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31 maio 2006

Redução da Exigência para Crédito

Outra reportagem enviada por Ricardo Viana

Proposta do BC reduz exigências para crédito imobiliário e varejo
Alex Ribeiro
23/05/2006

Os bancos poderão alavancar ainda mais seus empréstimos de varejo e imobiliários, caso seja aprovado um conjunto de normas colocado sob consulta pública pelo Banco Central. São ao todo três resoluções e sete circulares, que, entre outros pontos, reduzem as exigências de capital próprio dos bancos para fazer frente a riscos de perda inesperada nesses dois tipos de operação de crédito. As regras também diminuem a exigência de capital para posições em câmbio e, de outro lado, criam novas exigências de capital para cobrir riscos de operações com commodities, com cupom cambial e ações.

O conjunto de normas, que foi divulgado na página do BC na internet, faz parte do cronograma de implantação no Brasil do chamado acordo da Basiléia 2, um entendimento internacional aprovado em 2004 para fortalecer a regulação prudencial do sistema financeiro. Sugestões para aperfeiçoar as propostas do BC são aceitas até 21 de julho.

O princípio básico por trás desse acordo é que os bancos coloquem capital próprio em cada uma de suas operações ativas e passivas para que, no caso de perdas inesperadas, seja menor o risco de prejuízo para os depositantes. O capital próprio mínimo dos bancos, tecnicamente chamado de patrimônio líquido exigido (PLE), é calculado segundo diversas fórmulas, uma para cada grupo de ativo e passivo, como operações de crédito, risco de juros e exposição cambial. A proposta apresentada pelo BC muda os parâmetros de algumas dessas formulas e cria novas.

No caso dos empréstimos de varejo, a norma foi suavizada, de modo que, em termos práticos, os bancos terão que ter capital próprio 25% menor para bancar os riscos inesperados nessas operações. No caso das operações de crédito, o capital mínimo é calculado em duas etapas. Primeiro, aplica-se um percentual sobre o valor da operação, de acordo com o seu risco. Depois, calcula-se 11% do valor encontrado na primeira etapa. O resultado é o capital próprio requerido para cobrir o risco de perda inesperada em operações de crédito.

A norma atual obriga que, na primeira etapa do cálculo, seja aplicado um percentual de 100% sobre o valor das operações de varejo - percentual idêntico ao aplicado à maior parte das operações de crédito. A proposta apresentada pelo BC reduz o percentual para o varejo para 75%. "São operações com risco mais diversificado", justifica o diretor de Normas do BC, Alexandre Tombini.

Na minuta colocada sob consulta pública, o BC conceitua operações de varejo como aquelas feitas com pessoa física ou empresas com faturamento anual de até R$ 2,4 milhões; realizadas por instrumentos típicos de varejo, como crédito direto ao consumidor, cartões de crédito e financiamento de automóveis; cuja exposição do banco com o cliente não seja superior a R$ 100 mil; e com valores que não representam mais de 0,2% da carteira de varejo do banco.

O BC também pretende aliviar, em 30%, a exigência de capital para as operações de crédito imobiliário. Como todas as demais operações de crédito, nos empréstimos imobiliários o capital é calculado em duas etapas. Na regra em vigor, primeiro aplica-se um percentual de 50% sobre o valor das operações. Depois, o banco separa o equivalente a 11% em capital próprio para cobrir riscos inesperados de perda. O que o BC quer reduzir o percentual da primeira etapa - em vez de 50%, seria usado 35%.

A regra mais suave, porém, seria aplicada apenas a financiamentos de imóveis residenciais garantidos por alienação fiduciária, desde que o saldo devedor não supere 50% do valor da garantia - que normalmente é o próprio imóvel. O percentual de 50% continua a ser aplicado, porém, nos empréstimos habitacionais garantidos com alienação fiduciária, cujos saldos devedores estejam entre 50% e 90% do valor do imóvel; e nas operações garantidas por hipotecas, desde que o saldo não equivalha a mais de 90% da garantias.

