Ainda tentando entender o que ocorreu com a Petrobrás e a Bolívia, li um artigo muito instrutivo colocado, no dia 7 de maio, no blog de Becker e Posner, sendo o primeiro Nobel de Economia, o segundo um sério candidato ao prêmio.
Gary Becker questiona a razão pela qual a América Latina está movendo no sentido contrário aos outros países do mundo. Enquanto China e Índia, que possuem 40% da população do mundo, estão saindo do socialismo e do comunismo, os políticos da América Latina usam uma linguagem anti-capitalista.
Uma possível explicação é que a linguagem não significa necessariamente a adoção de uma política de esquerda. Cita o exemplo de Lula da Silva, que apesar da origem esquerdista e de confronto sindical, é conservador na área fiscal.
Becker acredita que uma possível razão para a oposição ao capitalismo na América Latina é o "crony capitalism". Crony é uma palavra da língua inglesa cuja tradução seria "amigo íntimo de longa data". Utilizarei o termo capitalismo da amizade. Segundo Becker "o capitalismo da amizade é o oposto do capitalismo competitivo, que produz resultados sociais desejáveis. O Capitalismo da amizade é um sistema onde empresas com forte conecções com o governo ganha poder econômico, e não por ser mais competitiva, mas pelo uso do governo para favorecimento e proteção de sua posição. (...) Algum cronysmo é encontrado em todos os países, mas Méxicoe e outros países latinos tem influencia das conexões políticas no seu extremo."
"Em essência, o capitalismo da amizade quase sempre cria monopólios privados que ferem consumidores comparados com o bem-estar na competição (...) Uma característica do Chile desde as reformas do início de 1980´s é o crescimento no capitalismo competitivo em detrimento do capitalismo da amizade".
"Um fator adicional para a recente ressureição da esquerda na América Latina é o acesso desigual na educação e no capital financeiro que tem produzido um grau pouco usual de desigualdade de renda em muitos desses países."
Com respeito a Bolívia e a Venezuela, Becker lembra que "democracia e capitalismo competitivo são menos prováveis de florescer quando óleo e outros recursos naturais trazem consideráveis receitas para os governos, mesmo sem políticas econômicas adequadas. O paradoxo desse efeito negativo no desempenho econômico do crescimento da receita de recursos naturais tem sido notado freqüentemente, e tem sido algumas vezes chamado de Dutch disease".
Becker lembra que o exemplo do Chile, vis-a-vis com Cuba, não tem sido instrutivo: "sucesso do Chile nos últimos vinte e cinco anos e o desastre da economia de Cuba tem influenciado muitos economistas latinos e alguns escritores, mas tem tido menos influencia nos resultados das eleições do que poderia ser esperado".
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