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30 agosto 2007

Petrobrás e PDVSA

Duas reportagens distintas mostram como estas duas empresas são diferentes. Na Gazeta Mercantil destaca-se o uso da empresa de petróleo da Venezuela para fins políticos. Basicamente a empresa está deixando de alocar recursos na área produtiva e destinando dinheiro para uma parte da população venezuelana (políticas sociais do governo Chavez) e de outros países.

Já o Wall Street Journal (Beyond 'Petrosaurus': How a Sleepy Oil Giant Became a World Player --- Petrobras Taps Well Of Brazilian Talent; Inspired by Tadpoles, de Matt Moffett, 30/08/2007), numa extensa reportagem, faz uma análise da Petrobrás, no passado conhecida como Petrosaurus. O texto não deixa de fazer comparações, inclusive com a PDVSA.

O artigo é bastante positivo para a empresa e encontra-se, em português, a seguir:


Petrobras passa de gigante adormecida a potência mundial
August 30, 2007 4:05 a.m.

Por Matt Moffett
The Wall Street Journal

Há dez anos, a Petrobras era tão lenta em comparação com as concorrentes que ganhou um apelido: Petrossauro.

Seus funcionários eram 25% menos produtivos que a média do setor, e o Brasil dependia de importações para quase metade do petróleo que consumia. O conselho de administração da Petrobras só tinha veteranos da própria empresa.

Atualmente, a Petróleo Brasileiro SA tem mais reservas do que a Chevron Corp., custos menores para encontrar petróleo que a Exxon Mobil Corp. e está listada na Bolsa de Nova York — com um valor de mercado de cerca de US$ 130 bilhões.

É uma história de sucesso rara entre as petrolíferas estatais, que cumprem um papel cada vez mais importante num mundo faminto por energia. Três quartos das reservas mundiais estão nas mãos de petrolíferas estatais, segundo a Agência Internacional de Energia. James Mulva, o presidente do conselho da americana ConocoPhillips, disse recentemente que as grandes multinacionais petrolíferas de capital aberto têm acesso direto a apenas 5% das reservas mundiais, com outros 30% teoricamente disponíveis através de joint ventures.

A maioria das petrolíferas estatais é muito menos eficiente no desenvolvimento de suas reservas do que a Petrobras. A produção da gigante Petróleos de Venezuela SA, a PDVSA, caiu um quarto desde que Hugo Chávez assumiu a presidência do país, em 1999, e começou a sugar os cofres da empresa para financiar programas sociais. A Indonésia, cuja petrolífera estatal tem um histórico de corrupção e clientelismo, recentemente passou de exportadora para importadora líquida de petróleo.

"Se pelo menos nossos amigos na Opep fossem mais como a Petrobras, estaríamos muito mais felizes, porque haveria muito mais petróleo", diz Leo Drollas, economista-chefe do Centro para Estudos Globais de Energia, de Londres.

Uma das chaves para o sucesso da Petrobras é a tecnologia. A mais de 100 km para dentro do Oceano Atlântico, uma plataforma flutuante do tamanho de um prédio de dez andares, a P-37, é uma amostra do avanço tecnológico da empresa em águas profundas. Cerca de um em cada três poços novos perfurados pela Petrobras nessa área, a Bacia de Campos, resultou em descobertas viáveis, uma porcentagem extraordinária para os padrões da indústria.

Desde a sua fundação, nos anos 50, a Petrobras tem atraído brasileiros talentosos, muitos motivados pelo patriotismo de trabalhar numa empresa que simboliza o nacionalismo brasileiro. O que mudou desde os anos 90 é a estrutura corporativa. Para incentivar a Petrobras a ser mais aberta e transparente, o governo formou um conselho independente e passou a negociar as ações da empresa em Nova York. Ele também aboliu o monopólio da Petrobras na perfuração de petróleo em território brasileiro.

A entrada de empresas estrangeiras aumentou as pressões por competitividade e ajudou a acelerar uma revolução de produtividade dentro da Petrobras. Nos últimos dez anos, a empresa dobrou a produção de petróleo, aumentou suas reservas em cerca de 50% e expandiu-se internacionalmente, da Argentina à Índia. Os sucessos da Petrobras, além do programa nacional de uso do álcool combustível, ajudaram o Brasil a se tornar auto-suficiente em petróleo.

