12 agosto 2006
Consignado aumenta o risco
Reportagem do Valor Econômico de 11/08 sobre o risco do consignado:
Consignado eleva risco de pessoa física
Tatiana Bautzer
A explosão do crédito consignado está contribuindo para aumentar a inadimplência da pessoa física em outros tipos de financiamento, afirmam executivos de bancos e financeiras. Com uma participação próxima de 50% da carteira total de crédito para pessoa física, o crédito consignado contribui para reduzir a renda disponível e deixa para operações de crédito sem garantia em folha um grupo de clientes com propensão maior à inadimplência.
"O efeito do crédito consignado sobre a inadimplência das outras carteiras é relevante, porque separa o pool de clientes entre os que têm risco menor por maior estabilidade na renda e os outros tipos de clientes", diz André Duarte, da área de crédito e risco de varejo do Unibanco. As perdas que já começam a aparecer nas carteiras dos bancos exigirão "um controle obsessivo do risco" nos próximos meses.
O crescimento do consignado coincidiu com o crescimento da inadimplência em outras carteiras também porque muitos clientes dos financiamentos com desconto em folha usam esse tipo de operação para pagar dívidas em linhas com juros mais altos - deixando os clientes com risco pior para recorrer às linhas mais caras.
A redução da renda disponível torna ainda mais urgente, segundo Duarte, do Unibanco, e Paulo Ísola, diretor executivo do Bradesco, o desenvolvimento do sistema de informações positivas sobre os clientes, o "bureau positivo" do qual vem se falando mas até agora não saiu do papel por falta de acordo entre os bancos, que relutam em compartilhar informações sobre o cadastro de seus clientes. "No caso da pessoa jurídica já existe um rating praticamente definido pelas classificações de risco da carteira de crédito exigidas pela resolução 2.682 do Banco Central. Precisamos vencer as barreiras para criar uma situação semelhante para a pessoa física", disse.
Num seminário sobre crédito promovido ontem pela Associação Comercial, o Bradesco anunciou que está fechando uma parceria com a Microsoft para financiamento de software à pessoa física. A parceria já existe em caráter experimental para pessoa jurídica, e o banco está ajudando a empresa americana a criar um canal direto de vendas para os seus consumidores. "Até agora a Microsoft não conhecia o seu cliente final, porque as vendas eram todas feitas via varejo", segundo Ísola. A empresa americana tentou uma parceria semelhante com bancos no México, mas não conseguiu os objetivos, e acabou criando o canal direto com o consumidor via crédito no Brasil. O modelo de parceria com a Ford Credit, iniciada depois da compra da carteira da instituição no país pelo Bradesco, deve ser exportado para outros países, reduzindo a necessidade de uso de recursos próprios da montadora para o financiamento na sua rede de concessionários.
Usando principalmente a marca Finasa, o Bradesco tem investido recentemente em parcerias com redes varejistas que atendem à população de baixa renda, adquirindo "know how" de análise de crédito para este público. Além de fazer o financiamento da Casas Bahia, uma das maiores carteiras de crédito popular, o banco já emitiu 1,7 milhão de cartões "private label" na rede de varejo Leader.
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