Reportagem do Wall Street Journal sobre o Carrefour. Interessante:
Chacoalhada na cúpula começa a ter efeitos nos resultados do Carrefour
November 30, 2006 4:05 a.m.
Por Cecilie Rohwedder
The Wall Street Journal
PARIS — A Carrefour SA inventou o conceito de hipermercado — lojas gigantes que combinam os produtos de um supermercado e de uma loja departamentos — em 1963. A companhia francesa começou então a espalhar essas lojas pelo mundo quando a americana Wal-Mart Stores Inc., hoje a maior varejista do mundo, mal tinha saído de seu Estado natal, o Arkansas.
Mas nos últimos anos o Carrefour tropeçou. A empresa ficou lenta depois de se acostumar a anos de proteção aos seus lucros no mercado francês. Sua relutância em experimentar novos formatos de lojas fez com que perdesse participação de mercado. E na sua sede palaciana em Paris, os executivos reclamavam do estilo autocrático de Daniel Bernard, um diretor-presidente por varios anos que era apelidado pela imprensa francesa de "O Kaiser" ou "Imperador".
Agora, um novo diretor-presidente, o espanhol José Luis Durán, de 42 anos, está tentando pôr o varejista em forma. Desde que assumiu, em fevereiro de 2005, ele baixou os preços nas lojas francesas do Carrefour — que ainda são a base do seu negócio — para combater a ascensão das cadeias de desconto rivais. Ele está abrindo lojas menores. Durán espera fazer com que a empresa — a segunda maior varejista do mundo, depois do Wal-Mart — seja mais rápida e esperta, empurrando para baixo o processo decisório.
[carrefour]
"Se eu tivesse de encontrar uma frase que definisse o trabalho de José Luis, seria este: tornar a empresa menos dependente de um indivíduo e mais das qualidades intrínsecas da organização", diz Luc Vandevelde, presidente do conselho de supervisão do Carrefour, o equivalente do conselho de administração, que contratou Durán como diretor-presidente.
A empresa está sendo mais seletiva também em relação aos mercados internacionais. Durán diz que vai permanecer apenas em países nos quais esteja entre os três maiores varejistas. "O Carrefour tem uma história que nos orgulha como o mais internacional dos varejistas, fincando bandeiras em muitos países", afirma. "Mas eu não tenho orgulho de pôr minha bandeira em qualquer lugar a qualquer preço."
Essa determinação foi sentida pelo diretor-superintendente da empresa no Brasil, Jean-Marc Pueyo. Ele lembra ter recebido uma ligação de Durán pouco depois de este ter sido promovido a diretor-presidente. Durán notou que o Carrefour estava abrindo apenas três supermercados por ano no Brasil, menos que os rivais. Pueyo explicou que não tinha um número suficiente de funcionários para procurar novos pontos de venda. "Contrate", disse Durán, lembram os dois.
Pueyo disse que não tinha verba para contratar mais gente. "Não me importo com o seu orçamento", disse Durán. "Eu me importo com o nosso plano estratégico para o Brasil, e se não o concertarmos, daqui a dois anos a gente vai estar falando em sair do Brasil." Pueyo fez cortes na sede brasileira para poder ter recursos para contratar nove pessoas. Este ano, o Carrefour está abrindo dez novos hipermercados no Brasil.
Há outros sinais de que o esforço de Durán está começando a dar resultado. O lucro do primeiro semestre cresceu 11% e as vendas aumentaram quase 9%, mais do que em qualquer momento dos últimos cinco anos. O Carrefour agora tem 14% do mercado de alimentos francês, a maior fatia desde 2002, enquanto o crescimento nas vendas das lojas de desconto rivais desacelerou.
Os rivais estão reagindo com preços melhores e suas próprias ofertas. Nos hipermercados franceses da empresa, as vendas de produtos não-alimentícios mal crescem. Desde quando Durán assumiu a presidência executiva, o varejista já abandonou cinco mercados estrangeiros, mas algumas de suas divisões internacionais, como as da Bélgica e da Itália, ainda estão com problemas.
O Carrefour enfrenta ainda uma maior ameaça do Wal-Mart, que está investindo mais para se expandir no exterior agora que o crescimento nos Estados Unidos diminuiu. A empresa francesa tem 12.290 lojas em 29 países, comparadas com quase 6.500 do Wal-Mart em 15 países. Os dois muitas vezes se evitam, mas competem em alguns dos maiores mercados do mundo, inclusive China, Japão, Brasil e Argentina.
Esta semana, o Wal-Mart anunciou planos para abrir lojas na Índia, um novo mercado em que varejistas como o Carrefour estão ansiosos para entrar. No mês passado, o Wal-Mart negociou um acordo para comprar uma rede na China, de acordo com pessoas a par da transação. Se o acordo for fechado, deixará o Wal-Mart com mais lojas na China do que o Carrefour.
Fundado em 1959, três anos antes do Wal-Mart, o Carrefour logo abriu seu primeiro hipermercado, uma loja gigante que vendia de tudo, de baguete a bicicletas. A loja tinha 2.500 metros quadrados, com 12 caixas e 400 vagas de estacionamento — tudo novo para os clientes da época. Nos anos 70, a empresa começou sua agressiva expansão fora da França.
O Carrefour começou a ter problemas depois que se fundiu com outra rede varejista francesa, a Promodès. O negócio fez do Carrefour o maior varejista da Europa. Mas a empresa concordou em não abrir novos supermercados na França por cinco anos, para satisfazer às autoridades antitruste francesas. Isso abriu uma janela para os rivais, especialmente as lojas de desconto estrangeiras que estavam invadindo a França naquela época.
Uma lei francesa chamada Galland protegeu o Carrefour por um tempo. A lei, criada para proteger pequenos varejistas, tornou ilegal que grandes redes repassassem descontos que conseguissem dos fornecedores para os preços finais. Isso ajudou o Carrefour, porque lhe tirou a pressão para que baixasse os preços.
Mas a lei não se aplicava a produtos de marcas próprias, tipicamente vendidos nas lojas de desconto. No fim, o Carrefour perdeu apelo entre os consumidores franceses, que mudaram em massa para as lojas de desconto como a alemã Aldi Einkaufs GmbH.
No fim de 2004, o crescimento das vendas do Carrefour caiu para anêmicos 3%, e os lucros caíram 15%. Em fevereiro de 2005, o conselho, que é dominado pela família fundadora da Promodès, pressionou Bernard para sair após 13 anos na chefia. Procurado por meio de um assessor de imprensa, Bernard não respondeu a repetidos pedidos de comentários.
Durán cresceu em Madri. Depois de estudar economia na Icade, uma das melhores faculdades de administração de Madri, ele começou a trabalhar na consultoria Arthur Andersen na Espanha em 1987. Ali, tinha dois clientes — a ferrovia espanhola e a Pryca, uma subsidiária do Carrefour. Quatro anos depois, Jean-Luc Chéreau, então diretor financeiro e agora diretor-superintendente da divisão chinesa do Carrefour, contratou Durán como auditor administrativo. Sua primeira tarefa: aprender francês.
Durán passou os próximos dez anos em cargos financeiros na Espanha, exceto por dois anos na América Latina. Em 2001, quando Durán tinha 36 anos, Bernard o promoveu a diretor financeiro de todo o grupo. Durán fez algumas mudanças que foram contra a tradição do Carrefour. Por exemplo, ele conseguiu convencer Bernard a abandonar o mercado chileno em 2003, porque a empresa não tinha se tornado um grande varejista lá. Na época, o Carrefour nunca tinha abandonado um mercado.
Mas Durán também reconhece que, em outras áreas, não fez muito progresso porque as iniciativas se perdiam entre as inúmeras camadas administrativas do grupo, algumas com interesses conflitantes. "No final, você não sabia onde é que estava a bola, ninguém a estava chutando, e você falava com todo mundo mas nada acontecia", diz Durán, um torcedor do Atlético de Madri.
30 novembro 2006
A difícil arte de publicar
Fica cada vez mais difícil publicar artigos em periódicos de nível A no Brasil. A Revista de Administração de Empresas, da FGV, informa que no ano terminado em 31/12/2005 foram submetidos 257 artigos para publicação na RAE. No mesmo período terminando em 31/08/2006 o número aumentou para 341 artigos. Nestes dois anos foram aprovados 28 artigos. Um artigo pode ficar, em média, mais de duzentos dias em avaliação.
Blog mais visitados de economia
Um ranking interessante traz os blogs de economia mais visitados:
1. Big Picture com 23836 visitas por dia
2. Marginal Revolution com 18810 ou 0.789 do primeiro colocado
3. Gregory Mankiw, com 12160 visitas por dia ou 0.510 do primeiro lugar.
4. Economist's View, com 7982 visitas ou 0.335 do primeiro colocado
5. Michael Shedlock, 6945 visitas por dia ou 0.291 do primeiro
6. Calculated Risk, com 6307 visitas ou 0.265
País exporta capital
O Brasil, no período de janeiro a outubro deste ano, exportou capital (investimento). As empresas brasileiras investiram no exterior $22.8 bilhões versus $13.6 bilhões de investimento direto.
Parte deste desempenho decorre da compra da Vale, com pagamento de 13.3 bilhões em outubro para os acionistas da Inco.
Sunk Cost e o papel no monópolio natural
John Kay ao comentar sobre a existência de monopólio natural afirma:
"A economia básica do monopólio natural enfatiza duas frase principais: sunk cost e contestabilidade. Sunk cost são custo de entrar no mercado que não pode ser recuperado se você dizá-lo (...) Fornecedores existentes já investiram em sunk cost mas novos investidores terão que investir para entrar no jogo. Então estes custos são medidos como uma vantagem dos fornecedores existentes."
Considero o conceito de sunk cost (custo perdido) o mais difícil da contabilidade
Exemplo da importância dos dados faltantes
Quando se faz pesquisa é muito comum existirem alguns dados faltantes. Em certos casos isto não é problema, mas em outros pode ser conclusivo para o trabalho.
Eis um exemplo interessante, obtido no sítio Statistical Modeling:
"Muitos pesquisadores dizem que a democracia melhora a riqueza dos pobres. Este artigo utiliza dados da mortalidade de jovens e crianças (...) Estudos entre países tendem a excluir de sua amostra estados não-democráticos que tem um bom desempenho; isto leva a inferência errônea de que não democrácias tem pior desempenho que democracias. Uma vez que este problema é corrigido, democracia tem pouco ou nenhum efeito sobre as taxas de mortalidade."
A universidade de contabilidade mais admirada
Uma pesquisa mostra que a University of Texas, de Austin, foi considerada a mais admirada dos Estados Unidos, entre os professores de contabilidade.
A pesquisa foi direcionada entre 500 educadores contábeis de diferentes faculdades e universidades. A University of Texas mantém o título desde 2001, incluindo aqui o doutorado em contabilidade. Seguem as seguintes instituições: Brigham Young University, University of Illinois at Urbana-Champaign, University of Notre Dame, e University of Southern California, nesta ordem.
A pesquisa também questionou as empresas de contabilidade. Deu Deloitte e PricewaterhouseCoopers, na ordem.
29 novembro 2006
Novos Mestrados
A CAPES aprovou três novos mestrados em Contabilidade: UFBA (federal da Bahia), UFMG e UFPE. Parabéns para as três instituições de ensino.
Pesquisa sobre Mulheres
Duas pesquisas sobre mulheres, notícia do Blue Bus:
1. Mas as mulheres passam 8 anos e meio de suas vidas fazendo compras - Uma pesquisa da GE Money realizada na Inglaterra diz que as mulheres saem para as compras em media 301 vezes por ano. Dedicam a isso um total de 399 horas e 46 minutos. Considerando as compras de comida e roupas para a familia ao longo de uma vida, as mulheres passam mais de 25 mil horas em lojas, shoppings e supermercados. É o equivalente a 8 anos e meio - usando como referência um dia de trabalhao de horario convencional, das 09:00 as 17:00. Noticia do Daily Mail.
2. Mulheres falam 20 mil palavras por dia, os homens só 13 mil - As mulheres falam quase 3 vezes mais do que os homens e têm mais celulas do cérebro envolvidas na tarefa de falar. É o que diz a Dra Luan Brizendine, psiquiatra, que está lançando na Inglaterra 'The Female Mind'. Afirma que as mulheres falam em media 20 mil palavras por dia - enquanto os homens falam cerca de 13 mil. A diferença seria explicada por uma questao hormonal desde a formaçao dos bebês no utero. Ainda de acordo com a Dra Brizendine, por conta do hormonio testosterona, a area da audiçao seria menor nos cerebros masculinos - o que deixaria os homens 'surdos' para o falatorio feminino. Noticia do Daily Mail.
culpado ou Inocente?
"Culpado ou Inocente?"
Conta uma antiga lenda que na Idade Média um homem muito religioso foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. Na verdade, o autor do crime era pessoa influente do reino e, por isso, desde o primeiro momento se procurou um "bode expiatório" para acobertar o verdadeiro assassino.
O homem foi levado a julgamento, já temendo o resultado: a forca. Ele sabia que tudo iria ser feito para condená-lo e que teria poucas chances de sair vivo desta história.
O juiz, que também foi comprado para levar o pobre homem à morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado para que este provasse sua inocência.
