A brincadeira vira negócio sério
ONG Os Doutores da Alegria, que atendem crianças em hospitais, montam estrutura profissional de gestão
Pedro Henrique França
O Estado de São Paulo - 11/07/2007
A organização não-governamental Doutores da Alegria encontrou motivos de sobra para comemorações este ano, quando completa 16 anos de atividade. Reconhecida nacionalmente, a ONG atingirá no próximo mês a marca de quase meio milhão de crianças visitadas e chegará a hospitais de Belo Horizonte. O projeto, iniciado em São Paulo, já foi implantado em hospitais do Rio e Recife. Além disto, a ONG abriu um segmento inédito de patrocínio, chamado investidor nacional. Essa cota de patrocínio, de R$ 1,2 milhão, encontra-se em fase de negociação: quem bater o martelo e adquiri-la terá sua logomarca estampada nas costas dos jalecos de todos os palhaços, em todas as unidades.
Isso porque os Doutores não sobrevivem apenas de voluntariado. Hoje, a ONG capta recursos principalmente por meio de incentivo fiscal. Para este ano, o orçamento é de R$ 5,6 milhões. "Deste montante, 60% devem vir mediante o incentivo da Lei Rouanet. Os outros 40% vem de recursos próprios, captados de pessoas e empresas que não se utilizam da lei de incentivo", afirma o diretor-executivo Luis Vieira da Rocha.
Os patrocínios são divididos em cotas. O investidor nacional, participação que estréia este ano, deverá destinar R$ 1,2 milhão. Sua logomarca aparecerá em um dos ombros dos jalecos e nas costas dos atores-palhaços (ou "besteirólogos", como denominados pela instituição). Há ainda o patrocinador nacional, que aloca R$ 800 mil e tem sua logomarca estampada em apenas um dos ombros. Já os patrocinadores regionais aportam investimentos de R$ 300 mil, e tem marcas divulgadas nas unidades estaduais. Parceira há cinco anos e patrocinadora nacional de 2007, a indústria farmacêutica Janssen-Cilag aposta no impacto de imagem social do programa como retorno de investimento. "Encontramos no Doutores uma sinergia muito grande", diz a executiva de marketing da Janssen-Cilag, Gisela Dante. Como grande parte dos 60% do orçamento é captada no final do exercício do ano anterior, quando as empresas apuram seus lucros anuais, os esforços no decorrer do ano se voltam para arrecadação dos outros 40%. Um exemplo é a parceria anual firmada com o Santander Banespa. De outubro a dezembro, o banco lança o título de capitalização de final de ano, em que 1% da arrecadação das vendas é destinada à ONG. "O consumidor sabe que optando por aquele produto ele estará beneficiando uma causa social", afirma o diretor dos Doutores. Inicialmente formado com grupos pequenos de voluntários e doações isoladas, a instituição cresceu, adotou centros internos de estratégias, profissionalizou a equipe, com remuneração e registro em carteira, e se adequou a uma nova realidade. Como diz o lema adotado pela própria instituição, eles representam "o engraçado que é sério". "Esta foi uma assinatura que desenvolvemos para dar respostas às percepções que a sociedade tem deste trabalho. É engraçado mas é sério, porque tem pesquisa, formação e desenvolvimento contínuo", enfatiza Vieira da Rocha.
DESENVOLVIMENTO
A estrutura executiva da ONG foi implantada em 2006, com um organograma a exemplo de grandes corporações, ou "oréganograma", como denominam,usando a linguagem de palhaços. A diretora artística Thaís Ferrara está na ONG desde 1993. "Política de remuneração, estruturação de cargos e definições claras de funções ocorreram de 2004 para cá." Segundo ela, um estagiário recebe por volta de R$ 86 diários, enquanto um palhaço profissional sem formação de hospital ganha R$ 108. Com a formação deste palhaço, ele passa a receber R$ 200. Cada palhaço trabalha cerca de três dias por semana, o que dá por volta de R$ 2.000 ao mês. Para 2007, a meta dos Doutores é implantar uma rede de cooperação de palhaços nos hospitais de outros Estados. Segundo Vieira da Rocha, anualmente a ONG presta contas ao Ministério da Cultura, em um evento. Para este ano, estão programados espetáculos no Sesc Pompéia, em São Paulo. Tudo para mostrar que o riso existe, mas é profissional.
13 julho 2007
A brincadeira vira negócio sério
Do Estadão de 11/07/07:
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