Também foi reduzida a exigência de capital para cobrir perdas inesperadas em operações de câmbio. Pela regra anterior, os bancos tinham de ter capital próprio equivalente a 50% das operações em ouro, moedas estrangeiras e operações sujeitas à variação cambial. A norma proposta só exige 30%.

Na prática, custará menos para os bancos manterem posição comprada ou vendida em moeda estrangeira. Tombini negou que a medida tenha qualquer intenção de interferir na tendência da cotação do dólar. "É bom lembrar que a regra vale para quem tem posição ativa ou passiva em dólar", disse. "Ou seja, vale tanto para quem aposta a favor do dólar ou contra do dólar." Segundo ele, a proposta teria caráter apenas prudencial, para garantir solidez ao sistema financeiro.

A norma propõe a criação de exigência de capital para operações com "commodities". Essa exigência seria calculada em duas etapas. Primeiro, seria calculada uma exigência de capital de 15% para o valor absoluto da exposição líquida em "commodities" -ou seja, a posição comprada menos a vendida em determinados tipos de "commodities". A essa exigência se somaria mais uma parcela de 3% incidente sobre as posições brutas aplicadas nessas mesmas "commodities".

A proposta também visa a instituir exigência de capital para as posições de cupom cambial em dólar dos Estados Unidos (juros recebidos em aplicação referenciada em moeda estrangeira). O montante de capital será calculado de acordo com um modelo de "value at risk" - a exemplo do modelo adotado para risco de mercado com juros - com os parâmetros definidos pelo BC. Também foi criada uma fórmula de cálculo de exigência de capital de ações para negociação imediata, que considera os grupos de ações negociadas em um mesmo país.

Tombini não revelou qual será o impacto líquido das medidas na exigência total de capital do sistema financeiro. "Fizemos nosso cálculos, para fazer as propostas", disse. "Agora queremos ouvir a avaliação do mercado."

O BC propõe também mudar a fórmula de cálculo do patrimônio de referência, que hoje é dividido em dois níveis, o 1 e o 2. No nível 1, está basicamente o patrimônio líquido, enquanto que no nível 2 está, por exemplo, as dívidas subordinadas. A proposta retira, entretanto, do capital nível 1 os ágios pagos na aquisição de investimentos - incluindo operações em que um banco compra outro. O chefe do Departamento de Normas do BC, Amaro Gomes, explica que a regra só se aplicaria a novas operações. "De qualquer forma, queremos ouvir dos participantes do mercado as suas avaliações sobre os impactos dessa proposta", disse.

Valor Econômico

Desempenho depende da pronúncia do nome da empresa

Sou assinante do Estadão e não tinha visto essa notícia, que o Ricardo Vianna enviou. Muito interessante:

Performance da ações é ligada à pronúncia do nome da empresa
30/5/2006
Estadão

A facilidade em pronunciar o nome de uma empresa e a sigla que a representa na lista de cotações influencia a performance do papel nos dias que se seguem à oferta pública inicial, descobriram dois psicólogos da Universidade de Princeton. Um novo estudo sobre ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) de duas importantes bolsas de valores dos EUA mostram que as pessoas têm mais probabilidade de comprar ações novas com nomes fáceis de pronunciar, de acordo com os pesquisadores Adam Alter e Danny Oppenheimer. O efeito se estende à facilidade de pronúncia do símbolo de cotação, geralmente com algumas poucas letras.

"A pesquisa mostra que as pessoas tomam atalhos mentais, mesmo quando se trata de investimento, quando aprece que deveriam querer ser mais racionais", disse Oppenheimer. O trabalho será publicado na edição desta terça-feira do periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

A pesquisa começou com outro objetivo em mente: os pesquisadores pediram a um grupo de estudantes que estimasse como uma série de ações de empresas fictícias iria se sair na bolsa. "Na época, nosso objetivo principal era estudar se poderíamos manipular como as pessoas interpretam a sensação de que é fácil entender uma informação".