- Sou de uma profunda religiosidade e por isso vou deixar sua sorte nas mãos do Senhor: vou escrever num pedaço de papel a palavra INOCENTE e no outro pedaço a palavra CULPADO. Você sorteará um dos papéis e aquele que sair será o veredicto. O Senhor decidirá seu destino - determinou o juiz.
Sem que o acusado percebesse, o juiz preparou os dois papéis, mas em ambos escreveu CULPADO de maneira que, naquele instante, não existia nenhuma chance de o acusado se livrar da forca.
Não havia alternativas para o pobre homem. O juiz colocou os dois papéis em uma mesa e mandou o acusado escolher um. O homem pensou alguns segundos e, pressentindo a "vibração", aproximou-se confiante da mesa, pegou um dos papéis e rapidamente colocou na boca e engoliu. Os presentes ao julgamento reagiram surpresos e indignados com a atitude do homem.
- Mas o que você fez? E agora? Como vamos saber o seu veredicto?
- É muito fácil. - respondeu o homem - Basta olhar o outro pedaço que sobrou e saberemos que acabei engolindo o contrário.
Imediatamente o homem foi liberado.
MORAL DA HISTORIA:
Por mais difícil que seja uma situação, não deixe de acreditar até o último momento. Saiba que, para qualquer problema, há sempre uma saída. Não desista, não entregue os pontos, não se deixe derrotar. Vá em frente apesar de tudo e de todos, creia que pode conseguir
Enviado por nosbor
Editoras combatem fotocópias
Editoras unem-se para combater fotocópias de livros
Tainã Bispo
27/11/2006
As principais editoras de livros técnico-científicos decidiram descruzar os braços e combater a pirataria de livros. No primeiro semestre de 2007, elas lançarão um projeto chamado Pasta do Professor.
O objetivo é eliminar os arquivos de textos em papel e digitalizá-los. Hoje, nas universidades é comum o professor selecionar e fotocopiar trechos de livros para que os alunos não tenham de comprá-los. Uma vez digital, o "xerox" deixa de ser ilegal.
A fotocópia já causou graves danos para o segmento de livros técnico-científicos. Entre 1995 e 2005, o setor encolheu 35% em números de exemplares vendidos, para 19,9 milhões de cópias. Hoje, o negócio de "xerox" fatura o mesmo, ou até mais, do que as editoras desse segmento - algo em torno de R$ 384,7 milhões em 2005.
O projeto está sendo desenvolvido e bancado por uma comissão de editoras técnico-científicas, mas está aberto a editoras de todos os segmentos. Empresas como Atlas, Saraiva, Pearson Education do Brasil, Campus/Elsevier e Forense dedicam-se, há um ano e meio, a criar uma alternativa às empresas de fotocópia que se instalam perto ou dentro das instituições de ensino. Nessa união de esforços - que hoje envolve 14 empresas ou 80% das editoras de técnico-científico - criou-se o Pasta do Professor.
A comissão contratou a empresa de tecnologia Neoris para criar uma plataforma que já está pronta. Segundo Luiz Herrmann Junior, presidente da Atlas, a idéia é a seguinte: as editoras irão armazenar, em um centro de dados, o conteúdo que escolherem, principalmente aqueles mais requisitado pelos professores universitários. O professor, por sua vez, entrará nesse centro e escolherá os capítulos dos livros que utilizará em sala de aula. A segurança da tecnologia é uma das maiores preocupações das companhias.
Esse conteúdo será vendido através de parceiros, que poderão ser as próprias empresas de "xerox", as instituições de ensino e livrarias. Os parceiros terão um computador padrão e uma impressora digital acoplada à máquina. Cada arquivo poderá ser impresso apenas uma vez. A comissão ainda está decidindo pelo fabricante do computador e da impressora.
Assim que a impressão for completada, o software fará o controle de quanto deve ser pago às editoras e aos autores - geralmente, os escritores recebem 10% do preço de capa do livro físico.
O grupo de editoras, no entanto, ainda precisa revolver algumas pendências antes de lançar o produto. Primeiro, ainda não está decidido o preço da impressão. Cada editora terá uma política própria. Depois, a comissão terá que decidir como será gerida a operação da Pasta do Professor. Há possibilidade de abrir uma empresa para essa finalidade.
As editoras mostram-se entusiasmadas com o projeto. Mas nenhuma delas prevê o impacto da Pasta do Professor no mercado. "A demanda por conteúdo parcial é grande", afirma Roger Trimer, gerente editorial da Pearson Education do Brasil. "Buscou-se uma maneira de apresentar uma solução ao estudante tão cômoda quanto o "xerox", mas de uma maneira legal." Para o executivo, tentar proibir algo é sempre mais difícil do que gerar alternativas eficazes.
José Luiz Próspero, superintendente da editora Saraiva, afirma que os escritores têm recebido de forma positiva o plano. "O projeto piloto é importante para sentir o mercado e adequá-lo à demanda", diz. Mesmo assim, Trimer defende a compra do livro para que o aluno obtenha uma formação mais adequada. Gisela Zingoni, proprietária da editora Gryphus, que publica livros de economia, administração e negócios, concorda. A Gryphus não faz parte do projeto. "O aluno precisa ter uma biblioteca básica referente à sua profissão em casa", diz.
Valor Econômico
Enviado por Ricardo Viana
Tainã Bispo
27/11/2006
As principais editoras de livros técnico-científicos decidiram descruzar os braços e combater a pirataria de livros. No primeiro semestre de 2007, elas lançarão um projeto chamado Pasta do Professor.
O objetivo é eliminar os arquivos de textos em papel e digitalizá-los. Hoje, nas universidades é comum o professor selecionar e fotocopiar trechos de livros para que os alunos não tenham de comprá-los. Uma vez digital, o "xerox" deixa de ser ilegal.
A fotocópia já causou graves danos para o segmento de livros técnico-científicos. Entre 1995 e 2005, o setor encolheu 35% em números de exemplares vendidos, para 19,9 milhões de cópias. Hoje, o negócio de "xerox" fatura o mesmo, ou até mais, do que as editoras desse segmento - algo em torno de R$ 384,7 milhões em 2005.
O projeto está sendo desenvolvido e bancado por uma comissão de editoras técnico-científicas, mas está aberto a editoras de todos os segmentos. Empresas como Atlas, Saraiva, Pearson Education do Brasil, Campus/Elsevier e Forense dedicam-se, há um ano e meio, a criar uma alternativa às empresas de fotocópia que se instalam perto ou dentro das instituições de ensino. Nessa união de esforços - que hoje envolve 14 empresas ou 80% das editoras de técnico-científico - criou-se o Pasta do Professor.
A comissão contratou a empresa de tecnologia Neoris para criar uma plataforma que já está pronta. Segundo Luiz Herrmann Junior, presidente da Atlas, a idéia é a seguinte: as editoras irão armazenar, em um centro de dados, o conteúdo que escolherem, principalmente aqueles mais requisitado pelos professores universitários. O professor, por sua vez, entrará nesse centro e escolherá os capítulos dos livros que utilizará em sala de aula. A segurança da tecnologia é uma das maiores preocupações das companhias.
Esse conteúdo será vendido através de parceiros, que poderão ser as próprias empresas de "xerox", as instituições de ensino e livrarias. Os parceiros terão um computador padrão e uma impressora digital acoplada à máquina. Cada arquivo poderá ser impresso apenas uma vez. A comissão ainda está decidindo pelo fabricante do computador e da impressora.
Assim que a impressão for completada, o software fará o controle de quanto deve ser pago às editoras e aos autores - geralmente, os escritores recebem 10% do preço de capa do livro físico.
O grupo de editoras, no entanto, ainda precisa revolver algumas pendências antes de lançar o produto. Primeiro, ainda não está decidido o preço da impressão. Cada editora terá uma política própria. Depois, a comissão terá que decidir como será gerida a operação da Pasta do Professor. Há possibilidade de abrir uma empresa para essa finalidade.
As editoras mostram-se entusiasmadas com o projeto. Mas nenhuma delas prevê o impacto da Pasta do Professor no mercado. "A demanda por conteúdo parcial é grande", afirma Roger Trimer, gerente editorial da Pearson Education do Brasil. "Buscou-se uma maneira de apresentar uma solução ao estudante tão cômoda quanto o "xerox", mas de uma maneira legal." Para o executivo, tentar proibir algo é sempre mais difícil do que gerar alternativas eficazes.
José Luiz Próspero, superintendente da editora Saraiva, afirma que os escritores têm recebido de forma positiva o plano. "O projeto piloto é importante para sentir o mercado e adequá-lo à demanda", diz. Mesmo assim, Trimer defende a compra do livro para que o aluno obtenha uma formação mais adequada. Gisela Zingoni, proprietária da editora Gryphus, que publica livros de economia, administração e negócios, concorda. A Gryphus não faz parte do projeto. "O aluno precisa ter uma biblioteca básica referente à sua profissão em casa", diz.
Valor Econômico
Enviado por Ricardo Viana
28 novembro 2006
Sarbox e o custo de evidenciação
Segundo reportagem do Wall Street Journal a aprovação da Sarbox reduziu a vantagem de ter ações negociadas no mercado norte-americano, principalmente em países de boa governança (o que não é o caso do Brasil).
As empresas não-americanas cujas ações são registradas tanto em seu mercado doméstico como numa bolsa dos EUA são tradicionalmente negociadas a uma cotação mais alta, em relação a seu valor patrimonial, ou o valor contábil, do que outras empresas de seus mercados de origem sem papéis nos EUA. Esse ágio pode ser resultado da maior confiança que os investidores depositam numa empresa que cumpre os padrões de registro dos EUA, ou da maior liquidez que ter ações no mercado americano oferece.
(...) O ágio para registro nos EUA e no mercado doméstico foi em média de 51 pontos porcentuais de 1997 a 2001, e depois caiu a 31 entre 2002 e 2005, constatou Zingales [autor da pesquisa].
Isso implica que os investidores viram mais custos que benefícios para a companhia ser registrada nos EUA depois de 2002, diz ele.
Rating
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a principal razão para mudança no rating de uma empresa é a melhoria do risco país.
Banco Central se posiciona
O Banco Central recusou a proposta de ex-controladores de bancos quebrados, entre os quais o Nacional e o Econômico, para encerrar a liquidação extrajudicial. A razão alegada foi o princípio de defesa do patrimônio público. Para o Bacen, estes bancos querem ficar com recursos públicos do Proer.
Segundo o jornal Valor Econômico, "fontes dessas instituições vem dizendo de forma reservada que o BC tem atrapalhado o acordo."
O lobby a favor destes bancos será grande.
Gol
A Gol está sentindo os problemas decorrentes do acidente aéreo com seu avião mas principalmente a questão do tráfego aéreo. O gráfico ao lado reproduz a cotação da ação da empresa nos últimos seis meses na bolsa de Nova Iorque (linha azul) versus o próprio comportamento da bolsa (de vermelho). É facilmente percebido que o mercado sentiu o impacto desses dois fatos. A parte de baixo do gráfico mostra o volume negociado.
Para comparar, o gráfico abaixo mostra a cotação da TAM, também em Nova Iorque, nos últimos seis meses. A queda nas cotações foi menor.
Clique aqui para ler mais
Blogs de Economia
Uma reportagem do Los Angeles Times do dia 23 de novembro mostra a popularidade dos blogs de economia entre o público norte-americano. Um desses blogs, o Marginal Revolution, recebe quase 20 mil visitas por dia. Até o economista Becker, vencedor do Nobel e ex-colunista da Business Week, também possui um blog com uma boa visitação, apesar de sua atualização ser semanal.
A reportagem estima que entre os 100 sites mais visitados da blogosfera, 4 ou 5 são de economia.
27 novembro 2006
Links
Sobre o controle das ações no mercado brasileira - clique aqui
A questão da Telemar - clique aqui
O impacto da melhoria da avaliação do risco país na avaliação - clique aqui
Americanas.com e Submarino
Detalhes sobre a operação entre as Americanas.com e Submarino foram reveladas e utilizando a reportagem que saiu na imprensa econômica:
=> será criada uma nova empresa, por enquanto denominada B2W Companhia Global de Varejo.
=> Os nomes Americanas.com e Submarino sobreviverão
=> A controladora será a Americanas.com, que terá 5 membros no Conselho de Administração contra 4 da Submarino
=> Os acionistas do Submarino terão que aprovar o negócio em Assembléia Geral. Os da Lojas Americanas já aprovaram.
=> Representa a maior fusão de empresas abertas de capital pulverizado listadas no Novo Mercado da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).
=> A empresa B2W terá faturamento bruto de mais de R$ 2,2 bilhões
=> cada ação do Submarino nas mãos dos minoritários será trocada por uma ação da B2W. A Lojas Americanas terá 53,25% da empresa e o Submarino, 46,75%.
=> Haverá sinergias - olha a palavra mágina aparecendo! - segundo alguns especialistas. Particularmente tenho dúvidas (sempre tenho quando aparece esta palavra)
= Haverá redução de pessoal (contraditório com o anterior, é claro) mas as empresas negam.
=> Alguém no mercado já sabia da operação. Segundo o Jornal do Commercio (24/11/2006) nos últimos 30 dias a ação da Submarino subiu 30% (versus 8,5% do Ibovespa). Os jornais divulgaram antes de sair o fato relevante.
