Apesar do ágio, os bancos ainda são lucrativos. A seguir, reportagem do Valor Econômico de hoje:
Ágio distorce resultado dos bancos
Maria Christina Carvalho
Apoiados em confortáveis colchões de lucro, os três maiores bancos privados de varejo - Bradesco, Itaú e Unibanco - realizaram no terceiro trimestre vultosas amortizações de ágios pagos em aquisições. Apesar disso ter implicado em despesas elevadas, a decisão contábil não chegou a empanar os resultados e, de modo geral, não afetou significativamente a distribuição de dividendos para os acionistas.
A onda de amortização de ágio foi desencadeada pelo Itaú que seguiu sua política habitual e anunciou que iria amortizar de uma só vez os R$ 2,7 bilhões de ágio pagos na compra do BankBoston. A despesa reduziu o lucro líquido contábil dos nove meses em 20,835 para R$ 3,03 bilhões em comparação com igual período de 2005.
O Bradesco resolveu acompanhar o movimento e antecipou a amortização integral de seu estoque de R$ 2,11 bilhões em ágio. Com isso, o lucro líquido de nove meses caiu 17,29% para R$ 3,35 bilhões.
Já o Unibanco preferiu antecipar de dez para cinco anos a amortização de R$ 1,062 bilhão em ágio que tinha em estoque, o que previa fazer até 2016. Isso implicou a amortização extraordinária no terceiro trimestre de R$ 464 milhões. Desse modo, o lucro líquido de nove meses caiu 11,63% para R$ 1,17 bilhão.
Não fossem essas medidas, o Bradesco teria aumentado em 34,76% o lucro de nove meses; o Itaú, em 42,65; e o Unibanco, em 23,27%, calculou a consultoria Austin Ratings.
A legislação contábil brasileira permite a amortização de ágio em dez anos; e a fiscal, em cinco anos, no mínimo.
O presidente da consultoria Austin Ratings, Erivelto Rodrigues, afirmou que a decisão facilita a comparação dos resultados dos bancos brasileiros com seus equivalentes internacionais.
Já o vice-presidente do Unibanco, Geraldo Travaglia, afirmou que amortização do ágio é "uma distorção contábil. O normal seria amortizar o ágio de acordo com o resultado obtido com a aquisição. A idéia é que o ganho é suficiente para cobrir o preço pago". O banco só acompanhou os demais, disse, para não distorcer a comparação dos analistas. Os investidores de varejo, acredita, nem compreendem profundamente a operação.
Travaglia também observou que o Unibanco preferiu utilizar o crédito tributário decorrente da amortização do ágio para reforçar as provisões porque considera incoerente contabilizá-lo no ativo, como fizeram os outros bancos.
A amortização de ágio também tem impacto no patrimônio dos bancos, reduzindo o número. Todos, porém, mantiveram a política de distribuição de dividendos.
Para não afetar os acionistas e os indicadores de alavancagem, os bancos tomaram diferentes medidas. O Itaú aumentou o capital com a incorporação do BankBoston; e o Bradesco, com a emissão de ações. O Unibanco informou que, se tivesse amortizado integralmente o estoque de ágio, seu índice de Basiléia teria caído 0,8 ponto para 14,7%. O índice fechou setembro em 15,5%.
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