No entanto, a correlação entre pronúncia e previsões positivas mostrou-se forte - não importava como os pesquisadores manipulassem a situação, os estudantes acreditavam que as ações com nomes fáceis iriam se sair melhor.

Com esse dado, os cientistas resolveram analisar as performances em duas grandes bolsas - a de Nova York e a Americana. O efeito se manteve no mundo real: quanto mais "fluente" fossem o nome e o símbolo, melhor tinha sido o lançamento do papel.

Fonte:
Estadão

30 maio 2006

As Multis do Brasil

A questão da Bolívia expôs um problema até então relegado ao segundo plano: as empresas brasileiras que são hoje multinacionais. O volume de investimento de algumas companhias nacionais em outros países tem aumentado significativamente, como uma forma de conquistar novos mercados e, até certo ponto, defender a posição no mercado nacional. De acordo com os dados do BACEN, divulgados hoje na Gazeta Mercantil, os ativos das nossas multis aumentaram 44% nos últimos cinco anos.

Algumas empresas conseguem hoje um faturamento maior no exterior do que no mercado doméstico. É o caso da construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez. A reportagem cita outros exemplos:

A WEG (...) tem 60% do mercado de motores industriais de toda a América Latina. A Camargo Correa adquiriu a maior companhia de cimento da Argentina.

Controladora da Santista Têxtil, a Camargo fecha nas próximas semanas joint venture com a Tavex para fornecer jeans à Espanha. (...) A Camargo também é dona da São Paulo Alpargatas, fabricante das globalizadas sandálias Havaianas. A Camargo adquiriu em junho de 2005 a cimenteira Loma Negra, ícone dos argentinos, assim como a Perez Companc, comprada pela Petrobras. A estatal brasileira tem ativos em todos os países da América do Sul, além dos Estados Unidos, África, e Ásia.

[A] Petrobras (...) está em processo de reavaliação(...)por conta da redução das receitas em dólar (com a valorização cambial). Hoje, 11% das reservas totais da companhia estão no exterior. Percentual bem menor que o de construtoras que passaram a ganhar mais fora do País.

(...) Cerca de 45% do faturamento [da Andrade Gutierrez] parte de obras no Brasil. Dez por cento encontra-se em outros países da América Latina e 32% em Portugal. No caso da Odebrecht, 41% dos contratos estão no Brasil e 44% em Portugal.


Esses investimentos trazem uma dificuldade maior para o analista das demonstrações financeiras e a necessidade de maior cuidado com a leitura dos riscos inerentes aos mesmos.

29 maio 2006

Pão de Açúcar corta custos

Notícia do Estado de S. Paulo informa que o Pão de Açúcar pretende cortar custos e diversificar sua atuação, incluindo a venda de móveis.

A maior rede do país está passando por uma reestruturação a entrada no ramo de móveis. Segundo a reportagem "o interesse pelos móveis se explica por ser um negócio com boas margens de lucro e porque ampliaria a variedade de produtos à venda no grupo. Estaria dentro do plano estratégico de reduzir sua dependência da venda de alimentos. Hoje, produtos fora da área alimentícia já representam 24% das vendas do Pão de Açúcar e, segundo especialistas, essa fatia poderia chegar a 30%."

O problema da área de alimentos está relacionado com ao aumento dos preços abaixo da taxa de inflação, o que faz com que esse setor seja hoje pouco atrativo para a rede. Entretanto, a reportagem não deixa claro como o setor de móveis pode ser útil para o grupo. Esse é um setor que exige uma grande quantidade de espaço físico, item valioso num supermercado.

Nesse ponto, inclusive, a reportagem chama atenção para queda na venda por metro quadrado, de R$ 13.448 em 2004 para R$ 13.404 em 2005.

Entre as medidas que estão sendo tomadas pelo grupo para redução dos custos tem-se "o corte das agências de publicidade que atendiam às diferentes bandeiras, a criação de uma central de serviços não compartilhados (para gastos administrativos) e a redução de pessoal. Em 2005, a rede cortou 645 funcionários, mas no início do ano as dispensas cresceram."

