Reproduzo o artigo de Ciro Torres (co-autor do livro que organizei, Balanço Social):
O futuro do balanço social
Gazeta Mercantil - 09/08/2007
9 de Agosto de 2007 - Há dez anos surgia a primeira versão da mais conhecida ferramenta de gestão e divulgação de ações sociais e ambientais realizadas por empresas no Brasil. Em 1997, o sociólogo Herbert de Souza (o Betinho, um dos fundadores do Ibase, cujo décimo aniversário de morte ocorre hoje) lançou a idéia de as empresas utilizarem um modelo simplificado de Balanço Social para diferenciarem-se e prestarem contas de suas ações à sociedade. Por conta da facilidade de aplicação e precisão, tornou-se uma ferramenta amplamente utilizada no mundo corporativo.
A discussão sobre ética e a transparência nas empresas brasileiras ganhou corpo no contexto do movimento pela ética na política (que culminou com o impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992) e durante os desdobramentos da Campanha contra a Fome, de 1993. O debate sobre o balanço social, que havia se iniciado no País, embora timidamente, em finais dos anos 1970, ganha um alcance nacional a partir da iniciativa de Betinho - e a sugestão (acompanhada por seu esforço de divulgação) de se utilizar um modelo único como ferramenta concreta para avaliar as práticas efetivas de transparência. Tratava-se de um instrumento desenvolvido para as empresas se planejarem e prestarem contas publicamente - divulgado em revistas e jornais de negócios, como a própria Gazeta Mercantil - tornando público dados e indicadores anuais. Informações que tradicionalmente não apareciam nas discussões dentro do universo e das publicações empresariais, como por exemplo as relativas à diversidade de gênero e raça, começaram a vir a público. Estas e outras discussões entraram na pauta de empresas, governos e sociedade - algumas delas jamais feitas antes com tanta visibilidade e informações qualificadas.
Os avanços no período foram muitos. O próprio modelo começou bem menor e mais tímido do que o atual. Os questionamentos, as perguntas e indicadores socioambientais foram evoluindo no próprio processo, com a participação de diversas instituições e empresas. No início desta longa jornada, apenas 9 empresas aderiram ao modelo de balanço social proposto pelo Ibase. Atualmente, 330 grandes empresas que atuam no Brasil já utilizam esta ferramenta, que por sua simplicidade e baixo custo de realização, muitas vezes é publicada em conjunto com outros instrumentos de gestão do social e do ambiental.
Todavia, o discurso evoluiu mais rápido do que a prática e agora se faz necessário que as empresas comecem a analisar com mais profundidade o conteúdo de seus balanços sociais - e não se contentem apenas em preenchê-los. Uma leitura dos balanços ao longo dos anos pode indicar o grau de evolução (ou não) das ações sociais e ambientais. Um exemplo concreto de como isto é necessário, é a pouca inclusão das pessoas portadoras de deficiência nos quadros das empresas, já que a grande maioria não cumpre as cotas mínimas. É necessário também superar o receio de tornar públicos os impactos negativos, em especial os passivos sociais e ambientais.
Mas a transparência propiciada pelo Balanço Social não é algo que interessa apenas ao mundo corporativo, muito pelo contrário. O Estado e a sociedade civil organizada precisam fazer mais, por exemplo na regulação, apoio e cobrança por uma efetiva mudança nas práticas empresariais. A sociedade, reunida em movimentos, ONGs e sindicatos, deve estar atenta e monitorar o ritmo destas mudanças - elogiando, criticando ou denunciando, quando for o caso. E as empresas ainda têm que colocar os seus discursos em prática, se preocupando, de fato, com os impactos gerados pelos bens, produtos e serviços disponibilizados, recolocando, antes de tudo, as pessoas e a vida em primeiro lugar.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Ciro Torres - Cientista político e coordenador de Responsabilidade Social e Ética nas Organizações do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).)
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