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07 junho 2006

Futebol 3

Outra notícia sobre Futebol e Mercado.

Torcida organizada
Por Adriana Cotias
07/06/2006

Gigantes do mundo financeiro como Goldman Sachs, UBS e ABN Amro dedicaram extensos relatórios ao tema Copa do Mundo, com estatísticas sobre favoritos e até correlações entre países vencedores do torneio e o crescimento da economia. A dois dias do início do campeonato, não dá para ignorar que, num país apaixonado por futebol como o Brasil, o evento esportivo tem o potencial de mexer com o ritmo de transações e até com os ânimos dos investidores. Nos bastidores, os negócios com opções das seleções participantes já mobilizam meio mercado e o time canarinho aparece como um dos contratos mais valorizados.

A rotina do investidor muda a começar pelos pregões da Bovespa e da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), que terão seus horários reduzidos quando o Brasil entrar em campo. Nos jogos dos dias 13, contra a Croácia, e 22, contra o Japão, as operações na Bovespa vão terminar às 15 horas, duas horas antes do encerramento regular. E não haverá after-market.

Na BM&F, os negócios envolvendo contratos futuros de Ibovespa e IBrX-50 acompanham o mercado à vista, assim como as transações com taxas de câmbio e de juros futuros. A roda de dólar à vista vai funcionar das 9 às 15 horas. As agências bancárias vão atender das 9h30 às 14h30 nas capitais, interior e regiões metropolitanas.

E se tudo vai parar antes do jogo, mais cautela precisará ter o investidor, pois a liquidez se reduz naturalmente nesses dias e ordens de compra e venda podem não ser executadas com a facilidade dos pregões tradicionais. "É melhor não deixar os negócios para o final", recomenda o diretor da Fator Corretora Antonio Milano.

Além da questão da liquidez, a Copa do Mundo ainda mexe com os brios da economia. É mais ou menos sabido que alguns setores costumam ser beneficiados, mas a tese foi levada ao extremo no estudo Soccernomics do holandês ABN Amro , que procurou quantificar a relação entre futebol e crescimento econômico.

Ao avaliar as copas desde 1970, os autores Ruben van Leeuwen e Charles Kalshoven concluem que países que conquistam o campeonato adicionam, na média, 0,7 ponto percentual ao PIB do ano em comparação ao anterior. Já o vice-campeão perde 0,3 ponto percentual no ritmo de atividade. O mercado acionário do vencedor também costuma reagir melhor comparativamente, com um retorno médio de 10%, ante perda de 25% do finalista perdedor. Esses desempenhos estão associados não só ao aumento da confiança dos agentes econômicos, mas também à evolução das relações comerciais no avançar do campeonato, já que alguns países ficam na vitrine.

O "favorito econômico" dos estudiosos é um país europeu, mais especificamente a Itália. A nação é, na visão deles, a que precisaria ter a economia impulsionada, já que Estados Unidos, América Latina e Ásia têm apresentado taxas de crescimento relativamente altas nos anos recentes. Usando correlações estatísticas, eles concluem, porém, que será o Brasil que baterá a França na final em Berlim.

Pelo modelo de probabilidade do Goldman Sachs, a seleção brasileira tem 12,4% de chances de conquistar o título. Em segundo lugar aparece a Inglaterra (8,6%), seguida pela Espanha e França (cada uma com 8,3%), Holanda (8%), Argentina (7,4%), Portugal (5,8%), Alemanha (5,5%) e Itália (5,3%).

O relatório de 59 páginas traz uma contribuição do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que faz um paralelo entre a economia brasileira e as copas. Ele lembra que, em 1982, o Brasil voltou da Espanha derrotado pela França bem às vésperas da reestruturação da dívida externa - desencadeada pelo "default" do México, dando início à chamada década perdida. Em 1994, ano da vitória brasileira sobre os Estados Unidos, foi o marco do processo de estabilização de preços com o Plano Real. E após a conquista de 2002, Fraga dá o seu palpite bem ao gênero mesa redonda: Ronaldo e equipe conduzirão o Brasil ao hexacampeonato.

Não é o que prevê, entretanto, a equipe de análise da UBS Wealth Management Research, que por meio de simulações similares às usadas em previsões para o mercado concluiu que a Itália é que erguerá a tão almejada taça após enfrentar o Brasil na final.

No meio da badalação esportiva, o investidor não pode esquecer, sobretudo, que Wall Street, o cerne do estresse que tem remexido os mercados emergentes, continuará a todo vapor. Nas mesas nacionais será um olho na TV e outro nos terminais com os índices das bolsas internacionais e cotações de bônus, commodities e moedas, diz o diretor de Varejo da Ágora Senior, Marcelo Smarrito. "Se o investidor fez posições bem fundamentadas, o mercado pode ferver lá fora e aqui ele pode desligar os botões", diz.

Quanto às opções de investimento, o frenesi com a Copa do Mundo já vinha sendo incorporado aos preços das ações pertencentes à cadeia do consumo desde o início do ano, diz o diretor da Concórdia Corretora Marcelo Canguçu. Mas, com a virada recente, algumas oportunidades reapareceram. Nas indicações para a Carteira Valor de junho, oito entre as dez corretoras participantes sugeriram papéis relacionados ao aquecimento da atividade: Guararapes, Net, Pão de Açúcar, Lojas Americanas e Itaú são alguns desses exemplos.

O analista da Link Corretora Adriano Blanaru tem Ambev PN entre as suas indicações. Independente dos rumos do campeonato, ele diz que a fabricante de bebidas vem adotando um programa mundial de redução de custos espelhado na operação brasileira. E como os ativos da controladora do Canadá estão debaixo da Ambev, a subsidiária brasileira tende a captar a racionalização. Marco Melo, chefe de análise da Ágora, também indica Ambev PN e calcula que o volume de vendas entre junho e julho será de 5% a 10% maior do que 2005 só pelo efeito Copa.

Valor Econômico

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