Uma análise interessante foi realizada por Marcio Kawassaki, da Fator Corretora. Para ele, o Pão de Açúcar deve "aumentar vendas num momento em que o mercado não cresce e em que o consumidor tende a fazer cada vez mais suas refeições fora de casa. Até alguns anos atrás o crescimento das maiores empresas era garantido pela aquisição de redes menores. Agora que as empresas menores foram compradas, a briga é para ganhar participação de mercado".

Clique aqui para ler a notícia completa

Comportamento irracional

Reportagem recente do Valor sobre finanças comportamentais

Comportamento irracional traz perdas e oportunidades

Mara Luquet
29/05/2006

Mais do que nunca os partidários da escola comportamental estão conquistando adeptos no mercado de ações. Esses estudiosos estão convencidos de que as emoções - e não aspectos fundamentalistas de uma empresa ou de uma economia - é que estão no comando das decisões da média dos investidores. Eles tendem a reagir excessivamente a notícias boas ou ruins. Por isso, o efeito manada tem ocorrido com uma freqüência maior, deixando muitas vezes para trás os pilares da chamada "eficiência" do mercado.

O debate vem aumentando e, mesmo os partidários da eficiência do mercado, reconhecem que este é um fenômeno que não pode ser desconsiderado. Ao contrário. Tanto investidores como administradores de empresas têm de considerar esse aspecto em suas rotinas de trabalho.

Um estudo da consultoria McKinsey divulgado recentemente com considerações sobre os efeitos da atitude irracional de investidores também aponta algumas oportunidades para os executivo de empresas cujas ações tenham sido alvo de euforia ou nervosismo do mercado. No trabalho, assinado por Marc Goedhart, Timothy Koller e David Wessels, os estudiosos dizem que um momento de alta ou queda irracional dos preços das ações pode ser interessante para que o executivo da empresa considere algumas atitudes estratégicas.

Um exemplo é emitir ações quando os preços estão com alta que supera o valor intrínseco da empresa ou ainda aproveitar esses momentos para fazer aquisição de outros ativos utilizando as ações da empresa como moeda em lugar do desembolso de recursos. Já se os preços estão muito depreciados de forma irracional, o melhor é iniciar um programa de recompra das ações.

Para eles, é certo que o comportamento irracional do investidor leva o mercado para direções na maior parte das vezes errada, pressionando excessivamente o preço de uma ação tanto para cima como para baixo. Para os administradores dessas empresas, a questão crítica é saber com que freqüência esses desvios ocorrem, quando eles acontecem e se são significantes o bastante para afetar o processo de decisão de investimentos da empresa.

Já para você investidor, conhecer esse fenômeno e ficar atento as suas ocorrências é importante, basicamente porque ele pode proporcionar excelentes negócios tanto na hora de vender suas ações (aproveitando os momentos de alta irracional) quanto para recompor sua carteira de investimentos em momentos de nervosismo exagerado.

Afinal, isso é o que todos procuram: as ações baratas. Pois comprar uma ação barata é garantia de lucro, às vezes lucros enormes, capazes de construir fortunas ao longo do tempo.

No entanto, não se engane. O fato de o preço de uma ação estar baixo não significa que ela está barata. Os chamados investidores do contra ("contrarian investors") adoram esses momentos porque o que eles gostam é exatamente de ir contra o mercado. Assim, eles se dispõem a comprar uma ação depois de um declínio sustentado do preço, na expectativa de uma retomada. "Eles acreditam que uma ação que tenha perdido de 80% a 90% de seu preço no pico tem muito mais chances de ser uma pechincha", diz o professor Aswath Damodaran no livro "Mitos de Investimentos", editado no Brasil pela Prentice Hall.