26 novembro 2006
Fatos da Semana
1. Persiste a questão Vale e Funai - Clique aqui para ler. Aqui também
2. O Bradesco é notícia positiva pelo sucesso na Bolsa de Nova Iorque - Clique aqui
3. Americanas e Submarino decidem unir forças - Clique aqui
4. Unibanco chega a um acordo com a família Magalhães Pinto - Clique aqui
5. Os problemas financeiros nas Olimpíadas de Londres alertam para a questão dos jogos Pan-Americanos (alguém já viu alguma prestação de contas?) e para futuras candidaturas brasileiras - Clique aqui
O sucesso do Bradesco
Texto do Jornal de Commercio (21/11) sobre as negociações de ações do Bradesco na Bolsa de Nova Iorque:
Sucesso do Bradesco em Wall Street
É o banco latino-americano de maior liquidez na Bolsa de Nova York
LUCIANNE CARNEIRO
DO JORNAL DO COMMERCIO
Em um dia considerado histórico nos 63 anos de existência do Bradesco, o presidente Márcio Cypriano e integrantes da diretoria do banco comemoraram ontem cinco anos de bem sucedida negociação de ações da instituição financeira na Bolsa de Valores de Nova York. "Alcançamos, nestes cinco anos, a condição de banco latino-americano com a maior liquidez do mercado", destacou o executivo, que ao fim do dia tocou o sino de fechamento do pregão.
Cypriano citou extensa lista de indicadores que mostram melhora significativa da instituição desde novembro de 2001, quando as ações do banco começaram a ser negociadas na Bolsa de Nova York. Atualmente, 30% das ações do banco já estão na mão de investidores estrangeiros e há interesse em ampliar este percentual, garantindo ainda mais liquidez às ações do banco.
"Muita coisa aconteceu com o Bradesco e com a economia brasileira nesse período. O Bradesco reafirmou sua posição de liderança entre as instituições financeiras privadas da América Latina, nossa base de clientes chega, hoje, a 17 milhões, fruto de crescimento orgânico e da aquisição estratégica de outras instituições financeiras, além de forte processo de bancarização", disse.
Valor de mercado: US$ 35,3 bi. O valor de mercado do Bradesco atingiu US$ 35,3 bilhões neste ano, ante US$ 7,1 bilhões em 2001. A consultoria Economática mostra que a valorização das ações ordinárias (ON) do Bradesco foi de 768% em dólar nos últimos 5 anos, enquanto as preferenciais (PN) subiram 540%, percentuais superiores aos Índices Bovespa, Dow Jones e Nasdaq.
O volume médio diário anual de negociação era US$ 12,5 milhões em 2001 e foi ampliado para US$ 93,7 milhões. O volume girado em ADRs em Nova York passou de 22,5% da liquidez em 2001 para 128%. "Agora, o volume de ADRs (American Depositary Receipts) já é equivalente a 128% do que se negocia em São Paulo", resumiu Cypriano.
"O total de ativos mais que dobrou nos últimos cinco anos, assim como nosso patrimônio líquido. O lucro cresceu e lidera o setor bancário privado há oito trimestres consecutivos. A carteira de crédito dobrou em relação a 2001, com a inadimplência mantendo-se estável. A rentabilidade alcançou novo patamar, da ordem de 30% e assim vem se mantendo. Esses resultados originaram-se na escolha de estratégias acertadas, adequadas ao desempenho da economia brasileira", disse, ressaltando que o Bradesco é o único banco latino-americano a participar do grupo com ativos superiores a US$ 100 bilhões.
O Bradesco foi o responsável pelo maior lucro anual do sistema financeiro da América Latina, de US$ 2,4 bilhões em 2005.
Contribuíram para o avanço das operações nos últimos cinco anos, segundo Cypriano, as cerca de 30 aquisições, parcerias de crédito e acordos de empréstimo consignado no período. Entre elas, citou as compras do Banco Mercantil de São Paulo, BBVA, Banco Boavista e o Banco Cidade, o acordo com as Casas Bahia, a parceria com a American Express e a privatização dos bancos dos estados do Ceará (BEC) e do Maranhão (BEM). Além disso, destacou o processo de segmentação do atendimento do banco.
"Temos tradição de 63 anos de lucros ininterruptos. Tudo isso nos dá diferencial competitivo e a certeza de que continuaremos a melhorar, ano a ano, os nossos resultados", afirmou. Ele acrescentou que o Bradesco ocupa a quarta posição entre empresas financeiras e não-financeiras cujas ações são as mais negociadas da América Latina.
Nos encontros com analistas, foi reforçado o interesse do Bradesco em ampliar as operações de seu banco de investimentos. Em fevereiro, as operações de banco de investimento, gestão de recursos, tesouraria e corretora da instituição financeira foram agrupadas no Banco Bradesco de Investimento (BBI). Um dos objetivos da nova estrutura é apoiar aquisições de ativos no exterior por empresas brasileiras.
"O banco olha com muita atenção e está disposto a participar dessas operações grandes, é um dos objetivos do banco de investimento", disse Cypriano, lembrando que o banco participou da aquisição da canadense Inco pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD).
Na apresentação aos analistas, Márcio Cypriano ressaltou o otimismo com o futuro da economia brasileira e disse que o banco está preparado para desenvolvimento mais acentuado do País.
"O Brasil preparou nos últimos anos base sólida para o lançamento de um novo ciclo longo de crescimento, que seja consistente e sustentável. Temos inflação sob controle, saldos crescentes na balança comercial, reservas internacionais confortáveis. A expectativa para 2007 é da continuação da queda dos juros primários", apontou.
Cypriano afirmou que o banco manterá sua estratégia de vender participações em negócios que não estejam no foco principal do grupo: banco e seguros. O movimento foi iniciado com a cisão da Bradespar, mas será mantido.
No início de novembro, o Bradesco vendeu a participação no capital social ordinário da Usiminas, de 2,8%. "O banco tem saído de quase todas as participações que não são relevantes para o nosso negócio", disse o presidente do Bradesco.
Apoio, na China, a exportadores brasileiros
O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, anunciou que banco estuda a instalação de escritório de representação na China para atender a exportadores brasileiros que atuem naquele país, mas não precisou data para este investimento.
"Já temos participação no mercado chinês por meio de nosso acordo operacional com o Tokyo Mitsubishi UFJ, que mantém rede de agências na China. Porém, o vigor da expansão econômica chinesa já justifica uma presença direta para o atendimento das empresas brasileiras que estão lá, como Petrobras, Vale e Embraer. Com a abertura do mercado chinês, estamos pensando em abrir um escritório de representação lá, se os estudos confirmarem nossas expectativas positivas", anunciou Cypriano. O executivo acrescentou que devem ser prospectados negócios em outros mercados emergentes, como a África, por exemplo.
Na última semana, ele já tinha afirmado que a busca por mercados fora do Brasil está no planejamento estratégico do banco para os próximos dez anos.
A China deve iniciar a abertura de seu setor bancário no dia 11 de dezembro, como parte de uma série de reformas exigidas para sua integração à Organização Mundial do Comércio (OMC), ocorrida em 2001. Atualmente, investidores estrangeiros não podem investir no setor financeiro no País e a fragilidade do sistema financeiro é apontada como uma das maiores ameaças ao crescimento da economia chinesa.
A princípio, Cypriano descartou a possibilidade de o banco brasileiro atuar no varejo na China e ressaltou que o objetivo da operação será apoiar exportadores brasileiros na China. Ele explicou que o estudo é para a instalação de um escritório de representação e não de um banco. Não há intenção de realizar operações de crédito.
"O que vamos fazer é um escritório de representação, não um banco. Nós não vamos fazer operação de crédito", disse ele.
"Não temos intenção de fazer varejo fora do Brasil, até porque ainda temos no País muito para caminhar em bancarização de 40% da população economicamente ativa que ainda não possui conta em bancos. O objetivo de nós abrirmos eventualmente um escritório na China seria basicamente para atender operações de trade finance através de nossos clientes que são exportadores para a China", apontou.
Segundo o executivo, o volume de capital necessário para fazer um escritório de representação na China é próximo de US$ 25 milhões. "Não é nada tão expressivo que possa trazer qualquer tipo de preocupação (sobre garantias)", disse.
Cypriano informou que o Bradesco prevê ampliar o serviço de remessas oferecido aos brasileiros residentes nos Estados Unidos. Para isso, iniciou conversações com várias instituições financeiras locais para buscar parcerias que aumentem a capacidade de prestação de serviços do Bradesco.
As remessas de recursos de brasileiros através do Bradesco totalizaram US$ 400 milhões entre janeiro e outubro deste ano, ante US$ 383 milhões em todo o ano de 2005. As operações partem principalmente de residentes no Japão, Europa Ibérica e Estados Unidos.
As Comparações entre setores
Um artigo interessante sobre as comparações inter-setoriais. Publicado na Gazeta de 22/11:
Governança Corporativa - Comparações inter-setoriais
22 de Novembro de 2006 - Um dos vícios em relações com investidores é sempre se comparar com outras empresas do setor. Isso ocorre por duas razões principais: a primeira é uma competitividade natural com as companhias que disputam o mesmo mercado; ademais, a própria diretoria sempre encara seu negócio comparando-o com a concorrência.
A outra é que os próprios analistas, sobretudo os de sell-side que possuem maior contato com a companhia, são especializados por setores, avaliam assim os resultados e, sempre que demandam alguma informação extra, falam que "a outra companhia passa esses dados".
De fato, não há mal nenhum em realizar um benchmark do setor. Se todos seus competidores abrirem uma dada informação, é imprescindível que você faça o mesmo. Se nenhum deles o fizer, você pode escolher entre ser um exemplo ou simplesmente seguir o padrão.
O que não pode acontecer é restringir-se ao seu próprio setor e perder o contato com o restante do mercado. Afinal, não custa lembrar que, para o mercado acionário, é melhor ser a companhia com pior performance de um setor com resultados excelentes do que ser a companhia com melhor performance de um setor em crise.
Alguns setores são conhecidos pela transparência e detalhamento de suas informações financeiras, enquanto outros não fornecem sequer um fluxo de caixa. Então, existe um espaço para a comparação no planejamento, mas não deve ser o único. É importante lembrar também que parte significativa dos investidores é estrangeira, então é relevante realizar essas comparações com benchmarks globais.
Outro erro comum em relação ao setor é assumir que os analistas e investidores já conhecem as tendências do mercado como um todo e que é preciso apontar apenas as particularidades da própria companhia.
O grau de importância e o tipo de informações setoriais variam muito de setor para setor.
Por exemplo, no caso de uma companhia que produz e vende commodities, os preços praticados pela companhia dependem fundamentalmente do mercado. Então, comentários sobre as perspectivas de demanda e oferta dos produtos são vitais, uma vez que, não raro, esses fatores exógenos são os principais determinantes da rentabilidade - por mais que a companhia tenha uma perspectiva particular interessante para apresentar, seja em termos de eficiência, custos, qualidade, distribuição, etc..
Em outros, pode ser que o setor não seja tão fundamental na precificação em si, mas podem apontar outras importantes tendências. Por exemplo, a demanda do varejo tem tido forte aceleração em função do crescimento da oferta de crédito pessoal. Da mesma forma, as menores taxas de juros e prazos mais longos também têm apontado tendências muito positivas para o mercado de bens duráveis, como o setor imobiliário e automotivo.
Finalmente, as companhias podem apresentar fatores pontuais que afetam de maneira permanente seus mercados. Companhias de cigarro e bebidas podem enfrentar restrições regulatórias em termos de marketing ou mesmo de venda, afetando suas vendas.
Por outro lado, as companhias públicas desses setores sofrem muito com o mercado informal, onde não se pagam impostos, há concorrência desleal e preços mais baixos. Assim, sempre que o governo anuncia alguma medida capaz de coibir essas práticas, é positivo para essas companhias.
Muitas dessas tendências podem parecer óbvias para dirigentes da própria companhia ou analistas do setor. No entanto, certamente esse não é o caso de alguns administradores de portfólios ou analistas de buy-side, que precisam acompanhar dezenas de empresas simultaneamente.
Além disso, a diretoria da empresa deveria ser quem melhor entende o mercado. Com auxílio de consultorias, força de vendas trabalhando o dia-a-dia, equipes montadas para identificar as tendências, uma companhia certamente está melhor posicionada para opinar sobre tendências de mercado que um analista trabalhando sozinho.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Márcio Veríssimo - Consultor, especial para Gazeta MercantilE-mail: ri@gazetamercantil.com.br )
Governança Corporativa
Sobre controles corporativos, publicado na Gazeta de 22/11. Óbvio, mas não deixa de ser importante:
Governança Corporativa - Sair do escritório para testar controle
São Paulo, 22 de Novembro de 2006 - Saber se os controles corporativos estão operando adequadamente é uma das grandes preocupações da administração das companhias. Segundo Sidney Ito, sócio da KPMG, normalmente não é possível testar controles corporativos sem visitar algumas ou todas as localidades ou unidades de negócio que esses controles operam. "A eficácia de alguns controles corporativos, tais como a implantação e aplicação de um código de conduta ou de manuais de contabilidade, é evidenciada fora do escritório central ou da sede da empresa", afirma o consultor.
Uma forma de testar os controles, conforme Ito, é por localidades ou de unidades de negócio. Para isso, o primeiro passo recomendado por Ito é estabelecer o número de localidades a visitar. O ideal é que as localidades inclusas no teste sejam representativas das populações ou de unidades de negócio que, tomadas em conjunto, sejam relevantes. Além disso, a extensão dos testes deve ser sempre maior do que a executada pelo auditor independente.
