28 setembro 2006
Um parasita do afeto humano
De um artigo do biólogo Fernando Reinach:
"quando o meio ambiente se modifica, os seres vivos incapazes de se adaptar são extintos. Por esse motivo um dos aspectos mais interessantes da biologia são as estratégias utilizadas pelos animais para sobreviver em novos ambientes. Meu exemplo favorito é uma espécie que desenvolveu a capacidade de explorar nossa habilidade de dar e receber afeto. Utilizando sua capacidade de parasitar diretamente nossa mente, esse animal conseguiu garantir a sobrevivência de sua espécie. Como todo parasita, teve de abrir mão de sua liberdade, mas valeu a pena: da maneira como o homem vem alterando o planeta, provavelmente essa espécie será a última do seu grupo a se extinguir, pois associou definitivamente seu destino ao nosso. É o cão.
(...) Mas para conquistar o privilégio de serem sustentados e protegidos pela espécie mais poderosa do planeta, eles tiveram de abrir mão de muitos privilégios, inclusive sua liberdade reprodutiva: muitas raças entregaram aos seus protetores a liberdade de escolher seus parceiros sexuais. O domínio que esses parasitas exercem sobre o sistema amoroso de seus hospedeiros é de tal ordem que a maioria dos humanos realmente acredita que ama seus cães. É impressionante o sucesso da estratégia evolutiva dessa espécie, talvez o único caso em que um parasita controla a mente de seu hospedeiro. Reconhecer esse fato só faz aumentar minha admiração pelos cães."
Do Estado de S. Paulo de ontem, p. A20
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