A Petrobras "aprendeu nos últimos dez anos a pensar por si mesma como uma empresa internacional de petróleo, mas ainda reteve a força e as vantagens de uma empresa nacional", diz Richard D. Taylor, presidente das operações brasileiras da petrolífera britânica BP PLC.

Outros países produtores de petróleo estão prestando atenção. Delegações de vários países, como México, Nigéria e Peru, foram ao Rio de Janeiro para estudar o modelo do setor petrolífero brasileiro, diz Haroldo Lima, diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

Algumas petrolíferas vêm buscando criar joint ventures com a Petrobras, atraídas pelo acesso às reservas brasileiras e pela tecnologia da Petrobras. Entre elas está a estatal norueguesa Statoil ASA, que também é conhecida por sua eficiência. A Statoil está estudando as técnicas da Petrobras para instalar cabeças de poço no fundo do mar, ao mesmo tempo em que fornece à Petrobras conhecimentos técnicos sobre a extensão da vida útil de campos já maduros. O rei Harald V da Noruega visitou o Rio em 2003 para formalizar um acordo com o Brasil.

Enquanto isso, a Petrobras se expandiu no exterior e hoje atua em 27 países, mais do que o dobro do número onde atuava dez anos atrás. Recentemente, ela se tornou a primeira petrolífera a obter aprovação das autoridades americanas para instalar uma plataforma flutuante no Golfo do México. Se um furacão surgir na área, os operários podem desconectar a plataforma do poço, permitindo que ela saia do caminho da tormenta.

Mesmo com todo o sucesso da empresa, alguns analistas brasileiros reclamam que os políticos estão interferindo na fórmula vitoriosa da Petrobras. Boa parte da base para a transformação da empresa foi estabelecida durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, que deixou a presidência no início de 2003. Seu sucessor e rival de longa data, Luiz Inácio Lula da Silva, enfrentou críticas por injetar um pouco de política na administração da empresa. Sob o comando de Lula, a Petrobras às vezes perdeu receita quando não repassou imediatamente aos consumidores finais os aumentos internacionais em produtos essenciais e politicamente sensíveis como gasolina, gás de cozinha e óleo diesel.

Mais controversa ainda é a medida tomada por Lula de fazer com que a Petrobras compre mais equipamentos fabricados no Brasil, que segundo ele estimulará a indústria nacional. Depois que algumas plataformas feitas no Brasil estouraram o orçamento, alguns analistas criticaram essa política.

José Sérgio Gabrielli, que é presidente da Petrobras desde julho de 2005, diz que as críticas não procedem. Ele diz que os custos extras das plataformas resultaram do aumento do preço do aço e da valorização do real em relação ao dólar. Em relação à política de preços, a Petrobras diz que está somente tentando suavizar flutuações dramáticas. Gabrielli diz que os críticos deviam se concentrar nos lucros recordes da empresa, no forte desempenho de sua ação, e no melhor histórico ambiental da empresa.

Funcionários da Petrobras argumentam que a dupla identidade da empresa — parte a personalização do nacionalismo brasileiro, parte uma empresa de crescimento aos olhos de Wall Street — é um patrimônio. "Nos vemos como tendo o melhor dos dois mundos", diz o diretor financeiro, Almir Guilherme Barbassa.

A empresa consegue atrair algumas das melhores cabeças do país, tanto em seus vastos laboratórios de pesquisa quanto em suas parcerias com universidades brasileiras.

Nos últimos anos, a Petrobras vem fechando parcerias com universidades num ritmo de uma por dia útil. Um projeto de parceria custeado pelos royalties da Petrobras é uma gigantesca caixa d'água na Universidade Federal do Rio de Janeiro. A caixa, ligeiramente maior que um campo de tênis, e com profundidade de 15 metros, faz a simulação de ventos e ondas encontradas em mar aberto, e ajuda a projetar plataformas mais seguras.

Ney Robinson Salvi dos Reis, um engenheiro do laboratório da própria Petrobras, tem várias patentes de robótica creditadas a ele. Um robô cilíndrico que ele projetou limpa o lodo de oleodutos marítimos. Ele se inspirou para fazê-lo estudando o movimento do nado dos girinos.

A última invenção de Reis se parece com algo saído de "Guerra nas Estrelas": um cockpit de vidro montado num bugue com grandes rodas de fibra de vidro. Esse "robô ambiental", com uma câmara montada no cockpit, consegue rodar sobre a terra e flutuar nos rios para monitorar o impacto de um gasoduto da Petrobras na Amazônia.