"A administração pode considerar fatores tais como o grau de centralização dos controles, o compartilhamento do processo, o desenho dos controles entre as unidades e a consistência das políticas contábeis", acrescenta Ito.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Lucia Rebouças)
Vale x Funai 6
A Funai decidiu ir na Justiça de Marabá para obrigar a Vale a ajudar os índios xicrins, que vivem próximo a Carajás. A ajuda, conforme relata o texto a seguir da Folha de São Paulo de 22/11, corresponde a R$596,9 mil por mês. Utilizando uma taxa de desconto de 0,5% ao mês, juros da poupança, isto corresponde a um valor presente de 119 milhões de reais. Leia a seguir a reportagem:
Funai vai à Justiça contra a Vale do Rio Doce
Empresa diz que decreto a desobriga de repassar dinheiro aos índios; para presidente da Funai, mineradora foge do dever
Funai pede na Justiça que a Vale mantenha repasse de R$ 596,9 mil por mês, para prevenir revolta dos índios; juiz ainda não se pronunciou
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A Funai (Fundação Nacional do Índio) entrou com ação cautelar na Justiça Federal de Marabá (PA) para obrigar a Vale do Rio Doce a reiniciar a ajuda financeira aos índios xicrins, que vivem em áreas próximas da mina de Carajás, no sudeste do Pará. A ajuda foi interrompida no fim de outubro, depois da invasão da mina por 200 guerreiros da tribo.
A empresa afirma que um decreto do ex-presidente FHC, que criou a Floresta Nacional de Carajás, em 1998, desobrigou-a de repassar dinheiro às comunidades indígenas próximas da jazida e da ferrovia de Carajás e que continuou a fazê-lo, a partir de então, por mera liberalidade.
A ação cautelar pede que a Vale continue a repassar R$ 596,9 mil por mês aos xicrins, para prevenir uma revolta dos índios, que estariam em "situação periclitante". Até ontem à tarde, o juiz não havia se manifestado. São cerca de mil índios, divididos em duas aldeias.
O presidente da Funai, o antropólogo Mércio Pereira Gomes, diz que não se trata de liberalidade, mas de obrigação legal e contratual da Vale. "É uma compensação por ela ter recebido gratuitamente do governo as jazidas de Carajás." Ele diz que a jazida está em áreas de posse imemorial dos índios, onde estão restos mortais de seus antepassados.
A Vale cancelou o convênio existente havia 17 anos com os xicrins e suspendeu o pagamento das duas últimas parcelas referente ao repasse de R$ 9 milhões acertado para este ano. O acirramento coincide com a aquisição, pela Vale, da segunda maior mineradora mundial de níquel, a Inco, por cerca de US$ 17 bilhões.
A Vale lucrou R$ 4 bilhões no último trimestre. A ajuda prevista para os xicrins em 2006 corresponde ao lucro de quatro horas e meia nesse período. A empresa diz que repassa cerca de R$ 10 mil ao ano por índio e que, proporcionalmente, desembolsa dez vezes mais do que a Funai e a Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
A Vale denunciou o governo brasileiro na OEA (Organização dos Estados Americanos) por não cumprir suas obrigações com os indígenas.
Acionistas
O diretor de projetos institucionais estratégicos da empresa, Walter Cover, diz que o fato de ser grande não a torna responsável pelas populações carentes em seu entorno e que isso é tarefa do governo. "A empresa tem compromissos com seus acionistas, de crescer e de dar lucro", afirmou.
A Vale admite voltar a ajudar os xicrins, desde que o governo crie projetos que viabilizem a auto-suficiência das comunidades. Reclama que parte do dinheiro foi gasta na compra de carros importados e diz que não quer continuar só custeando consumo.
Gomes contrapõe que a Vale não apresentou nada de concreto para superar o impasse com os xicrins. Sobre a forma como os índios gastam o dinheiro, disse não condenar os caciques por comprarem carros importados e que também não critica os diretores da Vale por morarem em apartamentos de luxo.
Incra
O gerente-geral jurídico da Vale, José Alberto Araújo, diz que a resolução 331/86 do Senado não obriga a empresa a dar dinheiro aos índios porque não lhe foi dada a concessão do uso da terra, como exigia o artigo 3º do documento. O processo ficou no Incra por cinco anos, até ser devolvido por não se tratar de reforma agrária.
O governo e a empresa não se preocuparam com a inexistência da concessão até as vésperas da privatização, em 1997. Em março, dois meses antes do leilão de privatização, o ex-presidente FHC assinou um decreto sem número, reafirmando a autorização para a concessão do direito de uso da terra à empresa.
Um ano depois da privatização, FHC assinou novo decreto criando a Floresta Nacional de Carajás na mesma área onde havia sido autorizado o direito de uso para a Vale. A administração da floresta foi, então, repassada ao Ibama, em convênio com a própria Vale.
Esse decreto é o pivô da confusão jurídica sobre os direitos dos índios. Para a Funai, ele não desobrigou a Vale da ajuda, porque não houve revogação do decreto anterior. Já a empresa sustenta que o decreto de 1997 foi extinto, porque perdeu o objeto.
A Folha perguntou ao Ibama, à Casa Civil da Presidência da República e ao DNPM se o decreto de 97 continua em vigor (o que garantiria o direito dos índios) ou se foi anulado com a criação da floresta, o que tornaria questionável o direito dos índios à ajuda financeira. Nenhum órgão elucidou o fato.
O ex-presidente do Ibama Eduardo Martins, que participou da criação da Floresta Nacional de Carajás, disse à Folha que a questão dos índios nem sequer foi abordada pelas autoridades na elaboração do decreto, em 1998.
Funai vai à Justiça contra a Vale do Rio Doce
Empresa diz que decreto a desobriga de repassar dinheiro aos índios; para presidente da Funai, mineradora foge do dever
Funai pede na Justiça que a Vale mantenha repasse de R$ 596,9 mil por mês, para prevenir revolta dos índios; juiz ainda não se pronunciou
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A Funai (Fundação Nacional do Índio) entrou com ação cautelar na Justiça Federal de Marabá (PA) para obrigar a Vale do Rio Doce a reiniciar a ajuda financeira aos índios xicrins, que vivem em áreas próximas da mina de Carajás, no sudeste do Pará. A ajuda foi interrompida no fim de outubro, depois da invasão da mina por 200 guerreiros da tribo.
A empresa afirma que um decreto do ex-presidente FHC, que criou a Floresta Nacional de Carajás, em 1998, desobrigou-a de repassar dinheiro às comunidades indígenas próximas da jazida e da ferrovia de Carajás e que continuou a fazê-lo, a partir de então, por mera liberalidade.
A ação cautelar pede que a Vale continue a repassar R$ 596,9 mil por mês aos xicrins, para prevenir uma revolta dos índios, que estariam em "situação periclitante". Até ontem à tarde, o juiz não havia se manifestado. São cerca de mil índios, divididos em duas aldeias.
O presidente da Funai, o antropólogo Mércio Pereira Gomes, diz que não se trata de liberalidade, mas de obrigação legal e contratual da Vale. "É uma compensação por ela ter recebido gratuitamente do governo as jazidas de Carajás." Ele diz que a jazida está em áreas de posse imemorial dos índios, onde estão restos mortais de seus antepassados.
A Vale cancelou o convênio existente havia 17 anos com os xicrins e suspendeu o pagamento das duas últimas parcelas referente ao repasse de R$ 9 milhões acertado para este ano. O acirramento coincide com a aquisição, pela Vale, da segunda maior mineradora mundial de níquel, a Inco, por cerca de US$ 17 bilhões.
A Vale lucrou R$ 4 bilhões no último trimestre. A ajuda prevista para os xicrins em 2006 corresponde ao lucro de quatro horas e meia nesse período. A empresa diz que repassa cerca de R$ 10 mil ao ano por índio e que, proporcionalmente, desembolsa dez vezes mais do que a Funai e a Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
A Vale denunciou o governo brasileiro na OEA (Organização dos Estados Americanos) por não cumprir suas obrigações com os indígenas.
Acionistas
O diretor de projetos institucionais estratégicos da empresa, Walter Cover, diz que o fato de ser grande não a torna responsável pelas populações carentes em seu entorno e que isso é tarefa do governo. "A empresa tem compromissos com seus acionistas, de crescer e de dar lucro", afirmou.
A Vale admite voltar a ajudar os xicrins, desde que o governo crie projetos que viabilizem a auto-suficiência das comunidades. Reclama que parte do dinheiro foi gasta na compra de carros importados e diz que não quer continuar só custeando consumo.
Gomes contrapõe que a Vale não apresentou nada de concreto para superar o impasse com os xicrins. Sobre a forma como os índios gastam o dinheiro, disse não condenar os caciques por comprarem carros importados e que também não critica os diretores da Vale por morarem em apartamentos de luxo.
Incra
O gerente-geral jurídico da Vale, José Alberto Araújo, diz que a resolução 331/86 do Senado não obriga a empresa a dar dinheiro aos índios porque não lhe foi dada a concessão do uso da terra, como exigia o artigo 3º do documento. O processo ficou no Incra por cinco anos, até ser devolvido por não se tratar de reforma agrária.
O governo e a empresa não se preocuparam com a inexistência da concessão até as vésperas da privatização, em 1997. Em março, dois meses antes do leilão de privatização, o ex-presidente FHC assinou um decreto sem número, reafirmando a autorização para a concessão do direito de uso da terra à empresa.
Um ano depois da privatização, FHC assinou novo decreto criando a Floresta Nacional de Carajás na mesma área onde havia sido autorizado o direito de uso para a Vale. A administração da floresta foi, então, repassada ao Ibama, em convênio com a própria Vale.
Esse decreto é o pivô da confusão jurídica sobre os direitos dos índios. Para a Funai, ele não desobrigou a Vale da ajuda, porque não houve revogação do decreto anterior. Já a empresa sustenta que o decreto de 1997 foi extinto, porque perdeu o objeto.
A Folha perguntou ao Ibama, à Casa Civil da Presidência da República e ao DNPM se o decreto de 97 continua em vigor (o que garantiria o direito dos índios) ou se foi anulado com a criação da floresta, o que tornaria questionável o direito dos índios à ajuda financeira. Nenhum órgão elucidou o fato.
O ex-presidente do Ibama Eduardo Martins, que participou da criação da Floresta Nacional de Carajás, disse à Folha que a questão dos índios nem sequer foi abordada pelas autoridades na elaboração do decreto, em 1998.
25 novembro 2006
Unibanco e Nacional
Na terça-feira os jornais econômicos noticiaram um acerto entre o Unibanco e o Banco Nacional. Quando o Unibanco comprou a parte boa do Banco Nacional, no final de 1995, as relações entre os controladores de ambas as instituições ficaram estremecidas. A reaproximação é interessante para ambas as partes, mas o acerto final depende do Banco Central.
A questão contábil diz respeito ao valor do passivo do Nacional com o Bacen e a forma com deve ser corrigido no tempo. A posição que favorece ao Unibanco seria o passivo ser corrigido pela TR; o Banco Central entende que o passivo deve ser corrigido pelo valor das garantias mais 2%.
Decisões judiciais anteriores favorecem ao acordo entre os bancos. Para o Unibanco, o acordo pode trazer uma vantagem adicional: fica com os créditos tributários.
Clique a seguir para ler as notícias
Unibanco acerta compra do Nacional – Valor Econômico de 21/11/2006
Magalhães Pinto e Unibanco fazem acordo sobre o Nacional – Jornal do Commercio de 21/11/2006
Moreira Salles espera solução para Nacional - Valor Econômico – 24/11/2006
Unibanco nega compra da parte podre do Banco Nacional - Gazeta Mercantil 24/11/2006
A questão contábil diz respeito ao valor do passivo do Nacional com o Bacen e a forma com deve ser corrigido no tempo. A posição que favorece ao Unibanco seria o passivo ser corrigido pela TR; o Banco Central entende que o passivo deve ser corrigido pelo valor das garantias mais 2%.
Decisões judiciais anteriores favorecem ao acordo entre os bancos. Para o Unibanco, o acordo pode trazer uma vantagem adicional: fica com os créditos tributários.
Clique a seguir para ler as notícias
Unibanco acerta compra do Nacional – Valor Econômico de 21/11/2006
Magalhães Pinto e Unibanco fazem acordo sobre o Nacional – Jornal do Commercio de 21/11/2006
Moreira Salles espera solução para Nacional - Valor Econômico – 24/11/2006
Unibanco nega compra da parte podre do Banco Nacional - Gazeta Mercantil 24/11/2006
24 novembro 2006
Vínculo entre conhecimentos
Não é possível nos dias atuais uma pessoa acreditar que o seu conhecimento de uma determinada área deve ficar restrito ao que acontece naquela área. A transição entre os conhecimentos é continua e por esta razão este espaço fala também de economia, administração, direito etc.
A figura mostra o mapa da cidade de Tel Aviv, onde as cores escuras representam as áreas iluminadas. O sítio Urban Economics utiliza esta imagem para mostrar como é difícil definir o que é área urbana e os seus limites. Alguns espaços em branco mostram a inexistência de prédios; outros é um espaço tão pequeno que poderia ser classificado como zona urbana.
O sítio mostra que é possível utilizar o conceito de fractal para identificação de autosimilaridade. O conceito de fractal tem sido utilizado em diversas ciências.
