Reportagem do Wall Street Journal comenta as dificuldades da Ford.
Com despesas em alta, caixa da Ford começa a cair e a preocupar analistas
October 6, 2006 4:05 a.m.
Por Jeffrey McCracken e Dennis K. Berman
The Wall Street Journal
Enquanto a Ford Motor Co. tenta novamente uma reviravolta, um assunto que vem atraindo atenção especial é a situação apertada de caixa da montadora, que já a obrigou a eliminar dividendos e pode levar à venda de ativos ou outras mudanças num futuro próximo.
A Ford está iniciando sua última reestruturação com uma razoável reserva financeira: quase US$ 23 bilhões. Essa quantia, porém, está abaixo dos US$ 25 bilhões do começo de 2006 e provavelmente continuará caindo até o final deste ano e início do próximo.
Analistas e empresas de classificação de crédito dizem que o custo de encolher a Ford está ficando maior conforme a montadora acumula gastos com rescisões de contratos por demissões em massa, aposentadoria antecipada e planos de demissão voluntária numa tentativa de eliminar aproximadamente 44.000 funcionários até o final de 2008. As metas da Ford são cortar empregos, fechar diversas fábricas e tornar a montadora rentável na América do Norte até 2009.
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O diretor financeiro da Ford, Don Leclair, diz que o caixa bruto das operações automobilísticas da empresa vai cair até o fim do ano para cerca de US$ 20 bilhões — um resultado suplementado por US$ 3,4 bilhões sacados de um fundo criado pelos funcionários para pagar custos de assistência médica para aposentados. Em 2006 a Ford gastará surpreendentes US$ 8,4 bilhões.
As ações da Ford, que até um ano atrás estavam sendo negociadas a US$ 10 cada, caíram para US$ 6,19 em julho último mas recuperaram-se e flutuaram entre US$ 8 e US$ 9 no último mês. Elas caíram mais de US$ 1 em 15 de setembro, quando a montadora divulgou seu último plano de reestruturação. Seu valor de mercado está na casa dos US$ 16 bilhões.
Só um dos 15 analistas que cobrem a Ford tem uma recomendação de "compra" para a empresa, de acordo com a Thomson Financial. As outras 14 recomendações variam entre "manter" e "vender". Em média, eles prevêem para a Ford em 2007 um prejuízo de US$ 0,23 por ação, comparada com lucro de US$ 4,36 por ação da General Motors e US$ 8,45 na Toyota.
Os custos de reestruturação, juntamente com o enorme corte de produção de veículos e os já esperados e sempre crescentes prejuízos trimestrais continuarão minando o caixa da Ford, fazendo com que a venda de ativos como as marcas Jaguar ou Land Rover e até mesmo a Ford Motor Credit, tornem-se inevitáveis, dizem analistas.
"Ao partir para uma tentativa de recuperação como esta, fica claro que a Ford irá gastar muito dinheiro em 2006 e 2007 entre reestruturação e custos operacionais. Eles ainda gastarão muito dinheiro antes de verem os benefícios do plano," diz Bruce Clark, vice-presidente da Moody's Investors Service, que na semana passada abaixou a classificação da dívida da Ford para B3, ou seja, seis graus abaixo no nível de investimento.
"Bem, se o plano não começar a dar resultados, eles continuarão queimando dinheiro e se precisarem fazer outra reestruturação como essa, não terão mais folga financeira. Eles têm de acertar desta vez.", diz Clark.
Ele diz que a Ford tem "um razoável colchão" de caixa, mas alerta que ele pode ser torrado rapidamente. Clark diz que a probabilidade de não pagamento da dívida das empresas B3 é de aproximadamente 26%.
Se o caixa tornar-se de fato uma preocupação, a Ford tem diversas, e ainda pouco discutidas, opções para o problema, de acordo com pessoas a par da situação. Uma das opções é começar a emitir títulos de dívida.
Uma outra opção ainda, segundo uma pessoa familiarizada com o problema, seria vender participações nas subsidiárias internacionais da Ford Motor Credit (Banco Ford). A empresa financeira tem operações na América Latina, Europa e na Ásia.
Eric J. Selle, do J.P.Morgan, diz em um relatório que a Ford está sendo otimista ao dizer que espera ter US$ 20 bilhões em caixa até o fim do ano, e estima que a montadora poderia ganhar até US$ 3,1 bilhões com a venda das marcas Aston Martin, Jaguar e Land Rover, com esta última arrecadando quase US$ 1,9 bilhão. Ele espera que estas marcas sejam vendidas nos próximos 12 meses.
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