Obras
A gastança do Pan. O orçamento disparou. Empregados pararam. Obras atrasam e os jogos chegam em meio à crise
Por FRANCISCO ALVES FILHO
Calcular o custo de um evento monumental como os Jogos Pan-Americanos é desafio tão grande que em suas 15 edições virou tradição refazer as contas ao longo das obras. O caso do Pan do Rio, no entanto, ultrapassa as mais generosas margens de erro. Orçada inicialmente em R$ 386 milhões, a competição pode chegar a R$ 5 bilhões. Ou seja, 13 vezes mais. Só a injeção de dinheiro público será oito vezes maior que a prevista inicialmente (R$ 3,2 bilhões). Um escândalo? “É assustador”, reconhece a deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA), que integra a comissão de Turismo e Desporto da Câmara. Os parlamentares vão instalar uma comissão que investigará a gastança. Na quarta-feira 7, o presidente Lula manteve o ritmo de esbanjamento e, pouco antes de bater três pênaltis em pleno Maracanã contra a baliza do governador fluminense Sérgio Cabral, liberou mais R$ 100 milhões. No mesmo dia, um relatório do TCU questionava o atraso nas obras da Vila Pan-Americana e do Complexo Desportivo de Deodoro, que poderá encarecer ainda mais o evento. O ministro do Esporte, Orlando Silva Jr. disse que irá ao tribunal prestar esclarecimentos.
O prefeito Cesar Maia acha tudo normal. “Não houve erro de cálculo”, disse a ISTOÉ. Segundo Maia, o valor divulgado inicialmente resultou apenas do “preenchimento das perguntas feitas” no questionário da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa). De todas as obras, a mais cara é o estádio João Havelange: somente ali já foram gastos R$ 380 milhões, quase o mesmo que o orçamento inicial de todo o Pan. Além do alto custo, o estádio, também conhecido como Engenhão, tem outro problema. No dia 3, os operários que trabalham na obra fizeram paralisação contra as péssimas condições de trabalho – no fim do ano passado, um operário morreu ao despencar de um andaime. Apesar disso, há poucas semanas o prefeito do Rio liberou, sem licitação, mais R$ 80 milhões para o consórcio que constrói o estádio. Maia explica que R$ 60 milhões foram transferidos de uma empreiteira para outra. Os outros R$ 20 milhões foram para “reforço de solda em função do ocorrido com o metrô de São Paulo”.
O vereador carioca Stepan Nercessian (PPS) já apostava no descontrole do orçamento do Pan. “Primeiro, as obras ficam atrasadas. Depois, gastam-se rios de dinheiro sob o argumento de que as instalações têm que ficar prontas a qualquer custo”, diz ele. O vereador estranha a inversão da parceria entre governo e iniciativa privada: “Em todo o mundo, as empresas gastam um bom dinheiro para criar novas instalações, que depois se tornarão públicas. Aqui, a iniciativa privada ganhou a exploração de locais públicos que já existiam, como o Riocentro e a Marina da Glória, e o governo é que fez o maior desembolso para criar instalações novas como o Engenhão, por exemplo.” A deputada Lídice da Mata espera que a comissão da Câmara Federal identifique os responsáveis por tanta diferença entre o orçamento original e os gastos efetivos. “Vamos fazer uma apuração rigorosa”, adianta.
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17 março 2007
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