Poderíamos utilizá-lo na contabilidade financeira? Marcia Athayde mostrou em sua brilhante dissertação de mestrado que o conceito de fractal tem sido usado para pesquisa sobre preços de ativos. Mais especificamente, Márcia trabalhou com preços de cobre e tentou, com as teorias de fractais, determinar se era possível estimar os valores deste ativo.
Como estamos partindo para uma contabilidade a valor justo, a utilização de ferramentas como a teoria dos fractais pode ser interessante para os novos desafios.
A figura mostra o mapa da cidade de Tel Aviv, onde as cores escuras representam as áreas iluminadas. O sítio Urban Economics utiliza esta imagem para mostrar como é difícil definir o que é área urbana e os seus limites. Alguns espaços em branco mostram a inexistência de prédios; outros é um espaço tão pequeno que poderia ser classificado como zona urbana.
O sítio mostra que é possível utilizar o conceito de fractal para identificação de autosimilaridade. O conceito de fractal tem sido utilizado em diversas ciências.
Poderíamos utilizá-lo na contabilidade financeira? Marcia Athayde mostrou em sua brilhante dissertação de mestrado que o conceito de fractal tem sido usado para pesquisa sobre preços de ativos. Mais especificamente, Márcia trabalhou com preços de cobre e tentou, com as teorias de fractais, determinar se era possível estimar os valores deste ativo.
Como estamos partindo para uma contabilidade a valor justo, a utilização de ferramentas como a teoria dos fractais pode ser interessante para os novos desafios.
23 novembro 2006
Preço da ação e conflito 02
Outra reportagem, agora do Valor Econômico de 21/11/2006, sobre mesmo assunto:
Custo dos conflitos Por Catherine Vieira
Os analistas sempre observaram que as disputas societárias entre acionistas controladores e minoritários puniam as cotações em bolsa dos papéis das companhias em litígio. Agora, pela primeira vez, um trabalho acadêmico avalia o efeito que as notícias sobre esses conflitos têm sobre as ações. No trabalho "Impacto da Divulgação de Disputas entre Acionistas Controladores e Minoritários sobre o Preço das Ações no Brasil", o professor da FEA-USP, Alexandre Di Miceli contabiliza o tamanho do dano em 22 empresas envolvidas em disputa societária entre 2000 e 2006. A perda média ocasionada pelo impacto das notícias foi de 7%. Quando analisados os sete principais conflitos, essa perda média eleva-se para 21%.
O trabalho não analisa cada empresa de forma isolada. "Pretendemos fazer isso nas próximas pesquisas, mas a título de exemplo, pegamos um caso como o da Cosipa, que ocorreu em 2001, e notamos que a desvalorização média foi de 4% ao dia e no acumulado chegou a 60%", diz o autor.
O professor da FEA esclarece que essas perdas referem-se ao chamado retorno anormal negativo, ou seja, a variação das ações nos períodos menos a variação esperada. "Esse retorno esperado é obtido por meio de uma regressão da correlação do papel com o Índice Bovespa", explica Miceli. O mecanismo é utilizado para evitar distorções. "Não adianta dizer que a ação caiu no dia seguinte a uma notícia sobre conflito, é preciso ver o que ocorreu com o mercado".
O trabalho, elaborado com auxílio dos alunos Armando Dias Junior e Antoninno Matazzo e que acaba de ser premiado pelo Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef), seção São Paulo, analisa 26 eventos de conflitos societários por meio de notícias nos principais meios de comunicação via internet. "Analisamos apenas a primeira notícia relativa ao conflito e, com isso, chegamos a esse conjunto final de 26 notícias", diz. "Inicialmente coletamos 170, mas reduzimos também em função de outros eventos que poderiam estar influenciando as companhias naquele momento". Foram eliminadas companhias cujas ações têm baixíssima liquidez na bolsa.
O estudo analisa o comportamento das ações num intervalo de 16 dias, sendo cinco antes e dez depois da data de publicação da notícia. Também são comparados com a variação dos papéis nos 50 pregões anteriores à publicação. As disputas envolviam problemas como a troca de ações em condições desfavoráveis, cisão, incorporação, fechamentos "brancos" de capital, diluição e desrespeito a direitos de minoritários. "Nota-se que o poder da notícia é bastante grande, uma vez que muitos dos conflitos sequer estavam na esfera judicial", diz.
Dos 26 conflitos analisados, a maior parte está em empresas do setor de telecomunicações (8). Em seguida vêm os setores de química (5), siderurgia (5), energia elétrica (3), finanças e seguros (2), alimentos e bebidas (1), papel e celulose (1) e outros (1). "O fato de haver mais conflitos nas teles pode ser resultado de vários fatores", analisa Miceli. "É um setor com problemas decorrentes das estruturas de governança criadas nas privatizações e também é um segmento com muitas empresas grandes e de alta liquidez na bolsa".
Chamou também a atenção dos pesquisadores o fato de que o efeito negativo sobre as ações começa cerca de três dias antes da veiculação da notícia e se acentua até o dia seguinte da data de publicação. "Muitas vezes pode não ser exatamente um 'insider', mas investidores mais qualificados que percebem uma informação antes dos demais", avalia Miceli. Segundo ele, os papéis tendem a ensaiar uma recuperação no segundo e no terceiro dias, mas em seguida novo movimento de desvalorização ocorre. "Isso pode eventualmente ser causado por investidores institucionais, como fundos de pensão, que exigem um tempo um pouco maior para tomada de decisões".
Segundo o professor, os chamados "conflitos de agência" (nome técnico para esses embates) vêm sendo cada vez mais estudados no mundo à medida que a idéia do impacto positivo das práticas de governança ganha espaço. Nos países mais desenvolvidos, porém, onde boa parte das companhias têm controle difuso, essas disputas são entre os executivos que as comandam. "No entanto, habitualmente os estudos testam mais o impacto que podem ter a adoção de boas práticas de governança e, nesse trabalho, procurei fazer o caminho oposto e observar os problemas que podem decorrer da ausência destas práticas", explica.
Outra conclusão é a de que os conflitos não vêm se reduzindo com o tempo. Em 2001, foram observados três conflitos relevantes, mas em 2002 o número elevou-se para seis. Em 2003, foram quatro disputas societárias, número que voltou a subir para seis em 2004. O destaque positivo do ano de 2005, em que apenas duas brigas tiveram início, de acordo com o trabalho, logo se desfez este ano. Em 2006, até setembro, foram registradas cinco disputas. "Apesar de todo o movimento orientado para a adoção de boas práticas de governança, não se pode afirmar que os conflitos vêm diminuindo".
Entre as empresas analisadas estão: AmBev, Arcelor, Bamerindus, Biobrás, Bombril, Banco do Brasil, Brasil Telecom, Cataguazes Leopoldina, Cosipa, Eletrobrás, Enersul, Gerdau, Petroquisa, Rhodia Ster, Ripasa, Sanepar, CSN, Tele Centro Oeste Celular, Telefonica Data Holding, Telemar Norte Leste, Tele Norte Leste, Telesp Celular e TIM Participações.
Valor Economico - 21/11/2006
Preço da ação e Conflito 01
Reportagem da Gazeta de 21/11/2006:
Governança Corporativa - Notícia de conflito nas empresas faz ação cair São Paulo, 21 de Novembro de 2006 - O ano de 2006 vai passar para a história empresarial brasileira como o ano da governança corporativa. Nunca se discutiu tanto sobre o tema e nunca tantas companhias se mostraram abertas à busca de transparência, como mostra o aumento das discussões em público de conflitos de interesse envolvendo controladores e acionistas minoritários.
Este ano, o número de conflitos divulgados pela imprensa deve bater recorde. Já foram registradas oito ocorrências, entre elas Telemar e Arcelor, para citar as que mais fizeram barulho na mídia. Na avaliação do professor Alexandre Di Miceli, da Faculdade de Economia da USP, o aumento reflete um maior acompanhamento das empresas por parte de analistas de mercado e indica ainda que o público e a mídia estão mais atentos ao comportamento empresarial.
Miceli foi um dos vencedores do "Prêmio Revelação em Finanças Ibef-SP/KPMG", de 2006, com um estudo onde mostra, usando metodologia estatística, o rombo provocado pela falta de governança corporativa no bolso dos stakeholders (acionistas, fornecedores, consumidores). Segundo o estudo - realizado no período de 2000 e 2006, com base em 26 anúncios veiculados na imprensa, envolvendo 22 empresas -, as ações negociadas em Bolsa perdem em média 7% de seu valor nos dez dias após a divulgação do conflito.
Pesquisa com 22 companhias mostra que, na média, há perda de 7% no valor de mercado. O professor da FEA/USP, Alexandre Di Miceli foi premiado pelo estudo "Impacto das Divulgações de Disputas entre Acionistas e Controladores e Minoritários sobre o preço das Ações", onde demonstra, usando metodologia estatística, o rombo provocado pela falta de governança corporativa no bolso de todos os stakeholders.
O estudo, realizado no período de 2000 e 2006 , com base em 26 anúncios veiculados na imprensa, envolvendo 22 empresas, constatou que as ações negociadas em bolsa perdem, em média, 7% de seu valor nos dez dias após o nome da empresa aparecer na mídia. Entre os casos estudados, o da Cosipa foi o mais alarmante: a empresa chegou a perder 60% do seu valor de mercado.
"Esse resultado corroborou fortemente a hipótese do estudo de que o mercado reage de maneira brusca e negativa a notícias de disputas entre controladores e minoritários e outros conflitos", afirma Miceli.
Número de ocorrências
O setor econômico com maior número de ocorrências, conforme o estudo, foi o de telecomunicações, seguido pelos de química e siderurgia e metalurgia, com cinco ocorrências cada um. Os três foram responsáveis por 70% dos conflitos analisados.
A privatização esteve no centro dos conflitos apresentados por esses setores. Da maneira como foi realizada, criou estruturas de controle nebulosas. De acordo com Miceli, os principais conflitos apresentados pela amostra estudada foram: mudanças no bloco controlador; fechamento "branco" de capital; desrespeito aos direitos dos acionistas minoritários e transações duvidosas.
Como exemplo de transações duvidosas, o estudo cita o caso a multa que a Telefônica levou da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por deixar de convocar uma assembléia geral de acionistas para aprovar um contrato com a empresa do mesmo grupo, a Atento, para prestação de serviços de tele-atendimento.Concentração no Brasil
Um outro aspecto relevante do estudo diz respeito à estrutura de propriedade das empresas componentes da amostra. A existência de uma forte concentração de propriedade em países emergentes era esperado. No entanto, o Brasil tem uma concentração acima do esperado. "Aqui para uma pessoa ou grupo se tornar controlador de uma empresa é necessário possuir 50% das ações com direito a voto (ordinárias), mais uma, o que pode ser alcançado com um percentual bem inferior a 50% do capital total da companhia", conta.
Por outro lado, as empresas com menor concentração do direito de voto por um controlador, menor nível de endividamento, emissoras de ADR, maior tamanho e com ações mais líquidas apresentaram, em média, melhor desempenho, conforme o estudo do professor Miceli.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1 e B3)(Lucia Rebouças) - 21/11/2006
Vale x Funai
Notícia do Estado de hoje sobre o conflito entre Vale e Funai:
Funai e MP vão à Justiça contra Vale
A disputa entre a Companhia Vale do Rio Doce e a Fundação Nacional do Índio (Funai) ganhou novo capítulo com um pedido de liminar à Justiça Federal de Marabá. Junto com o Ministério Público, a Funai pede que a Vale restabeleça o pagamento de R$ 596.915,89 mensais aos índios xicrins, no sudeste do Pará, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia. A Vale cortou a indenização após o bloqueio às suas instalações em Carajás, há um mês.
22 novembro 2006
Remédio para quem precisa
Notícia da Reuters informa que prefeito da cidade Novo Santo Antonio, estado de Mato Grosso, começou uma campanha para distribuição de remédios para população idosa. Mais especificamente, para os idosos daquela cidade. Na realidade o prefeito decidiu distribuir um remédio: Viagra. A campanha está provocando uma alteração nos velhinhos de Novo Santo Antônio e recebeu o sugestivo nome de "Pinto Alegre".
21 novembro 2006
Olimpíadas de Londres - Parte 2
O custo de se fazer as Olimpíadas é elevado. A de Londres parece que não foge a regra. Foi revelado que a estimativa inicial, de 2,3 bilhões de libras, deve ultrapassar a 5 bilhões.
Uma das razões decorre de um erro de mensuração. Segundo o Financial Times, de 5 de novembro, os organizadores esqueceram de levar em consideração cerca de 1 bilhão de libras (quase dois bilhões de dólares) referente aos custos dos impostos dos projetos de construção de infraestrutura para os jogos. Estes custos não foram incluídos na proposta dos organizadores em 2004.
E os jogos Pan-Americanos? Quanto custa?
Clique aqui para mais informações
20 novembro 2006
Congresso de Contabilidade
Teremos em 2007 o Primeiro Congresso de Contabilidade organizado pela ANPCONT, que é a associação dos programas de pós-graduação em Contabilidade.
O Congresso
O Congresso ANPCONT pretende ser um evento de importante significado acadêmico-científico da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduaçào em Ciências Contábeis, em nível nacional. Este evento proporciona a interação da comunidade acadêmica, pesquisadores, professores e estudantes, representando um meio de divulgação da produção técnico-científica na área das Ciências Contábeis.
