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05 junho 2006

Modismo em Investimentos

Modismo pode dar prejuízo

Aplicações - Investimentos que ganham fama

repentina nem sempre são indicados para o longo prazo

YUKI YOKOI
DO JORNAL DO COMMERCIO

Os investimentos financeiros também estão sujeitos aos modismos. São aqueles períodos em que determinadas aplicações ganham maior visibilidade e parecem ser, sem dúvidas, a alternativa mais atraente do mercado. Os ativos rurais já foram moda e, recentemente, ganharam novamente as manchetes dos jornais. Casos como Boi Gordo e Avestruz Master traumatizaram muitos investidores. No entanto, nem tudo que está na moda é prejudicial ao investidor. Pelo contrário. Aplicações como previdência privada e fundos multimercados ganharam fama e continuam a conquistar espaço no mercado, com produtos cada vez mais diversificados. Evidenciam de que nem tudo que é moda tem caráter efêmero, como diz a definição semântica.

Em dezembro de 2000, o patrimônio dos fundos multimercados representava 4,16% de todo o setor de fundos de investimentos. Um ano depois, a aplicação já era responsável por 22,46% dos recursos aplicados no segmento, o que representa um aumento de 439% em 12 meses. Atualmente, os multimercados representam 18,35% do patrimônio líquido total de R$ 805,4 milhões. Parte do crescimento e do desenvolvimento destes produtos deve-se ao aumento do número de gestores independentes e à estabilidade econômica dos últimos anos.

Estratégias variadas e possibilidade de investimento em ativos diversos seduziram muitos investidores que, recentemente aderiram a outra moda: os multimercados com estratégia long/short. Este tipo de aplicação é também chamada de não-direcional, já que não acompanha a evolução de um mercado específico ao buscar ganhos com a movimentação relativa dos preços.

Acompanhamos cerca de 27 fundos long/short. No ano passado, a captação líquida dessa mostra de aplicações somou R$ 1,3 milhão e patrimônio de R$ 3,7 bilhões. É um movimento tão recente que não temos dados anteriores. Neste ano, a captação soma R$ 719 milhões e o patrimônio, R$ 4,7 bilhões disse Marcelo Mazironi, sócio da Hedging Griffo Corretora.

O especialista destacou ainda a onda de saques que dominou o segmento a partir do final de 2004. Até então, os multimercados haviam passado apenas por momentos positivos e, com o aumento da volatilidade, cerca de R$ 3 bilhões da mostra de fundos acompanhada pela Hedging Griffo saíram da aplicação. "Em 2004, os cerca de 66 multimercados que acompanhamos registram ingresso de apenas R$ 470 milhões e patrimônio de R$ 17 bilhões". Mazironi afirma ainda que a participação dos multimercados continuará crescente. "Mas será em uma velocidade menor", afirmou.

Os títulos públicos indexados à inflação, como as NTN-B, também viraram moda nos últimos meses. Prêmios atrativos e incentivo fiscal para estrangeiros que comprassem os papéis elevaram a procura pelos títulos. Atualmente, as NTN-B voltaram a ter preços atrativos, após a realização de lucros do mês de maio. No entanto, segundo um especialista, não há compradores devido à elevada procura anterior.

Em 2000, os papéis preferenciais da Net chegaram a valer R$ 30,18. Na época, investidores de todo o mundo apostavam em massa nas companhias do setor tecnológico, principalmente Internet. No Brasil, a empresa que mais se assemelhava ao modelo da moda era Net, o que provocou uma elevação exagerada dos preços. Para muitos aplicadores e profissionais do mercado, a empresa de TV a cabo seria a transmissora, no País, de toda a tecnologia de ponta que estava para chegar.

No entanto, o período que ficou conhecido como a bolha da Internet estourou. Os atentados de 11 de setembro de 2001 também ajudaram a impor maior pessimismo aos aplicadores. Em 14 de fevereiro de 2003, Net PN chegou à mínima de R$ 0,14. A perda acumulada em relação à máxima foi de exatos 99,53%. Atualmente, os papéis preferenciais da empresa valem cerca de R$ 1,13 e, nos primeiros cinco meses do ano, acumulam alta de 5,6%.

Lucio Graccho, do HSBC Investments, lembra que os fundos diferenciados de ações já foram moda. "Em 2002 e 2003 surgiram muitos fundos focados em dividendos. Anteriormente, as atenções estavam voltadas para os setoriais. Todos esses produtos continuam no mercado, mas sempre há uma empolgação maior por parte dos investidores enquanto o produto é novidade", disse.