Mas Damodaran adverte que a bonança depois da tempestade não é uma regra. Montar uma estratégia que foque apenas em ações perdedoras tem um risco elevado que não deve ser desprezado. Assim, diz Damodaran, é necessário uma análise mais acurada e o investidor deve colocar alguns filtros para formar essa carteira. Um deles que pode ser bastante útil nessa estratégia é o que ele chama de catalisadores de melhorias.

Por esse filtro, o investidor deve escolher entre as ações perdedoras apenas aquelas de empresas com resultados positivos no último trimestre e com aumento do lucro no exercício anterior. "A idéia, aqui, é a de que empresas que estejam ganhando dinheiro não apenas são de menor risco, como também têm mais liberdade para realizar as mudanças necessárias para chegar a um estado saudável", diz Damodaran.

Mara Luquet é editora da revista ValorInveste e autora do Guia Valor Econômico para o Planejamento da Aposentadoria

Enviado por Ricardo Vianna

Cientistas deixam de inventar quando se casam

Certas notícias da internet parecem que foram feitas para "pegar" o leitor incauto.

A mais nova foi divulgada pelo sítio Science Carriers e trata da produção científica e o impacto do casamento. Satoshi Kanazawa, da University of Canterbury, na Nova Zelândia, analisou dados de 280 grandes cientistas e descobriu uma queda na produtividade, mostrada nas descobertas e publicações. Quando olhou a história de cada pessoa, ele encontrou que a redução da produtividade nos cientistas solteiros era menor.

"A produtividade dos cientistas machos tendem a cair depois do casamento" afirma Kanazawa. "Cientistas tendem a ´desistir´ da pesquisa científica depois do casamento".

Kanazawa tem uma explicação controversa sobre os dados que encontrou: "O homem conduz a pesquisa científica para atrair a mulher e casar (...) Casar é o objetivo (...) ciência é o meio."

27 maio 2006

Os Problemas da GM no Brasil

A reportagem da Isto É Dinheiro sobre os problemas da GM no Brasil:

Problemas em marcha na GM
Brigas judiciais com os revendedores, prejuízos recorrentes, denúncias de sonegação fiscal – há diversos obstáculos diante da montadora em sua busca pelos lucros no Brasil


Por joaquim castanheira

A trajetória da General Motors no Brasil tem sido tão acidentada quanto as estradas brasileiras onde rodam seus automóveis. Nos últimos tempos, uma série de más notícias tem perturbado a vida da filial da maior montadora de automóveis do mundo. A empresa apresenta dificuldades de se livrar de um persistente vermelho que mancha seu balanço por aqui. Nos dois últimos anos, as perdas acumuladas atingiram US$ 330 milhões. Não bastasse isso, a companhia convive com uma arrastada disputa jurídica com um grupo de ex-concessionários, que pleiteiam indenizações pelo que eles consideram “rescisão unilateral” dos contratos. Esses processos geraram pelo menos duas denúncias pesadas contra a montadora. Uma delas diz respeito a um eventual uso indevido dos recursos da GM Factoring, um fundo de capitalização controlado pela rede de concessionários e administrado pela GM. A outra refere-se a um possível subfaturamento de veículos importados. São esses alguns dos problemas capazes de tirar o sorriso do rosto do canadense de origem chinesa Ray Young, que, desde janeiro de 2004, comanda as operações da GM. Se a tradição de mandatos de três anos na filial brasileira for mantida, Young, 44 anos, cumpre seus últimos meses no País. E esforça-se para cumprir a missão que recebeu ao ser nomeado: devolver o lucro à subsidiária. Antes, porém, precisará superar os problemas que avançam sobre a companhia em marcha acelerada.