Este congresso concentra discussões relativas à Controladoria e Contabilidade Gerencial; Contabilidade para Usuários Externos; Mercados Financeiro, de Crédito e de Capitais; Educação e Pesquisa em Contabilidade. Sendo assim, o Congresso ANPCONT é um evento que busca estabelecer uma ligação entre estudos acadêmicos e aplicações em organizações, possibilitando aos participantes conhecer mais profundamente os diversos enfoques dos estudos nas Ciências Contábeis.
A primeira edição do Congresso está programada para o período de 17 a 19/6/2007, e com previsão de que ocorra a cada ano, sempre organizado pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis - ANPCONT.
Local de realização: Centro de Eventos Hotel Serra Azul - Gramado/RS
Número estimado de participantes: 200 pessoas
Abrangência do evento: Nacional
Comissão Organizadora
Profª. Dra. Ilse Maria Beuren
Prof. Dr. Fábio Frezatti
Prof. Dr. Jorge Katsumi Niyama
Prof. Dr. Ernani Ott
A realização do I Congresso ANPCONT tem como principais objetivos:
- Debater os temas relevantes das Ciências Contábeis, abordando aspectos referentes aos temas do evento;
- Divulgar a produção técnico-científica da área;
- Fortalecer a produção científica e o intercâmbio dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis do País.
Público-Alvo
O público-alvo do I Congresso ANPCONT são estudantes, professores, pesquisadores e profissionais. Espera-se Tendo em vista o número de Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis existentes no Brasil, espera-se que o evento conte com cerca de 200 participantes.
Atividades Previstas
Para atingir os objetivos especificados, há uma série de atividades previstas para o I Congresso ANPCONT: a) sessões temáticas (apresentação de trabalhos); b) palestras; c) painéis; e d) workshops.
a) Sessões Temáticas
Deverão ser aceitos 48 trabalhos, sendo que 24 serão apresentados em sessões temáticas interativas e 24 serão apresentados em sessões temáticas convencionais. No total, estão previstas 16 sessões temáticas. Cada uma dessas sessões irá se desenvolver por um período de aproximadamente uma hora e meia e será constituída pela apresentação e discussão de trabalhos afins.
b) Palestras
Estão previstas três palestras contemplando o tema central do Congresso, que deverão contar com pesquisadores, representantes de órgãos de regulamentação e fiscalização da pós-graduação (CAPES) e de órgãos de fomento à pesquisa (CNPq).
c) Painéis
Estão previstos dois painéis, que contemplarão assuntos relacionados com o tema central do Congresso. Um painel que versará sobre estudos de caso para ensino e outro sobre a qualidade dos Cursos de Doutorado em Ciências Contábeis das universidades americanas.
d)Workshops
Está previsto um workshop que contemplará assuntos relacionados com o tema central do Congresso. O workshop consistirá de tema que abordará a avaliação de trabalhos científicos.
Serviços Incluídos
Conforme as necessidades comuns a qualquer evento, a organização e realização do I Congresso ANPCONT deverão incluir os seguintes serviços:
- ambiente com privacidade e conforto reservado para autoridades e convidados;
- serviço de hospedagem, alimentação e translado aos palestrantes e convidados;
- serviços opcionais de City Tour;
- pacotes promocionais de hotéis e lazer para participantes;
- equipamentos audiovisuais;
- internet;
- avaliação de satisfação dos participantes.
Mais informações, clique aqui
O Congresso
O Congresso ANPCONT pretende ser um evento de importante significado acadêmico-científico da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduaçào em Ciências Contábeis, em nível nacional. Este evento proporciona a interação da comunidade acadêmica, pesquisadores, professores e estudantes, representando um meio de divulgação da produção técnico-científica na área das Ciências Contábeis.
Este congresso concentra discussões relativas à Controladoria e Contabilidade Gerencial; Contabilidade para Usuários Externos; Mercados Financeiro, de Crédito e de Capitais; Educação e Pesquisa em Contabilidade. Sendo assim, o Congresso ANPCONT é um evento que busca estabelecer uma ligação entre estudos acadêmicos e aplicações em organizações, possibilitando aos participantes conhecer mais profundamente os diversos enfoques dos estudos nas Ciências Contábeis.
A primeira edição do Congresso está programada para o período de 17 a 19/6/2007, e com previsão de que ocorra a cada ano, sempre organizado pela Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis - ANPCONT.
Local de realização: Centro de Eventos Hotel Serra Azul - Gramado/RS
Número estimado de participantes: 200 pessoas
Abrangência do evento: Nacional
Comissão Organizadora
Profª. Dra. Ilse Maria Beuren
Prof. Dr. Fábio Frezatti
Prof. Dr. Jorge Katsumi Niyama
Prof. Dr. Ernani Ott
A realização do I Congresso ANPCONT tem como principais objetivos:
- Debater os temas relevantes das Ciências Contábeis, abordando aspectos referentes aos temas do evento;
- Divulgar a produção técnico-científica da área;
- Fortalecer a produção científica e o intercâmbio dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis do País.
Público-Alvo
O público-alvo do I Congresso ANPCONT são estudantes, professores, pesquisadores e profissionais. Espera-se Tendo em vista o número de Programas de Pós-Graduação em Ciências Contábeis existentes no Brasil, espera-se que o evento conte com cerca de 200 participantes.
Atividades Previstas
Para atingir os objetivos especificados, há uma série de atividades previstas para o I Congresso ANPCONT: a) sessões temáticas (apresentação de trabalhos); b) palestras; c) painéis; e d) workshops.
a) Sessões Temáticas
Deverão ser aceitos 48 trabalhos, sendo que 24 serão apresentados em sessões temáticas interativas e 24 serão apresentados em sessões temáticas convencionais. No total, estão previstas 16 sessões temáticas. Cada uma dessas sessões irá se desenvolver por um período de aproximadamente uma hora e meia e será constituída pela apresentação e discussão de trabalhos afins.
b) Palestras
Estão previstas três palestras contemplando o tema central do Congresso, que deverão contar com pesquisadores, representantes de órgãos de regulamentação e fiscalização da pós-graduação (CAPES) e de órgãos de fomento à pesquisa (CNPq).
c) Painéis
Estão previstos dois painéis, que contemplarão assuntos relacionados com o tema central do Congresso. Um painel que versará sobre estudos de caso para ensino e outro sobre a qualidade dos Cursos de Doutorado em Ciências Contábeis das universidades americanas.
d)Workshops
Está previsto um workshop que contemplará assuntos relacionados com o tema central do Congresso. O workshop consistirá de tema que abordará a avaliação de trabalhos científicos.
Serviços Incluídos
Conforme as necessidades comuns a qualquer evento, a organização e realização do I Congresso ANPCONT deverão incluir os seguintes serviços:
- ambiente com privacidade e conforto reservado para autoridades e convidados;
- serviço de hospedagem, alimentação e translado aos palestrantes e convidados;
- serviços opcionais de City Tour;
- pacotes promocionais de hotéis e lazer para participantes;
- equipamentos audiovisuais;
- internet;
- avaliação de satisfação dos participantes.
Mais informações, clique aqui
Olimpíadas
A estimativa inicial era de 2.3 bilhões de libras para os Jogos de Londres. O comentário é que deve ultrapassar a 5 bilhões (clique aqui para link em inglês). Isto equivale a 300 novos hospitais (clique aqui). Vale a pena?
Lei e mercado
Trabalho de Rafael La Porta, Florencio Lopes-de-Silanes e Andrei Shleifer, do número de fevereiro de 2006 do Journal of Finance, procurou estabelecer o impacto da lei no desenvolvimento do mercado acionário de 49 países, inclusive o Brasil (Planilha com dados, em Excel, pode ser obtida aqui). Até que ponto o nível de evidenciação possui relação com as características legais de cada país. Achei interessante a metodologia de pesquisa utilizada pelos autores, pouco comum em artigos publicados no Journal of Finance: questionários para advogados (um questionário para cada país) descrevendo a lei do mercado de capitais. O Brasil saiu mal em exigências de evidenciação.
19 novembro 2006
Razão do aumento da terceirização
É inegável que tivemos um aumento na terceirização nos últimos anos. Uma das razões para este aumento pode ser explicado pela teoria da agência. Como?
"A terceirização dos negócios [ocorreu] (...) também por que se tornou mais fácil para as empresas monitorarem e previnir os custos de agência da terceirização."
Fonte: Economic
Poder da economia
Uma reportagem do mês passado mostra como é importante cultivar bons hábitos econômicos desde cedo. Utilizando como mote uma propaganda que incentiva o pai a presentear seu filho com um celular, a jornalista Mara Luquet, especialista em finanças pessoais, mostra que este mero presente, se trocado por aplicações financeiras, pode render um apartamento. É o poder dos juros compostos.
A seguir a reportagem, do Valor Econômico de 16 de outubro de 2006.
Em vez de celular, dê um apartamento para seu filho de 4 anos
Mara Luquet
Na última semana, foi possível ver o avanço tecnológico no portfólio de presentes para crianças. O que chamou mais a atenção foi um celular feito especialmente para crianças a partir dos 4 anos de idade.
Fala sério!!! Celular para crianças a partir de 4 anos?! Mas os produtos foram lançados porque há um enorme mercado. Crianças adoram celulares e os pais compram. Na verdade, os pais também adoram e há muitos argumentos em defesa, como a facilidade para encontrar seus filhos. Mas o fato é que crianças de 4 anos não andam desacompanhadas. E mesmo as mais velhas deveriam contar com mais atenção de seus pais do que simplesmente carregarem um celular. Mas essa é outra discussão.
A proposta é: dê um apartamento para seu filho, não o celular.
Simulação feita pelo economista Robinson Moraes, da equipe do Valor Data, mostrou que o valor desse celular, anunciado pela bagatela de R$ 800, pode render ao seu filho um bom dinheiro. Uma aplicação inicial de R$ 800, mais mensais de R$ 50 (o equivalente à conta de telefone, numa projeção muito conservadora) a uma taxa média anual de 8% chega ao final de 18 anos a R$ 26,6 mil. Se a carteira de investimento tiver um perfil mais agressivo e conseguir uma taxa média anual de 10% de retorno, o valor chega a R$ 33,3 mil.
Você pode então resgatar o dinheiro porque seu filho de 4 anos, que não ganhou o celular, terá 22. Mas se não o fizer e deixar aplicado por mais 20 anos, sem fazer nenhum aporte adicional, ele chegará à meia idade com um presente de R$ 155 mil (a uma taxa de 8% ao ano) ou de R$ 223 mil (a uma taxa de 10%). Um presentão que não exigiu nenhum esforço financeiro.
Adultos que aprendem na infância que os recursos são escassos costumam se tornar consumidores conscientes, o que faz bem não apenas para ele, mas para toda a comunidade. Sobre este tema vale a pena conhecer o trabalho do Instituto Akatu (www.akatu.org) e apresentá-lo também ao seu filho.
Agora, se você quer ajudar seu filho a alcançar a independência financeira e ainda contribuir para a boa saúde física e mental dele, então vá além. Aproveite a semana para fazer uma verdadeira limpeza nas quinquilharias eletrônicas que ele acumula no quarto. Comece pela televisão. É normal crianças e adolescentes terem suas próprias televisões no quarto. Um erro grave, segundo especialistas. Um estudo recente da Kaiser Family Foundation (www.kff.org) diz que 43% das crianças entre 4 e 6 anos têm televisão no quarto.
Esse mesmo grupo vê mais do que duas horas de TV por dia. A recomendação da Academia Americana de Pediatras (www.aap.org) é de que crianças acima de dois anos vejam no máximo duas horas de TV por dia. Para crianças abaixo de dois anos, a recomendação da academia é de que elas não assistam TV. No entanto, segundo a pesquisa da fundação Kaiser, mais de 40% dos bebês de até dois anos assistem TV todos os dias.
Quando questionados por que compraram a televisão para o quarto do filho, 55% dos pais responderam que essa era a forma de evitar brigas na hora da escolha da programação. O segundo motivo foi a capacidade da TV de manter o filho ocupado numa atividade segura, enquanto os pais podem cuidar de outros assuntos. Ou seja, nos dois casos, a TV resolve problemas dos pais, não dos filhos.
Já um trabalho da Academia Americana de Pediatria enumera os benefícios que as atividades físicas trazem não apenas para a saúde física, mas principalmente mental do seu filho. Jogar bola, correr, caminhadas, enfim, um lazer ativo é muito importante, segundo esse trabalho, para reduzir o estresse da criança e do adolescente e contribui fortemente para seu bem-estar.
Há muitos outros dados nas pesquisas apresentadas pela fundação Kaiser e que investigam crianças também em outras faixas etárias. Todas elas constatam que crianças e adolescentes estão perdendo muito do seu tempo com jogos eletrônicos, TV, computador, e atividades que podem comprometer seu bem-estar, com sérias implicações para o seu sucesso profissional e pessoal futuro.
O resumo dessa ópera é que ralos enormes no orçamento doméstico, como contas de telefone e de luz e ainda a pressão por gastos com as últimas novidades tecnológicas são criados pelos próprios pais. Eles vão buscar paliativos que custam caro. Mas, veja que ironia, o melhor investimento para seu filho não exige dinheiro, mas justamente o que lhe é mais caro: seu tempo.
