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18 julho 2007

Bovespa

Os avanços da bovespa
Gazeta Mercantil - 18/07/2007

18 de Julho de 2007 - A Bovespa tem sido um dos grandes destaques mundiais em termos de captação de recursos através de oferta de ações.

Entre os países emergentes, a Bovespa figura em terceiro lugar, perdendo apenas para as bolsas de Hong Kong e de Xangai, o que apenas reflete o tamanho e o crescimento da China, mas de qualquer forma a Bovespa ainda supera com folga - principalmente quando analisamos apenas as novas companhias vindo a mercado - as bolsas que vêm em seguida na lista, como as bolsas da África do Sul, da Índia, de Istambul, de Teerã e da Coréia.

Mesmo incluindo-se os desenvolvidos, a posição da Bovespa é de destaque mundial. Figurando na sétima posição, a Bovespa está atrás apenas das duas bolsas chinesas, da bolsa da Espanha, do Canadá, da Austrália e das mais tradicionais bolsas do mundo: a de Londres e a de Nova York (Nyse). Se considerássemos apenas as novas companhias vindo a mercado, a Bovespa ainda estaria na frente das bolsas da Espanha e do Canadá, ficando muito próxima da australiana, perdendo ainda apenas para as mais tradicionais americanas (nesse caso, incluiria a Nasdaq) e londrina e para as chinesas.

Desses dados podemos chegar a algumas conclusões. Primeiro, que a Bovespa efetivamente vive um momento um tanto excepcional, em parte como resultado de mais de uma década de oferta reprimida, quando nenhuma nova companhia conseguiu emitir ações no Brasil.

Por outro lado, há também uma conjuntura internacional muito positiva, bastante líquida, e que os países emergentes têm conseguido tirar proveito disso, particularmente a China, o Brasil, a Índia e a África do Sul. Este último quase não aparece nos destaques da mídia, mas além de ter tido um volume relevante de captações também está entre as principais bolsas de países emergentes, com tamanho apenas um pouco menor que a Bovespa. Na verdade, é uma bolsa que é um bom benchmark de comparação para a Bovespa.

Finalmente, esses dados também dizem muito sobre a sustentabilidade do movimento de aberturas de capital. Apesar de o atual ritmo ser acima do esperado, os dados mostram que outras bolsas de países emergentes de destaque também têm conseguido captar recursos consistentemente e que a Bovespa tem total condição de continuar sendo uma alternativa viável de captação de recursos.

Por outro lado, fica a questão de qual vai ser o futuro da Bovespa. Entre os mercados mais avançados, vê-se uma tendência crescente de consolidação, seja a verificada no passado recente entre algumas bolsas européias (e ainda há espaço para mais), seja a aliança entre a Nyse e a Euronext ou a compra da Nasdaq de participação na Bolsa de Londres ou da bolsa sueca, além, claro, da recente fusão de CBOT e CME formando a maior bolsa do mundo - de commodities e futuros nesse caso.

Naturalmente, o papel que se espera natural da Bovespa é o de consolidadora do mercado de capitais da América Latina. O primeiro desafio seria a barreira da língua, uma vez que, operando totalmente em português, fica muito mais complexa a integração com bolsas onde os participantes falam espanhol - nesse sentido, por exemplo, a bolsa do México levaria uma vantagem sobre nós.

Ao mesmo tempo, ainda que a Bovespa consiga desempenhar esse papel de consolidação, a soma de todas as bolsas latino-americanas excetuando-se a mexicana não representa cerca de 30% da capitalização de mercado atual da Bovespa, o que não faria com que ela saltasse de patamar. Ao mesmo tempo, a do México, que representa pouco menos da metade da Bovespa, tenderia mais facilmente para as bolsas americanas que para a nossa.

Representando a décima-sétima posição entre as capitalizações de mercado das companhias listadas e a vigésima-primeira entre as médias diárias de negociação, parece hoje improvável que a Bovespa desapareça, até pela facilidade de transação, mas é de se esperar que ela acabe se juntando a um grupo de bolsas estrangeiras, seja através de parcerias operacionais ou através de uma eventual venda de participação.

Enquanto isso, a Bovespa tem cumprido com excelência o seu papel de viabilizar as aberturas de capital no Brasil, crescendo organicamente e aproveitando o boom brasileiro e buscando viabilizar novas opções para atrair mais companhias e investidores, como o Bovespa Mais e o próprio Novo Mercado.

Diz-se que a própria Bovespa pretende abrir o capital, talvez então a gente descubra que ela já tem um plano para responder essas questões.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Márcio Veríssimo - Consultor)

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