Continuando a série de reportagens sobre o negócio da Vale com a Inco, o texto a seguir - do Estado de hoje - lista alguns problemas da Inco. Destaca o texto o grau de conhecimento técnico da empresa juntamente com a má qualidade dos gestores. Além disto, parece que o peso trabalhista pode ser um problema, juntamente com as questões ambientais.
Uma empresa que já foi odiada pelos canadenses
Com a Inco, Vale incorpora os melhores técnicos de níquel do mundo e também muitos problemas com comunidades locais na mina de Goro
Mariana Barbosa
Ao adquirir a Inco, a Vale incorpora a seus quadros os melhores engenheiros e técnicos do mundo na área de níquel. Já os administradores da mineradora canadense não são lá muito conceituados. A avaliação é do analista em mineração da corretora canadense Salman Partners, Raymond Goldie, autor de um livro sobre a Inco. 'Os executivos estão mais disciplinados e já não cometem tantos erros estúpidos como no passado quando, por exemplo, entraram no mercado de baterias e perderam muito dinheiro', avalia Goldie, que não conseguia esconder sua tristeza.
Como a Inco não será mais negociada na bolsa de Toronto, Goldie deixará de acompanhar a mineradora - fato que faz parte de sua rotina há mais de 20 anos. 'O mercado financeiro e os advogados canadenses estão de luto', disse.
Goldie lembra que há duas décadas a Inco era odiada pelos canadenses. 'As pessoas pichavam 'Eu odeio a Inco' nos muros'. Hoje, porém, a imagem da empresa está bem melhor. 'Existem três vezes mais aposentados do que pessoas empregadas em Sudbury (sede da Inco, 400 km ao norte de Toronto). São os impostos da Inco que pagam as pensões', diz o analista financeiro.
Goldie alerta ainda que a Vale herdará uma companhia que possui um histórico 'bastante complicado' de relações com comunidades locais, meio ambiente e trabalhadores. Esses problemas, explica, têm provocado atrasos de vários anos nos cronogramas de implantação de importantes projetos de mineração. A mina de Labrador, no Canadá, por exemplo, adquirida em 1996, deveria ter iniciado produção em 1998, mas atrasou sete anos. 'A produção começou apenas no ano passado, pois a empresa subestimou os problemas que iria enfrentar com as comunidades locais.'
O mesmo, avalia, está acontecendo na mina de Goro, em Nova Caledônia, maior projeto de níquel em fase de implantação do mundo, com capacidade de extração de 55 mil toneladas a 60 mil toneladas ano. 'A relação com comunidades locais, trabalhadores e ambientalistas está muito ruim e, para ter sucesso, a Vale terá de reconstruir esse diálogo', diz. Ele lembra ainda que a mina está localizada em um território francês no Pacífico, onde a legislação trabalhista restringe a jornada nas minas a 35 horas semanais. 'Os trabalhadores franceses vêem com bastante suspeita a cultura trabalhista anglo-saxônica.' Além de constantes protestos e paralisações de trabalhadores, a Vale terá de enfrentar a resistência de ambientalistas da Austrália e da Nova Zelândia e dos nativos do grupo Rheebu Nuu, que se opõem ao projeto e querem ver a Inco fora do território.'
A previsão da Inco é de começar a extrair níquel de Goro já no início de 2008. No entanto, devido a esses conflitos, analistas como Ray Goldie já falam em um início de produção apenas em 2009. Se o atraso realmente acontecer, o preço do níquel deverá permanecer no atual patamar - o maior em 19 anos. 'O que não é de todo ruim para a Vale', diz Goldie.
FUSÕES E AQUISIÇÕES
A atual movimentação de fusões e aquisições no setor de mineração nada mais é do que um reflexo dos altos custos socioambientais da implementação de novos projetos, avalia Sophie Spartalis, da consultoria australiana Macquarie Research. 'Os produtores se saem melhor adquirindo ativos e tecnologias do que se comprometendo com um projeto novo, com todos os custos ambientais envolvidos', diz a analista, em relatório distribuído a clientes. Com a aquisição da Inco, a Vale irá justamente acelerar seu processo de diversificação. 'Com a Inco, a Vale se transformará no maior produtor global de níquel, evitando os custos envolvidos em uma estratégia de crescimento orgânico, diferentemente do que foi feito na área de cobre. Na avaliação dela, a experiência da Inco poderá complementar e contribuir para acelerar o desenvolvimento das reservas de níquel da Vale no Pará, os projetos Vermelho e Onça Puma.
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