Mara Luquet é editora da revista ValorInveste e autora do Guia Valor Econômico para o Planejamento da Aposentadoria
E-mail mara.luquet@valor.com.br
18 novembro 2006
Fatos da Semana
1. Morte de Friedman - o defensor do livre mercado acreditava que a responsabilidade social da empresa resume em gerar lucro. Polêmico, mas produtivo com mais 90 anos. Clique aqui para ver um ranking dos economistas mais produtivos dos Estados Unidos em outubro (aparecem na posição 270o.)
2. Ainda a questão da Petrobrás e Bolívia. Agora a contabilização das reservas - Clique aqui para ler
3. A assembléia da Telemar, que não deu em nada - Clique aqui
4. A briga da Vale com o governo e os índios. Clique aqui, aqui, aqui, aqui e aqui
5. Lucro do BB e BNDES. Os estatais também são rentáveis.
6. Os sócios misteriosos da Ecodiesel - Clique aqui e aqui
7. GM e Ford precisam dar garantias para obter empréstimos - Clique aqui
17 novembro 2006
Petrobrás deve contabilizar as reservas na Bolívia
Eis aí uma boa questão para pensarmos. As reservas que a Petrobrás tem contrato na Bolívia para operar devem constar de seu balanço? Segundo o ex-ministro boliviano, não. Segundo a empresa, sim. E a teoria, o que diz?
Eis uma nota do Valor de hoje sobre isto:
O Ministério da Presidência da Bolívia afirmou, em nota divulgada anteontem, que as petroleiras que operam no país não poderão contabilizar em bolsa as reservas bolivianas. A medida contradiz declarações recentes do presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, para quem a contabilização seria possível mesmo após a assinatura dos contratos de concessão. As companhias querem anotar como suas as reservas que operam na Bolívia porque estas podem ser usadas como garantia de financiamentos.
A Petrobrás informou ontem, porém, que não contabiliza reservas que opera, nem mesmo as brasileiras. A estatal explica que o que anota em seu balanço é o direito de operar as reservas, que, mesmo no Brasil, pertencem à União. Na época em que explicou o contrato com a Bolívia, Gabrielli disse que a área jurídica da empresa avaliara que, como se trata de um contrato de operação, as reservas podem ser contabilizadas.
Telemar
A decisão sobre a questão dos minoritários da Telemar ainda não saiu. A falta de quórum da assembléia do dia 13 impediu a votação sobre a reestruturação societária. Veja, a seguir, a reportagem do jornal Valor Econômico:
Decisão de Telemar deve ir para os pênaltis
Daniele Camba
Aconteceu o que o mercado previa: a decisão sobre a reestruturação societária da Telemar vai ficar para o fim do mês. Até lá, as ações da companhia devem oscilar ao sabor das expectativas da operação ser ou não concrentizada. Por falta de quórum na assembléia de ontem, o assunto não pôde ser votado. Era necessária a presença de pelo menos 50% mais um das ações preferenciais (PN, sem direito a voto) e só estavam presentes 29,17% das PNs. Na melhor das hipóteses, a próxima tentativa ocorrerá daqui dez dias, ou seja, no dia 23, e mais uma vez o quórum mínimo para instalar a assembléia é de 50% mais um das preferenciais. Se novamente não se atingir esse percentual, daí haverá uma terceira tentativa. Ela poderá ocorrer no mesmo dia dessa segunda assembléia, mas com aprovação exigida de apenas 25% das PNs.
Ontem, as ações da companhia refletiram a dificuldade da aprovação do negócio logo de bate e pronto. Em um dia em que o Índice Bovespa caiu 0,28%, as preferenciais subiram 2,31%, figurando entre as maiores altas do índice. Em tese, os detentores de PN têm todo o interesse que a reestruturação não ocorra, já que pela relação de troca das ações a participação deles no capital da empresa será bastante diluída. Já as ordinárias (ONs, com direito a voto), que ganham com a operação, caíram ontem 0,76%.
A relação entre ordinária e preferencial ontem era de 2,05 - o preço de uma ON representava cerca de 2,05 ordinárias -, mais baixo que os 2,1 da sexta-feira e ainda mais distante da relação de 2,6 estabelecida na operação. A leitura do mercado foi de que a falta de quórum significa que o negócio tem poucas chances de vingar, diz um analista.
O que se espera é que os controladores da Telemar tentem levar a decisão para os pênaltis (na terceira assembléia), exatamente para precisar de uma quantidade muito menor de acionistas endossando a reestruturação. Se isso ocorrer, os palpites estão divididos sobre qual será o desfecho.
Um acionista que participou da assembléia de ontem, estima que, dos 29% que estavam presentes, cerca de 24% estariam contra o negócio, restando apenas 5% a favor. Isso significa que o grupo favorável precisaria de, no mínimo, adesão de mais 20% das PNs para passar o negócio na terceira assembléia, o que dificultaria a vida do controlador. Já na visão de outro acionista que também participou da assembléia, alguns minoritários importantes não teriam comparecido, o que reforçaria a tese de que são a favor e devem comparecer apenas na terceira chamada, facilitando a aprovação com quórum reduzido.
Qualquer cenário com base na assembléia de ontem, no entanto, é pura especulação, já que a empresa não divulgou a lista de presentes. Para um analista do setor de telefonia, essa atitude prova a falta de transparência da empresa. "As ações preferenciais vão cair mesmo que a operação não passe, pois o evento deixou claro que o controlador não está comprometido com os minoritários", completa o analista, que recomenda a venda das preferenciais da Telemar para quem já possui lucros com o papel.
Queda das vedetes
A queda nos preços das commodities no mercado internacional deflagrou mais um pregão de baixa na bolsa de valores brasileira. O movimento externo contaminou as ações de companhias como Petrobras e Vale do Rio Doce, que juntas representam cerca de 30% do Índice Bovespa. As ações ONs e PNAs da Vale caíram 2,07% e 2,45%, respectivamente. Já as ordinárias da Petrobras caíram 3,04% (a segunda maior queda do Ibovespa) e as preferenciais 2,76%. Além das commodities, o resultado da Petrobras no terceiro trimestre um pouco abaixo do esperado acentuou o movimento de vendas dos papéis da companhia.
Ainda mais de Vale x Índios
A questão entre a Vale do Rio Doce e os Índios permanece. Hoje, no Estado de S. Paulo, nova reportagem sobre a empresa e a ajuda que a mesma fornece aos índios. A empresa disse que dá mais ajuda aos índios que o próprio governo, apesar de não ter obrigação legal para isto. Parece que a empresa percebeu que era refém do auxílio e estava sendo ameaçada.
Vale diz que dá mais ajuda a índios do que a Funai
Apesar disso, empresa sustenta que não tem obrigação de repassar verba
Irany Tereza
A Vale do Rio Doce informou ontem que destina mais dinheiro a cada índio das reservas próximas às áreas de mineração que explora do que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) juntas - embora sustente que não tem obrigação legal de repassar esses recursos.
A empresa foi acusada ontem pelo presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, de fugir a suas responsabilidades. Em entrevista ao Estado, Mércio disse que ela tenta escapar dos compromissos que assumiu com as comunidades indígenas na época de sua privatização.
Segundo o diretor de Assuntos Corporativos da Vale, Tito Martins, a empresa encerrará o ano com a destinação de quase R$ 30 milhões aos índios. 'São cerca de R$ 10 mil por índio ao ano, é mais do que fazem a Funai e a Funasa juntas.'
A Vale está recorrendo à Organização dos Estados Americanos (OEA) contra o governo brasileiro. Segundo Martins, a petição tem por objetivo obrigar o governo a assumir responsabilidades no trato com os índios e tornar viáveis as relações entre suas comunidades e a Vale. 'O que está nos incomodando é que se está desviando do foco principal: cadê a política indígena?', disse o executivo.
Segundo ele, as três recentes invasões de tribos a instalações operacionais da Vale causaram perda estimada em US$ 32 milhões. 'Há seis etnias diferentes. Se cada uma delas invadir nossas instalações pelo menos uma vez por ano, teremos um prejuízo entre US$ 70 milhões e US$ 80 milhões. Não podemos continuar nessa situação', reclamou Martins. Ele foi mais longe: disse que havia representantes da Funai entre os invasores do Complexo de Carajás. 'Se isso não é apoio, é pelo menos omissão', acusou.
O diretor alegou que um decreto a que se referiu o presidente da Funai, que obrigaria a Vale a dar assistência aos índios, levava em conta um acordo de concessão de direito de uso da terra que não chegou a ser assinado com o governo. A empresa diz ter responsabilidades ambientais e sociais, mas não que envolvam explicitamente as comunidades indígenas.
Aqui, o outro lado...
Funasa nega desentendimentos
A presidência da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) criticou ontem as declarações feitas ao Estado pelo presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, sobre a falta de entendimento entre os dois órgãos federais na área de atendimento aos índios.
Em nota, a Funasa afirma que as duas instituições já atuam em conjunto e que o atendimento teve 'avanços significativos'.
Lucro do BNDES
O lucro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no período de janeiro a setembro foi de R$ 5,716 bilhões. Aumento de 132% relação ao mesmo período de 2005. Metade deste lucro ocorreu no terceiro trimestre: R$ 2,399 bilhões. É recorde na história do banco. Os tempos são propícios também para os bancos estatais.
Variação dos preços e Valor Justo
A reportagem a seguir, da The Economist da semana, comenta a variação nos preços específicos dos produtos. Uma das críticas ao uso do valor justo na contabilidade financeira é exatamente a variabilidade no processo de mensuração contábil. Será que a relação do custo x benefício seria favorável ao valor justo?
Como e por que os preços variam se a inflação é estável?
The Economist
Dos Estados Unidos à Nova Zelândia, a estabilidade de preços é o "objeto de desejo" dos bancos centrais. Muitos deles vivem nessa Terra Prometida, ou perto dela: a inflação nos preços ao consumidor é 2,1% nos EUA, 1,6% na zona do euro, 2,4% no Reino Unido e 0,6% no Japão. Seria de imaginar que, como o nível geral dos preços não está mudando muito, o mesmo estaria acontecendo com preços de cada produto individualmente. Isso não é, necessariamente, verdade, como estão descobrindo os economistas tanto nos EUA como na Europa.
Com que freqüência os preços individuais são alterados é uma questão importante. Modificações nos preços são como semáforos para a economia, sinalizando às pessoas comprar mais disso e menos daquilo, gastar ou poupar ou procurar novo emprego. Se os semáforos mudam prontamente, os recursos podem ser redirecionados harmoniosamente; se enguiçam, travam a economia.
Em especial, se nem os preços nem os salários caírem com facilidade, o custo - em produção e empregos - da redução da inflação pode ser alto. Estabilidade de preços também implica que um choque inflacionário - por exemplo, um aumento no preço do petróleo - pode levar muito tempo para repercutir pelo sistema.
Embora de grande relevância macroeconômica, as evidências sobre estabilidade de preços estão no detalhe microeconômico de milhares de preços. Até há pouco tempo, os economistas sabiam surpreendentemente pouco sobre com que freqüência e em que medida os preços mudam, porque o volume de informações necessário é enorme e freqüentemente sigiloso (idealmente, os analistas preferem trabalhar, por exemplo, com os números com que são calculados os índices de preços ao consumidor ou com leituras dos scanners dos supermercados). Recentemente, porém, diversos pesquisadores tiveram acesso a dados úteis e os vêm analisando.
A maior parte dessas primeiras análises foi feita nos EUA - e muitas delas examinaram os preços de apenas alguns produtos, como revistas em bancas de jornais ou produtos adquiridos por reembolso postal. As pesquisas concluíram que esses preços mudaram apenas cerca de uma vez por ano.
Mas um estudo publicado em 2004 por Mark Bils, da Universidade de Rochester, e Peter Klenow, da Universidade Stanford, descobriu que a maioria dos preços muda mais freqüentemente. Bils e Klenow usaram dados de 350 produtos e serviços acompanhados pelo Birô de Estatísticas do Trabalho para calcular o índice de preços ao consumidor. Eles estimaram que, de 1995 a 97, metade desses preços mudaram pelo menos a cada cinco meses.
Novas pesquisas feitas por Emi Nakamura e Jon Steinsson, ambos alunos de pós-graduação em Harvard, salientam a importância de liqüidações e promoções na freqüência das mudanças de preços nos EUA. Liqüidações são muito mais comuns em alguns mercados que em outros, respondendo por 87% das mudanças nos preços de roupas (por exemplo, liqüidação de queima de estoques), 67% no caso de móveis (todos aqueles sofás pela metade do preço) e 58% dos alimentos processados (as latas de feijoada estão novamente com descontos), mas não há liqüidações de combustíveis para automóveis ou de água e eletricidade, e são praticamente inexistentes no setor de serviços (você se lembra de algum advogado que tenha lhe oferecido um desconto?).
Depois de excluídos os efeitos de liqüidações e ofertas especiais, a duração mediana dos preços no varejo ficou entre 8 e 11 meses em 1998-2005. Levando em conta as liqüidações, a duração da estabilidade dos preços cai para a metade, portanto um resultado aproximadamente coerente com os obtidos por Bils e Klenow. É também relevante, mas apenas um pouco, que Nakamura e Steinsson tenham estudado um período posterior, quando a inflação era ligeiramente inferior: eles assinalam que uma inflação elevada induz o comércio a subir os preços mais freqüentemente.
