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23 novembro 2006

Preço da ação e conflito 02


Outra reportagem, agora do Valor Econômico de 21/11/2006, sobre mesmo assunto:

Custo dos conflitos Por Catherine Vieira
Os analistas sempre observaram que as disputas societárias entre acionistas controladores e minoritários puniam as cotações em bolsa dos papéis das companhias em litígio. Agora, pela primeira vez, um trabalho acadêmico avalia o efeito que as notícias sobre esses conflitos têm sobre as ações. No trabalho "Impacto da Divulgação de Disputas entre Acionistas Controladores e Minoritários sobre o Preço das Ações no Brasil", o professor da FEA-USP, Alexandre Di Miceli contabiliza o tamanho do dano em 22 empresas envolvidas em disputa societária entre 2000 e 2006. A perda média ocasionada pelo impacto das notícias foi de 7%. Quando analisados os sete principais conflitos, essa perda média eleva-se para 21%.

O trabalho não analisa cada empresa de forma isolada. "Pretendemos fazer isso nas próximas pesquisas, mas a título de exemplo, pegamos um caso como o da Cosipa, que ocorreu em 2001, e notamos que a desvalorização média foi de 4% ao dia e no acumulado chegou a 60%", diz o autor.

O professor da FEA esclarece que essas perdas referem-se ao chamado retorno anormal negativo, ou seja, a variação das ações nos períodos menos a variação esperada. "Esse retorno esperado é obtido por meio de uma regressão da correlação do papel com o Índice Bovespa", explica Miceli. O mecanismo é utilizado para evitar distorções. "Não adianta dizer que a ação caiu no dia seguinte a uma notícia sobre conflito, é preciso ver o que ocorreu com o mercado".

O trabalho, elaborado com auxílio dos alunos Armando Dias Junior e Antoninno Matazzo e que acaba de ser premiado pelo Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef), seção São Paulo, analisa 26 eventos de conflitos societários por meio de notícias nos principais meios de comunicação via internet. "Analisamos apenas a primeira notícia relativa ao conflito e, com isso, chegamos a esse conjunto final de 26 notícias", diz. "Inicialmente coletamos 170, mas reduzimos também em função de outros eventos que poderiam estar influenciando as companhias naquele momento". Foram eliminadas companhias cujas ações têm baixíssima liquidez na bolsa.

O estudo analisa o comportamento das ações num intervalo de 16 dias, sendo cinco antes e dez depois da data de publicação da notícia. Também são comparados com a variação dos papéis nos 50 pregões anteriores à publicação. As disputas envolviam problemas como a troca de ações em condições desfavoráveis, cisão, incorporação, fechamentos "brancos" de capital, diluição e desrespeito a direitos de minoritários. "Nota-se que o poder da notícia é bastante grande, uma vez que muitos dos conflitos sequer estavam na esfera judicial", diz.

Dos 26 conflitos analisados, a maior parte está em empresas do setor de telecomunicações (8). Em seguida vêm os setores de química (5), siderurgia (5), energia elétrica (3), finanças e seguros (2), alimentos e bebidas (1), papel e celulose (1) e outros (1). "O fato de haver mais conflitos nas teles pode ser resultado de vários fatores", analisa Miceli. "É um setor com problemas decorrentes das estruturas de governança criadas nas privatizações e também é um segmento com muitas empresas grandes e de alta liquidez na bolsa".

Chamou também a atenção dos pesquisadores o fato de que o efeito negativo sobre as ações começa cerca de três dias antes da veiculação da notícia e se acentua até o dia seguinte da data de publicação. "Muitas vezes pode não ser exatamente um 'insider', mas investidores mais qualificados que percebem uma informação antes dos demais", avalia Miceli. Segundo ele, os papéis tendem a ensaiar uma recuperação no segundo e no terceiro dias, mas em seguida novo movimento de desvalorização ocorre. "Isso pode eventualmente ser causado por investidores institucionais, como fundos de pensão, que exigem um tempo um pouco maior para tomada de decisões".

Segundo o professor, os chamados "conflitos de agência" (nome técnico para esses embates) vêm sendo cada vez mais estudados no mundo à medida que a idéia do impacto positivo das práticas de governança ganha espaço. Nos países mais desenvolvidos, porém, onde boa parte das companhias têm controle difuso, essas disputas são entre os executivos que as comandam. "No entanto, habitualmente os estudos testam mais o impacto que podem ter a adoção de boas práticas de governança e, nesse trabalho, procurei fazer o caminho oposto e observar os problemas que podem decorrer da ausência destas práticas", explica.

Outra conclusão é a de que os conflitos não vêm se reduzindo com o tempo. Em 2001, foram observados três conflitos relevantes, mas em 2002 o número elevou-se para seis. Em 2003, foram quatro disputas societárias, número que voltou a subir para seis em 2004. O destaque positivo do ano de 2005, em que apenas duas brigas tiveram início, de acordo com o trabalho, logo se desfez este ano. Em 2006, até setembro, foram registradas cinco disputas. "Apesar de todo o movimento orientado para a adoção de boas práticas de governança, não se pode afirmar que os conflitos vêm diminuindo".

Entre as empresas analisadas estão: AmBev, Arcelor, Bamerindus, Biobrás, Bombril, Banco do Brasil, Brasil Telecom, Cataguazes Leopoldina, Cosipa, Eletrobrás, Enersul, Gerdau, Petroquisa, Rhodia Ster, Ripasa, Sanepar, CSN, Tele Centro Oeste Celular, Telefonica Data Holding, Telemar Norte Leste, Tele Norte Leste, Telesp Celular e TIM Participações.

Valor Economico - 21/11/2006

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