Editoras unem-se para combater fotocópias de livros
Tainã Bispo
27/11/2006
As principais editoras de livros técnico-científicos decidiram descruzar os braços e combater a pirataria de livros. No primeiro semestre de 2007, elas lançarão um projeto chamado Pasta do Professor.
O objetivo é eliminar os arquivos de textos em papel e digitalizá-los. Hoje, nas universidades é comum o professor selecionar e fotocopiar trechos de livros para que os alunos não tenham de comprá-los. Uma vez digital, o "xerox" deixa de ser ilegal.
A fotocópia já causou graves danos para o segmento de livros técnico-científicos. Entre 1995 e 2005, o setor encolheu 35% em números de exemplares vendidos, para 19,9 milhões de cópias. Hoje, o negócio de "xerox" fatura o mesmo, ou até mais, do que as editoras desse segmento - algo em torno de R$ 384,7 milhões em 2005.
O projeto está sendo desenvolvido e bancado por uma comissão de editoras técnico-científicas, mas está aberto a editoras de todos os segmentos. Empresas como Atlas, Saraiva, Pearson Education do Brasil, Campus/Elsevier e Forense dedicam-se, há um ano e meio, a criar uma alternativa às empresas de fotocópia que se instalam perto ou dentro das instituições de ensino. Nessa união de esforços - que hoje envolve 14 empresas ou 80% das editoras de técnico-científico - criou-se o Pasta do Professor.
A comissão contratou a empresa de tecnologia Neoris para criar uma plataforma que já está pronta. Segundo Luiz Herrmann Junior, presidente da Atlas, a idéia é a seguinte: as editoras irão armazenar, em um centro de dados, o conteúdo que escolherem, principalmente aqueles mais requisitado pelos professores universitários. O professor, por sua vez, entrará nesse centro e escolherá os capítulos dos livros que utilizará em sala de aula. A segurança da tecnologia é uma das maiores preocupações das companhias.
Esse conteúdo será vendido através de parceiros, que poderão ser as próprias empresas de "xerox", as instituições de ensino e livrarias. Os parceiros terão um computador padrão e uma impressora digital acoplada à máquina. Cada arquivo poderá ser impresso apenas uma vez. A comissão ainda está decidindo pelo fabricante do computador e da impressora.
Assim que a impressão for completada, o software fará o controle de quanto deve ser pago às editoras e aos autores - geralmente, os escritores recebem 10% do preço de capa do livro físico.
O grupo de editoras, no entanto, ainda precisa revolver algumas pendências antes de lançar o produto. Primeiro, ainda não está decidido o preço da impressão. Cada editora terá uma política própria. Depois, a comissão terá que decidir como será gerida a operação da Pasta do Professor. Há possibilidade de abrir uma empresa para essa finalidade.
As editoras mostram-se entusiasmadas com o projeto. Mas nenhuma delas prevê o impacto da Pasta do Professor no mercado. "A demanda por conteúdo parcial é grande", afirma Roger Trimer, gerente editorial da Pearson Education do Brasil. "Buscou-se uma maneira de apresentar uma solução ao estudante tão cômoda quanto o "xerox", mas de uma maneira legal." Para o executivo, tentar proibir algo é sempre mais difícil do que gerar alternativas eficazes.
José Luiz Próspero, superintendente da editora Saraiva, afirma que os escritores têm recebido de forma positiva o plano. "O projeto piloto é importante para sentir o mercado e adequá-lo à demanda", diz. Mesmo assim, Trimer defende a compra do livro para que o aluno obtenha uma formação mais adequada. Gisela Zingoni, proprietária da editora Gryphus, que publica livros de economia, administração e negócios, concorda. A Gryphus não faz parte do projeto. "O aluno precisa ter uma biblioteca básica referente à sua profissão em casa", diz.
Valor Econômico
Enviado por Ricardo Viana
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