As evidências na zona do euro, fruto de um projeto de três anos do Banco Central Europeu (BCE) e concluído neste ano, sugere que os preços lá mudam menos freqüentemente do que nos EUA. Os economistas europeus descobriram que os preços no varejo mudam a cada quatro ou cinco trimestres.
A eliminação dos efeitos das liqüidações, onde havia dados disponíveis, fez pouca diferença: aparentemente, as liqüidações têm repercussão muito menor do que nos EUA. Esse resultado é coerente com a percepção generalizada de que a zona do euro tem uma economia menos flexível e ágil do que os EUA. Apesar disso, a Europa está longe de ser rígida: mais de 40% das mudanças registradas nos preços foram reduções, um percentual bastante parecido com as estimativas para os EUA. As variações nos preços na Europa, quando aconteceram, tenderam a ser grandes, seja para cima ou para baixo: o aumento médio foi de 8% e a redução média foi 10%, numa inflação de aproximadamente 2%. As variações dos preços nos EUA, para cima ou para baixo, são também bem maiores do que a inflação.
Nos dois lados do Atlântico, a freqüência das mudanças no preços varia enormemente. De modo geral, quanto maior a participação de matérias-primas num produto, mais freqüentes são suas mudanças de preços - os preços da gasolina mudam, em média, em cinco de cada seis meses tanto nos EUA como na Europa; os preços de alimentos frescos são alterados muito mais freqüentemente do que os de alimentos processados. Os preços de serviços são mais estáveis do que os de produtos. Isso pode ser conseqüência de serviços tenderem a ser mais intensivos em mão-de-obra do que produtos e de os salários serem mais estáveis do que outros preços. Isso parece ser especialmente válido na Europa, onde os mercados de trabalho são menos flexíveis que nos EUA e os serviços são mais regulamentados.
Menos de 6% dos preços dos serviços compilados na pesquisa da zona do euro mudam todo mês. Nos EUA, Bils e Klenow estimam a freqüência em torno de 20%; Nakamura e Steinsson dizem que a freqüência é de 44% no caso de preços de viagens e 9% para outros serviços. Mas as comparações transatlânticas são dificultadas pela diferenças nos serviços estudados.
O que as autoridades monetárias podem aprender com essas pesquisas? De modo geral, a investigação deve ser, provavelmente, motivo de otimismo, e não apenas porque diz aos BCs muita coisa sobre como suas economias funcionam. Os economistas europeus dizem que a inflação tornou-se menos persistente com o passar do tempo, à medida que a política monetária passou a concentrar-se em estabilidade de preços e na manutenção de baixas expectativas inflacionárias. E as evidências sobre estabilidade de preços pode deixar os BCs nos dois lados do Atlântico mais confiantes na manutenção de inflação baixa - teoricamente uma tarefa difícil se os preços raramente caem. As pesquisas sugerem que os preços caem com bastante freqüência - os BCs, assim como os consumidores, podem agradecer por todos aqueles cortes de preços nas latas de feijoada. (Tradução de Sergio Blum)
fonte: Valor Econômico, 13/11
Como e por que os preços variam se a inflação é estável?
The Economist
Dos Estados Unidos à Nova Zelândia, a estabilidade de preços é o "objeto de desejo" dos bancos centrais. Muitos deles vivem nessa Terra Prometida, ou perto dela: a inflação nos preços ao consumidor é 2,1% nos EUA, 1,6% na zona do euro, 2,4% no Reino Unido e 0,6% no Japão. Seria de imaginar que, como o nível geral dos preços não está mudando muito, o mesmo estaria acontecendo com preços de cada produto individualmente. Isso não é, necessariamente, verdade, como estão descobrindo os economistas tanto nos EUA como na Europa.
Com que freqüência os preços individuais são alterados é uma questão importante. Modificações nos preços são como semáforos para a economia, sinalizando às pessoas comprar mais disso e menos daquilo, gastar ou poupar ou procurar novo emprego. Se os semáforos mudam prontamente, os recursos podem ser redirecionados harmoniosamente; se enguiçam, travam a economia.
Em especial, se nem os preços nem os salários caírem com facilidade, o custo - em produção e empregos - da redução da inflação pode ser alto. Estabilidade de preços também implica que um choque inflacionário - por exemplo, um aumento no preço do petróleo - pode levar muito tempo para repercutir pelo sistema.
Embora de grande relevância macroeconômica, as evidências sobre estabilidade de preços estão no detalhe microeconômico de milhares de preços. Até há pouco tempo, os economistas sabiam surpreendentemente pouco sobre com que freqüência e em que medida os preços mudam, porque o volume de informações necessário é enorme e freqüentemente sigiloso (idealmente, os analistas preferem trabalhar, por exemplo, com os números com que são calculados os índices de preços ao consumidor ou com leituras dos scanners dos supermercados). Recentemente, porém, diversos pesquisadores tiveram acesso a dados úteis e os vêm analisando.
A maior parte dessas primeiras análises foi feita nos EUA - e muitas delas examinaram os preços de apenas alguns produtos, como revistas em bancas de jornais ou produtos adquiridos por reembolso postal. As pesquisas concluíram que esses preços mudaram apenas cerca de uma vez por ano.
Mas um estudo publicado em 2004 por Mark Bils, da Universidade de Rochester, e Peter Klenow, da Universidade Stanford, descobriu que a maioria dos preços muda mais freqüentemente. Bils e Klenow usaram dados de 350 produtos e serviços acompanhados pelo Birô de Estatísticas do Trabalho para calcular o índice de preços ao consumidor. Eles estimaram que, de 1995 a 97, metade desses preços mudaram pelo menos a cada cinco meses.
Novas pesquisas feitas por Emi Nakamura e Jon Steinsson, ambos alunos de pós-graduação em Harvard, salientam a importância de liqüidações e promoções na freqüência das mudanças de preços nos EUA. Liqüidações são muito mais comuns em alguns mercados que em outros, respondendo por 87% das mudanças nos preços de roupas (por exemplo, liqüidação de queima de estoques), 67% no caso de móveis (todos aqueles sofás pela metade do preço) e 58% dos alimentos processados (as latas de feijoada estão novamente com descontos), mas não há liqüidações de combustíveis para automóveis ou de água e eletricidade, e são praticamente inexistentes no setor de serviços (você se lembra de algum advogado que tenha lhe oferecido um desconto?).
Depois de excluídos os efeitos de liqüidações e ofertas especiais, a duração mediana dos preços no varejo ficou entre 8 e 11 meses em 1998-2005. Levando em conta as liqüidações, a duração da estabilidade dos preços cai para a metade, portanto um resultado aproximadamente coerente com os obtidos por Bils e Klenow. É também relevante, mas apenas um pouco, que Nakamura e Steinsson tenham estudado um período posterior, quando a inflação era ligeiramente inferior: eles assinalam que uma inflação elevada induz o comércio a subir os preços mais freqüentemente.
As evidências na zona do euro, fruto de um projeto de três anos do Banco Central Europeu (BCE) e concluído neste ano, sugere que os preços lá mudam menos freqüentemente do que nos EUA. Os economistas europeus descobriram que os preços no varejo mudam a cada quatro ou cinco trimestres.
A eliminação dos efeitos das liqüidações, onde havia dados disponíveis, fez pouca diferença: aparentemente, as liqüidações têm repercussão muito menor do que nos EUA. Esse resultado é coerente com a percepção generalizada de que a zona do euro tem uma economia menos flexível e ágil do que os EUA. Apesar disso, a Europa está longe de ser rígida: mais de 40% das mudanças registradas nos preços foram reduções, um percentual bastante parecido com as estimativas para os EUA. As variações nos preços na Europa, quando aconteceram, tenderam a ser grandes, seja para cima ou para baixo: o aumento médio foi de 8% e a redução média foi 10%, numa inflação de aproximadamente 2%. As variações dos preços nos EUA, para cima ou para baixo, são também bem maiores do que a inflação.
Nos dois lados do Atlântico, a freqüência das mudanças no preços varia enormemente. De modo geral, quanto maior a participação de matérias-primas num produto, mais freqüentes são suas mudanças de preços - os preços da gasolina mudam, em média, em cinco de cada seis meses tanto nos EUA como na Europa; os preços de alimentos frescos são alterados muito mais freqüentemente do que os de alimentos processados. Os preços de serviços são mais estáveis do que os de produtos. Isso pode ser conseqüência de serviços tenderem a ser mais intensivos em mão-de-obra do que produtos e de os salários serem mais estáveis do que outros preços. Isso parece ser especialmente válido na Europa, onde os mercados de trabalho são menos flexíveis que nos EUA e os serviços são mais regulamentados.
Menos de 6% dos preços dos serviços compilados na pesquisa da zona do euro mudam todo mês. Nos EUA, Bils e Klenow estimam a freqüência em torno de 20%; Nakamura e Steinsson dizem que a freqüência é de 44% no caso de preços de viagens e 9% para outros serviços. Mas as comparações transatlânticas são dificultadas pela diferenças nos serviços estudados.
O que as autoridades monetárias podem aprender com essas pesquisas? De modo geral, a investigação deve ser, provavelmente, motivo de otimismo, e não apenas porque diz aos BCs muita coisa sobre como suas economias funcionam. Os economistas europeus dizem que a inflação tornou-se menos persistente com o passar do tempo, à medida que a política monetária passou a concentrar-se em estabilidade de preços e na manutenção de baixas expectativas inflacionárias. E as evidências sobre estabilidade de preços pode deixar os BCs nos dois lados do Atlântico mais confiantes na manutenção de inflação baixa - teoricamente uma tarefa difícil se os preços raramente caem. As pesquisas sugerem que os preços caem com bastante freqüência - os BCs, assim como os consumidores, podem agradecer por todos aqueles cortes de preços nas latas de feijoada. (Tradução de Sergio Blum)
fonte: Valor Econômico, 13/11
Efeito diploma
Estudo revela queda do 'efeito-diploma' sobre salário
Raquel Salgado
Ter um diploma já não é mais uma vantagem tão grande na conquista de um salário melhor. Como mais pessoas estão se qualificando no país, os ganhos de rendimento relativos ao maior tempo dispensado à escola estão diminuindo. Em 2004, por exemplo, um trabalhador com o ensino superior completo ganhava 19,2% a mais do que aquele que tinha ido até o penúltimo ano desse nível. Em 1982, esse diferencial era muito maior, de 31%.
Um movimento semelhante, mas de menor intensidade ocorreu no ensino médio, chamado antes de colegial. Em 1982, ter completado os três anos desse grau fazia com que o salário subisse 31,8%. Dez anos depois, essa diferença atingiu os 40,5%. Pelos últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que são de 2004, o retorno à conclusão do ensino médio caiu para 27,2%. Os dados estão em um estudo dos economistas Anna Crespo e Maurício Cortez Reis.
"A tendência é que o prêmio refletido em salário maior por ter mais escolaridade diminua ao longo do tempo", comenta Reis, que é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Isso tem acontecido porque a população brasileira está cada vez mais educada.
Não adianta nem mesmo completar os quatro anos do primário. Há 14 anos, estudar esses quatro anos levava a um incremento de 3,5% no rendimento. Hoje, esse grau não agrega absolutamente nada ao salário.
Em 1992, 9,6% dos trabalhadores brasileiros tinham completado o ginásio. Em 2004, esse número subiu para 11,6%. No ensino médio, a elevação foi ainda mais significativa no período: de 14,2% para 23,6%. A quantidade de pessoas com um diploma de graduação também cresceu e foi de 5,4% para 6,4%. Em compensação, a quantidade de pessoas com pouca escolaridade tem declinado. No começo da década de 80, 26% dos ocupados tinham cursado os quatro primeiros anos da escola. Dez anos depois, em 1992, esse número cedeu para 21,2% e agora, em 2004, despencou para 13,55%.
A redução do diferencial entre os salários embora pareça algo negativo à primeira vista, é um movimento natural de mercados de trabalho mais desenvolvidos. E, no Brasil, tem tido alguns reflexos positivos. Um deles é ajudar na diminuição da desigualdade social, explica Naércio Aquino Menezes Filho, professor da Universidade de São Paulo e do Ibmec. Quanto maior for a escolaridade, menor será o prêmio por ela. E isso não é ruim, ressalta o economista. "A queda se dá em termos relativos e não significa que uma pessoa graduada está ganhando menos em valores absolutos, mas sim que ela não ganha tão mais que as outras", diz.
Apesar da maior escolarização dos brasileiros e do aumento nos graus de escolaridade, os números ainda são muito precários. Na Argentina, a média da população tem 12 anos de estudo, enquanto no Brasil essa média está em torno de 7 anos, comenta Menezes Filho. A qualidade da educação brasileira também deixa a desejar. Porém, para ele, é melhor colocar todas as crianças na escola ainda que o ensino não seja o ideal. Foi isso o que fizeram países como a Coréia do Sul.
"Não adianta melhorar a qualidade sem antes incorporar todo mundo à escola. Se não for assim, cria-se um estudo de elite, como a que tivemos aqui no passado", diz. Menezes Filho também defende o aumento do tempo que a criança passa na escola e o uso de instrumentos que motivem e avaliam de perto os professores. "O salário deles deveria depender do desempenho dos alunos em testes de proficiência", sugere o professor da USP.
Fonte: Valor econômico, 13/11
Assinar:
Postagens (Atom)