Quer suceder a Buffett? Entre na fila
30/04/2007 - Por Karen Richardson - The Wall Street Journal
OMAHA, EUA — No mês passado, Warren Buffett publicou o anúncio dos anúncios de emprego: procuram-se candidatos a substituí-lo como diretor de investimentos da Berkshire Hathaway Inc.
Agora, os currículos estão chegando às pencas à sede da empresa, nesta cidade do Estado do Nebraska. E o processo está se mostrando tão pouco convencional quanto o próprio bilionário investidor. Entre os 600 e tantos candidatos até agora há um especialista em direito talmúdico que seleciona ações a partir de casa, um economista canadense que pratica ioga intensamente e até um menino de quatro anos.
"No final, vamos fazer isso como um American Idol" (a versão americana de Ídolos), brincou Buffett numa entrevista ao Wall Street Journal em seu modesto escritório, decorado com artigos de beisebol e fotos de velhos amigos. Num domingo recente, o investidor, de 76 anos, foi depois do almoço à Berkshire para ler relatórios anuais e abrir a correspondência, parte da qual foi destinada a uma pequena caixa em sua mesa etiquetada como "MUITO DIFÍCIL".
Apesar de todas as brincadeiras de Buffett, esta é uma busca importante, tanto para sua empresa, que tem um valor de mercado de US$ 168 bilhões, quanto para sua legião de admiradores. Durante décadas, as decisões financeiras de Buffett foram tema de conjecturas, análises e imitação. Por isso, ainda que Buffett diga estar em "excelente saúde" e não tenha planos de se aposentar em breve, a nomeação de um sucessor para a direção de investimentos indica para muitos o fim de uma era e um passo num território inexplorado.
Não será fácil ocupar o lugar de Buffett. Graças principalmente a sua lendária capacidade de selecionar ações, o "Oráculo de Omaha" é hoje o segundo homem mais rico do mundo, superado apenas por Bill Gates, da Microsoft Corp. Um investimento de US$ 1.000 em ações classe A da Berkshire Hathaway em 1965, depois que Buffett assumiu o controle, vale mais de US$ 7 milhões hoje.
É preciso ter "um temperamento peculiar" para ser um investidor que consistentemente busca oportunidades longe da multidão, diz Charlie Munger, 83 anos, o vice-presidente do conselho da Berkshire. Buffett diz que Munger, a quem conhece há mais de 40 anos, seria a "pessoa ideal" para o cargo — se ele fosse 30 anos mais jovem.
Em sua carta anual aos acionistas da Berkshire, de 1o de março, Buffett descreveu as virtudes que busca, como "capacidade de pensar de maneira independente, estabilidade emocional e um profundo conhecimento do comportamento humano e institucional".
Casa em ordem
Desde 1965, Buffett tem ocupado as funções de diretor de investimentos e diretor-presidente da Berkshire, sua holding. No momento, ele administra a maior parte da carteira de cerca de US$ 120 bilhões em ações, títulos de renda fixa e derivativos, que inclui participações em empresas como Coca-Cola Co. e American Express Co. A Berkshire também é dona diretamente de uma série de empresas, entre elas a empresa de laticínios International Dairy Queen Inc., a seguradora Geico, a distribuidora de energia MidAmerican Energy Holdings Co. e a resseguradora General Re.
O novo diretor de investimentos vai se concentrar em aplicações de carteira e deixar as grandes decisões para o sucessor de Buffett na presidência executiva. Em março de 2006, Buffett anunciou que o conselho havia identificado três candidatos para o cargo de diretor-presidente. Essas pessoas, cujos nomes não foram divulgados, foram escolhidas entre as dezenas de diretores que supervisionam as subsidiárias da Berkshire.
A busca de sucessores parece refletir um esforço maior do patriarca de pôr sua casa em ordem. Em junho, Buffett comprometeu 85% de sua participação na Berkshire, ou US$ 44 bilhões pela cotação atual, à Fundação Bill & Melinda Gates e a quatro organizações de caridade menores. Ele disse que deixaria o resto de seu dinheiro para caridade. Em agosto passado, ele voltou a se casar no dia de seu aniversário.