Com mais de 80% do petróleo brasileiro em áreas marítimas, a Petrobras começou a adaptar plataformas terrestres para condições marítimas e a utilizar equipes de mergulhadores para fazer o perigoso trabalho de mantê-las. Quando atingiu profundidades abaixo dos 300 metros, a Petrobras construiu robôs para fazer a manutenção submarina.

A Petrobras foi criada em 1953 em meio à campanha nacionalista "O petróleo é nosso!", um slogan um tanto retórico, já que à época o Brasil produzia somente 2.700 barris por dia. Ao contrário de muitas estatais, que nasceram sem reservas ou as nacionalizaram, "nosso objetivo era descobrir reservas", diz Gabrielli.

Apesar da competência técnica da empresa, sua administração era provinciana e algumas vezes enfraquecida por indicações políticas. Seu conselho tinha executivos do alto escalão da Petrobras, e o monopólio da empresa em território brasileiro a liberava da necessidade da aumentar a eficiência. Sua divisão de trading internacional se ocupava com a venda de sapatos e lagostas.

Nos anos 80 e em parte dos 90, o governo artificialmente conteve os preços da gasolina e de outros produtos da Petrobras para tentar conter a inflação galopante que assolava o Brasil. A política acabou com o capital de investimentos da empresa. Enquanto outras petrolíferas enchiam os cofres durante a alta do petróleo em meio à Guerra do Golfo em 1991, a Petrobras entrou no vermelho porque vendia petróleo importado e caro abaixo do preço de custo.

Quando assumiu a presidência em 1995, Fernando Henrique diz que a Petrobras estava num estado de "confusão total". Sabendo que ele queria mudar completamente a empresa, o poderoso sindicato dos petroleiros o desafiou com uma greve nacional em 1995. Mas o tiro saiu pela culatra. Com a escassez de gás de cozinha e longas filas nos postos de gasolina, a opinião pública ficou contra a movimento.

Fernando Henrique chamou sua política para a Petrobras de "flexibilização". Ele não queria privatizá-la totalmente, mas usou a força do mercado, como a venda de mais ações ao público e a concorrência estrangeira, para fazer com que a Petrobras se comportasse mais como uma empresa privada.

Em 1999, o governo começou a permitir que petrolíferas estrangeiras competissem com a Petrobras nos leilões de blocos marítimos. Para preparar a empresa para a concorrência, Fernando Henrique indicou o banqueiro de investimentos Henri Philippe Reichstul para ocupar a sua presidência. Ele acabou com os acordos que favoreciam os fornecedores, iniciou um sistema de bônus por desempenho para os diretores e limpou a contabilidade ao reconhecer bilhões de dólares em gastos com aposentadoria e plano de saúde dos funcionários.

No ano seguinte, o governo vendeu 16% da Petrobras por US$ 4 bilhões na Bovespa e na Bolsa de Nova York. Embora as ações da Petrobras já fossem negociadas em nível local, a listagem em Nova York "teve um grande impacto na governança", diz Gabrielli. "Ela força a transparência. Ela força a divulgação de dados".

A Petrobras adotou padrões americanos de contabilidade e passou a viver sob a vigilância de 50 analistas de Wall Street que acompanham as ações da empresa, que estão entre as ADRs mais negociadas na Bolsa de Nova York. O governo federal mantém a maioria do capital votante, mas cerca de 60% das ações agora estão nas mãos de acionistas privados.

O governo FHC também criou o primeiro conselho de administração independente na história da empresa. Até mesmo os críticos de Lula o elogiam por incrementar o conselho da petrolífera com quatro executivos peso pesado do mundo empresarial brasileiro. Entre eles está Roger Agnelli, diretor-presidente da Companhia Vale do Rio Doce, e Jorge Gerdau, que comanda o Grupo Gerdau SA.

A chegada da concorrência estrangeira teve um impacto psicológico enorme na Petrobras. Mas as petrolíferas internacionais encontraram grandes dificuldades para operar com as rígidas leis trabalhistas e ambientais brasileiras. Em vez de concorrer com a Petrobras em exploração e produção, muitas empresas internacionais, como a Royal Dutch Shell PLC e a Repsol YPF da Espanha, criaram joint ventures com ela. A americana Devon Energy tornou-se recentemente a primeira estrangeira a produzir petróleo no Brasil sem a ajuda da Petrobras.

Um comentário:

  1. Pena que de 2007 pra cá, muita coisa mudou pra pior ou será que foi revelada a verdadeira situação da empresa hoje?

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