Crise de crédito tomou viés moralista
Folha de São Paulo - 01/09/2007
DO "FINANCIAL TIMES"
A CRISE dos empréstimos imobiliários de risco, ou "subprime", nos EUA se transformou em lição de moral. Os devedores "subprime" -pessoas com históricos de crédito desfavoráveis que realizaram hipotecas de custo elevado para comprar casas que estavam além de suas posses- são apresentados como vítimas indefesas. As instituições que realizaram os empréstimos "subprime" (e os investidores que compraram os empréstimos securitizados) são caracterizados como avaros exploradores dos norte-americanos pobres. Agora, toda a turma está esperando que o governo intervenha e os salve das conseqüências da alquimia financeira que eles mesmos inventaram. Washington deveria resistir às pressões.
O presidente George W. Bush anunciou ontem algumas medidas modestas para ajudar os devedores que enfrentam necessidades verdadeiras, mas descartou uma operação de resgate em benefício das pessoas que agiram por simples cobiça (quer se trate dos devedores, quer dos credores). Infelizmente, o Congresso provavelmente não vai parar por aí. Milhões de norte-americanos talvez ainda estejam a ponto de perder suas casas, e outros milhões perderão dinheiro no mercado. É o tipo de crise em que os políticos não conseguem resistir a interferir.
Os candidatos à Presidência estão divulgando suas próprias soluções. Barack Obama planeja um fundo financiado por multas sobre empréstimos "irresponsáveis" (o que quer que isso queira dizer). O Comitê de Serviços Financeiros da Câmara realizará audiências na semana que vem, e isso poderá resultar em novas leis. O presidente do comitê, o democrata Barney Frank, deixou claro que ele acredita que a crise do crédito "subprime" prova que falta regulamentação nos mercados financeiros dos EUA. Ele favorece toda sorte de proposta, de novas normas de subscrição à instauração do direito de processo contra todos os envolvidos.
O resultado pode ter uma nova e sufocante teia de regras e responsabilidades jurídicas que sufocará empréstimos às pessoas para as quais o crédito "subprime" foi originalmente criado: aquelas que necessitam de uma morada modesta, mas não conseguem obter hipoteca normal devido a problemas de crédito. Isso seria uma vergonha. O Congresso deveria se precaver para não reagir de maneira exagerada.
Muito pode ser feito para salvar os norte-americanos de sua irresponsabilidade: os empréstimos hipotecários podem ser mais transparentes, de modo que os devedores saibam o quanto realmente devem. Os devedores podem ser informados de maneira mais completa, para que sejam capazes de escolher bem suas hipotecas.
Mas, se o Congresso impuser risco demais de litígio, o financiamento hipotecário para os devedores abaixo do padrão simplesmente desaparecerá. Não faz sentido acrescentar custos judiciais pesados a um problema que já é muito dispendioso. O mercado aprendeu sua lição: não emprestar a pessoas que não podem pagar. É difícil ver como os legisladores poderiam ensinar algo melhor.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
05 setembro 2007
Crise imobiliária nos Estados Unidos
Um artigo interessante sobre a crise do crédito nos Estados Unidos:
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