Buffett terá pouco para julgar os candidatos além das próprias palavras e históricos de investimento deles — e de seu instinto em relação a eles. Buffett diz ter confiança de que encontrará um ou talvez dois bons candidatos. Famoso por comprar empresas depois de curtas reuniões com os donos, Buffett se orgulha de ser capaz de entender rapidamente os outros. Apontando para três pilhas de pastas laminadas, notas rabiscadas e envelopes coloridos que carregam as esperanças de centenas de candidatos, ele diz: "Há um ali."
Com a ajuda de Munger, Buffett vai reduzir os atuais candidatos a umas 20 "possibilidades reais", diz ele, acrescentando que começará a ler as cartas para valer depois da assembléia geral ordinária da Berkshire, no próximo fim de semana. Desses 20, ele vai solicitar registros de investimento pessoal de pelo menos dez anos. Aí, depois de determinar se "o comportamento geral em relação à compra e venda de valores mobiliários é compatível" com a Berkshire, ele preencherá a vaga com uma ou duas pessoas. Ele planeja dar-lhes até US$ 10 bilhões para administrar até que seja a hora de assumirem a carteira toda. A idéia é pagar à pessoa uma certa porcentagem — 10%, digamos — de seu desempenho acima do índice S&P 500 em médias móveis de cinco anos.
Buffett diz que este não será um programa no qual ele vai servir de mentor. Ele diz que não está procurando alguém para ensinar, mas "alguém que já saiba como fazê-lo".
Muitos candidatos parecem não ter entendido isso. Há dezenas de cartas de estudantes, investidores profissionais e um surpreendente número de engenheiros e advogados que gostariam de ser aprendizes do mestre. "Eu lhe garanto", escreveu um estudante universitário de 20 anos, "que embora eu tenha pouca experiência, tenho muito potencial." Um advogado do Oregon recomendou seu filho de quatro anos, caracterizando-o como um "grande negociador" em questões de "tempo para dormir, mesadas, banhos etc".
Recrutadores de executivos são céticos em relação à busca de Buffett. Alguns dizem que sua exigência de ver os registros de investimento pessoal dos candidatos pode repelir os que prefeririam ser julgados pelo histórico de seus investimentos profissionais.
Mente promíscua
De fato, alguns dos nomes mais conhecidos do mundo da administração de recursos que expressaram publicamente admiração por Buffett estão ausentes nas cartas recebidas pela Berkshire.
Buffett reconhece que algumas pessoas, particularmente as que o conhecem pessoalmente, são tímidas demais ou ficam constrangidas em se candidatar. Ele diz que pode acabar procurando algumas delas.
Muitos outros, porém, levantaram as mãos. Quase todos alegam ter gostos modestos e vidas simples, espelhando a de Buffett. E, como ele, orgulham-se de não serem convencionais, ainda que sob o risco de parecerem idiossincráticos.
É o caso de Joseph Weiss, 40 anos, administrador de um fundo de ações de US$ 7 milhões que trabalha principalmente no porão de sua casa em Brooklyn, Nova York. "Trago uma mente de certa maneira virgem, ainda que silenciosamente promíscua", escreveu ele em sua carta. Ele se referia à falta de uma educação universitária convencional, algo que Buffett diz não o impressionar e não ser um requerimento para o cargo de diretor de investimento.
Em vez disso, Weiss tem dois diplomas no estudo do Talmud, os antigos textos hebraicos sobre as leis de Moisés. Weiss diz que sua educação talmúdica o ajuda a "conceitualizar e organizar as coisas".
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30 abril 2007
Procura-se um sucessor
O Wall Street Journal traz uma reportagem muito interessante sobre Warren Buffett e a busca de um sucessor. Apesar do conhecimento do Buffett em selecionar investimentos (clique aqui), existem dúvidas sobre o seu sucesso naquela que talvez seja a sua mais importante decisão de investimento.
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