TROMBADA COM A REDE

Salvador Satriani vende automóveis numa concessionária Renault, localizada em um prédio em Pouso Alegre (MG). Anos atrás, ele freqüentava o mesmo local, mas numa condição diferente. Satrini era dono da Itasa, revenda da GM. O edifício também lhe pertencia. Descredenciado pela montadora, ele perdeu tudo. De empresário passou a funcionário. Assim como ele, 117 concessionários tiveram seus contratos cancelados entre 2000 e 2004. “Houve um período em que eram dois descredenciamentos por semana”, diz Antônio Carlos Martins, também ex-revendedor da marca. Ele e outros 42 concessionários se uniram num grupo para negociar com a GM. Até agora, não tiveram sucesso. “Não queremos voltar a trabalhar com a empresa”, diz Sérgio Soares, que vendia automóveis da montadora em Birigui (SP). “Queremos ser ressarcidos pelos nossos prejuízos.” Hoje, correm quase 90 processos na Justiça em relação a esse assunto. Segundo Martins e Soares, a GM rompeu os acordos unilateralmente, por intermédio de notificações extra-judiciais. A GM nega qualquer irregularidade. “A rescisão do contrato de concessão é válida, prevista em lei e nos princípios que regem a legislação brasileira. A decisão da GM é tomada com base em razões fundamentadas, decorrentes do descumprimento das obrigações assumidas pela concessionária ou por irregularidades por ela praticadas”, afirma em comunicado enviado à DINHEIRO.
Zero Hora

Todos os custos de fechamento das concessionárias ficaram por conta dos proprietários. A conta inclui os encargos trabalhistas, equipamentos da oficina, débitos com fornecedores, reforma dos prédios desocupados, entre outros itens. Em média, de acordo com Martins, o encerramento de atividades consome R$ 3 milhões. A indenização reivindicada pelo grupo soma, além desse valor, uma compensação equivalente a cinco anos de lucro. “Cada um deveria receber entre R$ 5 milhões e R$ 6 milhões”, calcula Áureo Bonilha, consultor contratado para negociar em nome do grupo. Se todos os ex-concessionários fossem contemplados com essa dinheirama, os cofres da GM emagreceriam até R$ 700 milhões. “Fizemos ao longo de décadas investimentos exigidos pela GM para atender os padrões da empresa. Assumimos compromissos financeiros na condição de representantes da montadora e saímos sem qualquer indenização”, diz Martins.

DIREÇÃO PERIGOSA

Abriga judicial da GM com os ex-concessionários gerou alguns filhotes. Um deles veio na forma de uma denúncia de Arnaldo Boacnin, um dos sócios de uma concessionária descredenciada. A acusação? A eventual má gestão da GM Factoring, uma empresa criada e controlada pelos concessionários da marca e administrada pela empresa. Hoje, a GM Factoring administra algo em torno de R$ 800 milhões. Tudo começou em 2002, quando Boacnin procurou o Ministério Público Federal para denunciar que a companhia “não segue os padrões e regramentos concernentes à sua espécie”. Entre outros fatos “estranhos” e “insólitos”, como diz Boacnin em seu depoimento, a GM Factoring adquiriria créditos da GM do Brasil antes desses créditos existirem. Para isso, uma nota fiscal sem data de vencimento para pagamento era emitida. O crédito era pago, segundo Boacnin, mesmo sem os documentos necessários, como duplicatas e faturas. Os ex-concessionários queixam-se que a GM também não devolveu suas contribuições feitas à factoring. “Isso geraria, em valores de hoje, algo em torno de R$ 100 milhões”, afirma Edison Mussi, que possuía uma revenda em Nova Friburgo (RJ). “A GM refuta veementemente qualquer acusação de uso ilegal do Fundo. As decisões judiciais até o momento proferidas em casos que discutem questões relacionadas ao Fundo não constataram qualquer irregularidade em sua constituição ou utilização”, afirma um comunicado da companhia enviado à DINHEIRO.


DERRAPADA NO FISCO?

