na AAA Asset Management, em 1999. O fundo quantitativo voltado para estrangeiros acabou fechando com a crise da Nasdaq. "Mas essa experiência nos ajudou a montar um dos melhores bancos de dados de cotações do mercado brasileiro, ferramenta fundamental para os modelos quantitativos", diz.
Segundo Kang, o Vector Quantitativo usa o sistema de caixa preta, onde o modelo decide o que fazer, sem interferência humana. "O gestor só entra se há algum evento corporativo, algum anúncio de uma empresa", diz. Nesse caso, normalmente a ação é retirada da carteira, que é, então, recalculada pelo modelo.
O desempenho do Santander Dinâmico, o maior da categoria, foi bastante errático ao longo de 2007, explica Alexandre Silverio, superintendente de gestão de fundos da Santander Asset Management. O fundo, que completou quatro anos em 2007 com retorno médio anual de 114% do CDI, foi razoável no primeiro semestre e ganhou bastante no segundo, chegando a acumular 125% do referencial até outubro. Em novembro e dezembro, porém, a carteira teve perdas no mercado de dólar e fechou o ano com 104,5% do CDI. "Gosto de indicar esse fundo para diversificação, pois ele não se vincula às decisões da equipe de gestão", diz Silverio. O Dinâmico fechou com uma volatilidade razoável, de 7,6% ao ano, para 12% dos multimercados mais agressivos ou 30% de um fundo de ações.
Os modelos dos fundos quantitativos tiveram de ser ajustados à nova realidade do mercado criada pela crise das hipotecas de alto risco ("subprime"), diz Aristides Jannini, diretor-executivo de Asset Management do banco WestLB. Uma das mudanças foi fazer com que os modelos trabalhassem com menor risco e volatilidade, que assustavam os investidores. "Fizemos isso evitando que os fundos 'dormissem' com posições em aberto, mesmo abrindo mão de alguns ganhos", diz. "Isso corrigia a grande falha dos fundos quantitativos, que é não detectar o fato novo, que não está no modelo", diz. O resultado foi bom para o WestLB Absolut, que terminou o ano com retorno de 15,68%. "Foi um retorno muito bom se levarmos em conta que muitos fundos multimercados tiveram perdas", diz. "Nosso trabalho neste ano, que também deve ter forte volatilidade, será reduzir ainda mais a oscilação dos modelos e mostrar para o cliente que essas aplicações devem ser vistas no longo prazo."
No começo do ano, o Principia Hedge também não foi muito bem. O período foi de "spreads" (diferenças de cotações) altos e as distorções de preços demoraram mais para se ajustar, reduzindo os ganhos dos modelos, explica Marcelo Paixão, sócio da Principia Capital Management. Mas, quando o mercado começou a cair em agosto, com liquidez, os modelos começaram a ir bem. "Nos pares de long/short (arbitragem de ações) e no mercado de volatilidade tinha muita distorção e, com a liquidez maior e 'spreads' menores, o custo de transação caiu e tivemos mais resultados", diz. Paixão lembra que, para o modelo quantitativo, não importa muito se o mercado cai ou sobe, mas que oscile bastante e tenha muita liquidez para os "spreads" não se alargarem. Para este ano, Paixão espera que mercado continue com liquidez abundante e muita volatilidade, o que deve beneficiar os modelos quantitativos. "Pode ser um quadro semelhante ao do segundo semestre do ano passado", diz.
Valor Econômico
Enviado por Ricardo Viana
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