Outro tipo de modismo é quando o movimento é baseado em oportunidades de mercado. Foi o que aconteceu em 2002, quando a disputa presidencial provocou forte pessimismo. Na época, o dólar assumiu trajetória ascendente em relação ao real e chegou a quase R$ 4 em outubro. "Este foi um modismo que teve explicação. Estava associado à instabilidade política e perdeu muitos cotistas quando o mercado se acalmou", lembrou Alan Gandelman, da Ágora Senior Corretora.

Evitar alocações excessivas em investimentos, mesmo os que estão na moda, é fundamental. De acordo com especialistas, cada aplicador deve analisar claramente se os recursos investidos estão de acordo com suas expectativas. Nesta hora, risco da aplicação e metas de retorno são características que não podem ficar esquecidas.

Armadilhas que escondem as aplicações da moda

Estar na moda não significa ser um mau negócio. Os produtos ganham visibilidade no mercado quando somam características positivas, como projeção favorável e risco compatível. No entanto, podem ser também uma armadilha para os investidores mais afoitos. De acordo com a consultora Lilian Gallagher, da LMG Consultores Associados, os principais erros cometidos pelos seguidores de modismos do mercado são desconhecimento do produto e perfil inadequado à aplicação. Para evitar problemas, a especialista recomenda:


1 - Buscar informações sobre o produto em questão. O investidor deve ter noção de como a aplicação reagirá diante de cenários positivos e negativos e relacionar estes dados à sua expectativa de retorno. 2 - Conhecer o próprio perfil e sua adequação ao investimento desejado. Cada investidor tem um grau diferente de tolerância ao risco. 3 - Analisar o prazo da aplicação, a liquidez e a volatilidade. A dica é aplicar somente os recursos que são adequados a estas características, evitando saques em momentos inadequados.

ALGUNS MODISMOS DO MERCADO

NET - Em 2000, as ações preferenciais chegaram a valer R$ 30,18. Na época, o mercado americano passava pelo boom das empresas ligadas à tecnologia, principalmente Internet. No Brasil, a companhia que mais se aproximava era a Net. O aumento da demanda provocou uma alta exagerada dos preços. Na mínima desde o início do Plano Real, Net PN chegou a R$ 0,14, em fevereiro de 2003. Neste ano, a alta é de XX%.

BOI GORDO - Em outubro de 2001, a Fazenda Reunidas Boi Gordo entrou com pedido de concordata. A empresa de capital aberto emitia Contratos de Investimentos Coletivos (CICs) e foi o caso mais famoso de investidores insatisfeitos após aplicação em ativos rurais. Com a promessa de ganhos de até 40% ao ano, atraiu cerca de 35 mil credores, entre eles atores e jogadores de futebol, além de pequenos investidores. A falência foi decretada em abril de 2004.

PREVIDÊNCIA PRIVADA - De 2002 ao final de 2004, a participação do patrimônio dos fundos de previdência aumentou mais de 100%. Segundo profissionais, resultado da estabilidade econômica, que permitiu aos investidores buscar aplicações de longo prazo. A tendência é o segmento continuar a crescer, principalmente após a implantação da tabela regressiva do Imposto de Renda.

FUNDOS CAMBIAIS - Tiveram seu auge em 2002, às vésperas da eleição presidencial, quando o dólar chegou a valer cerca de R$ 4. É um típico de exemplo de modismo baseado em oportunidade de mercado. Na época, a tensão política gerou forte procura pela moeda. Ao final de 2002, a classe de fundos representava 1,73% de todo o patrimônio líquido do setor. Hoje, a participação é de 0,21%.

AVESTRUZ MASTER - É mais um caso de investidores lesados após serem atraídos por ganhos acima da média com aplicações em ativos rurais. Boatos sobre as dificuldades financeiras da empresa e uma possível falência surgiram com força no mercado em novembro de 2005. A companhia, sem registro na CVM para distribuição de valores mobiliários, chegou a prometer ganhos de 11% ao mês. O caso ainda está sendo analisado pela Justiça.

FUNDOS MULTIMERCADOS E COM ESTRATÉGIA LONG/SHORT - De dezembro de 2000 até dezembro de 2001, o patrimônio dos multimercados no setor de fundos aumentou 439%. Já os fundos com estratégia long/short surgiram mais tarde e tendem a ganhar cada vez mais espaço. São também chamados de não-direcionais porque buscam ganhos com a movimentação relativa dos preços. A Anbid ainda não tem uma classificação específica para este tipo de fundo.

AÇÕES ESTREANTES - As ações que estréiam na Bovespa, em geral, têm pouca cobertura dos analistas do mercado, mas muita procura por parte dos investidores. Natura ON foi a primeira da série de IPOs bem sucedidos, realizados desde 2004. O histórico recente de lucros acima da média atrai cada vez mais aplicadores e pode ser uma armadilha. Nada garante ao investidor que a maré de sucesso continuará.

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