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12 agosto 2006

Bancos mudam, mas continuam lucrando


Segundo a Austin Rating, os bancos brasileiros estão mudando, com aumento da carteira de crédito, para compensar a redução na taxa de juros. Isto naturalmente tem provocado efeito nas suas provisões, que aumentaram no período. Veja a reportagem completa do Valor Econômico:

Lucros crescem apesar do calote

Maria Christina Carvalho
Os grandes bancos brasileiros estão se saindo bem frente ao desafio de aumentar a carteira de crédito para compensar a queda das taxas de juros. A conclusão é do presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, ao avaliar os balanços do primeiro semestre já divulgados.

Até ontem os três maiores bancos privados de varejo já haviam divulgado o balanço do primeiro semestre mostrando uma expansão dos resultados de 19,5% no caso do Bradesco e Itaú a 25,1% no do Unibanco. No total, dez bancos já divulgaram o balanço. A evolução média do resultado é de apenas 8,3%, acentuadamente inferior à dos três maiores privados, puxado pela queda de 53,2% do ganho do BMG e de 34% do Pine. O lucro líquido consolidado dos dez bancos atingiu R$ 7,942 bilhões.

A estratégia praticamente unânime dos grandes bancos de varejo foi emprestar mais para pessoa física. Essas operações trazem maior risco, disse Rodrigues. Por isso, a inadimplência aumentou, exigindo um forte reforço das provisões. Mas, trazem maior retorno. "Quem souber dar crédito nesse segmento, com as garantias adequadas, vai se dar bem", disse o especialista.

O aumento médio da carteira de crédito dos dez bancos foi de 25,6%, de R$ 191,467 bilhões para R$ 240,539 bilhões. Mas, a receita de crédito cresceu mais ainda, 35,4%, para R$ 27,968 bilhões. Essa conta não leva em consideração as despesas feitas para lastrear as operações de crédito, mas revelam a estratégia dos bancos de partir para operações de maior retorno, com pessoas físicas, mudando o mix das carteiras.

A outra face da moeda foi o aumento da inadimplência. A taxa média de inadimplência no balanço dos dez bancos - medida pela relação entre as operações com mais de 60 dias de atraso e a carteira total - subiu de 2,3% em junho de 2005 para 3,4% em junho passado. Mas isso não preocupou Rodrigues, porque os bancos reforçaram as provisões.

As despesas com provisões saltaram 83,9% no mesmo espaço de tempo, para R$ 6,887 bilhões. O saldo das provisões aumentou 44,1% para R$ 15,91 bilhões. E a relação entre saldo de provisões para devedores duvidosos e a carteira total de crédito passou de 5,8% para 6,6% entre junho de 2005 e junho passado, na média dos dez bancos que já divulgaram os balanços.

No entanto, levantamento feito pela Austin Rating a pedido do Valor com os três maiores bancos privados mostra que as provisões já foram maiores em relação à carteira total de crédito há três anos. O Itaú que, neste semestre, é o banco privado de varejo com maior volume de cobertura, com 8,3% de índice, já chegou a ter 9,7% em junho de 2002 e 8% em junho de 2003.

Em segundo lugar ficou o Bradesco, com um índice de 6,6%, dentro da média do mercado, que já exigiu índices de 7,78% em junho de 2003 e 7,2% em junho de 2004. De acordo com o presidente da Austin Ratings, "a maior parte dos bancos está com provisões adequadas e alguns, como o Itaú e o Unibanco, até desaceleraram algumas operações".

A intensidade do aumento das provisões variou conforme a instituição. Houve "um ou outro caso de conservadorismo exagerado", disse Rodrigues, mas a razão foi o aumento da inadimplência. O Itaú e o BicBanco, por exemplo, aumentaram o saldo de provisões em 73% e 72,3%, respectivamente. No caso do Itaú, o saldo das provisões atingiu R$ 5,6 bilhões, um terço do total dos dez bancos (outro terço é do Bradesco e o Unibanco, tem 14%).

O Itaú também se destacou por mais do que dobrar as despesas com provisões - o aumento foi de 133,5% do primeiro semestre de 2005 para os R$ 2,5 bilhões de igual período deste ano. Mas outro destaque importante dos resultados do banco nesse semestre foi o aumento da inadimplência de 2,2% para 3,3% da carteira em reflexo ao crescimento das operações de financiamento ao consumo.

Rodrigues também notou que a receita de serviços continua crescendo nos bancos. Com a queda da inflação e o fim das receitas de floating, os bancos passaram a cobrar pelos serviços prestados e também criaram novos produtos. Com isso, a participação da receita de serviços no total de receitas operacionais dos bancos passou de 3,5% na entrada do Plano Real para 20% atualmente, passando a ter um peso superior ao do próprio floating. "Hoje, a receita de serviços constitui uma importante fonte de ganho para os bancos", afirmou.

A previsão da Austin Rating é que o lucro dos bancos vai crescer cerca de 20% neste ano, em linha com o comportamento do primeiro semestre; com um retorno médio ao redor de 22%. A carteira de crédito promete aumentar em 20% a 25%

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