Aconteceu há quase dez anos, mas continua vivo nos processos que vários ex-concessionários movem contra a GM. Durante um certo período, carros importados pela filial brasileira da montadora de suas unidades na Bélgica e na Argentina chegavam às revendas acompanhados de dois documentos. Um deles era a nota fiscal com o valor do veículo. Dias depois, o concessionário recebia uma nota de débito, emitida pela GM. Nela eram cobradas despesas com peças e treinamento para profissionais de venda e assistência técnica. Na primeira, incidiam os impostos previstos nesse caso. A segunda ficava isenta desses tributos, embora o concessionário pagasse as duas. Os serviços não eram prestados, segundo os denunciantes. “O treinamento de funcionários é realizado apenas uma vez para cada modelo de veículo”, diz Antônio Carlos Martins. “Mas a GM cobrava o mesmo serviço para cada unidade faturada. Além disso, se houvesse despesas com peças, uma nota fiscal deveria ser emitida para esse fim.” Exemplo: em 19 de junho de 1997, a Martins Veículos, de Bauru, recebeu uma pick up Silverado, fabricada na Argentina, com uma nota fiscal no valor de R$ 32.125,24. No mesmo dia, a GM enviava uma nota de débito de R$ 5.390,89 a título de serviços prestados que deveriam ser pagos pela concessionária. Ou seja, a Martins pagou nesse caso R$ 37.516,13, mas os impostos só incidiram sobre R$ 32.125,24. “Há todas as características de sonegação fiscal”, diz a advogada Maria Theresa Pero, que defende diversos ex-revendedores. A GM diz que não comenta casos em andamento na Justiça, mas afirma que segue à risca todas as leis vigentes no País.


COM O PÉ NO FREIO

É como se fosse uma nova espécie de vírus, que cede ante a ação dos antibióticos mas não sucumbe totalmente. No ano passado, o prejuízo da GM bateu em cerca de US$ 80 milhões. Em 2004, havia sido de US$ 249 milhões. A empresa responsabiliza o câmbio, que prejudica suas exportações e a alta carga tributária do País. A GM ainda sofre em função de sua vocação no desenvolvimento de carros médios e grandes. No Brasil, os compactos dominam dois terços do mercado. “Aí está a predominância de concorrentes como Volks e Fiat”, diz André Beer, um ex-executivo da montadora. Mas há um outro fator: a montadora possui três fábricas em território brasileiro, duas delas nos pólos de maior salário do setor metalúrgico, São Caetano do Sul e São José dos Campos, ambas no estado de São Paulo. Nessas duas cidades, os trabalhadores ganham pelo menos o dobro de seus companheiros em Betim (MG), casa da Fiat, e em Camaçari, onde a Ford concentra sua produção. Outra diferença está na produtividade dessas plantas. Enquanto Volks e Fiat produzem 34 carros por funcionário, o índice na GM não ultrapassa 27. Por isso, há duas semanas, a GM anunciou a demissão de 960 funcionários em São José dos Campos e a contratação de 970 na unidade de Gravataí (RS), onde os salários encontram-se na casa dos R$ 1 mil, contra os R$ 2,3 mil pagos no estado de São Paulo. “Os trabalhadores pagam com seus empregos pela queda das exportações”, diz Luiz Carlos Prates, presidente do sindicato dos metalúrgicos de São José.

26 maio 2006

Irregularidades no Futebol Italiano

Irregularidades contábeis

26 de Maio de 2006 - A polícia financeira realizou ontem uma operação de busca e apreensão nas sedes dos dois mais populares clubes de futebol de Milão, o Inter e o Milan, dentro das investigações sobre irregularidades contábeis feitas por outro importante clube italiano, o Juventus de Turim, nas transações de jogadores. Um Tribunal de Turim, que investiga o Juventus por falsificação contábil e fraude fiscal, ordenou a prisão de dois de seus ex-diretores: Antonio Giraudo e Luciano Moggi. As autoridades do Judicário requisitaram aos 71 clubes de todas as categorias do futebol italiano toda a documentação relativa às transações com jogadores que tenham passado pelo Juventus. Entre 41 operações suspeitas está a do francês Zinédine Zidane, que foi contratado em julho de 2001 pelo Real Madrid pela soma recorde de EUR 75,1 milhões. Os magistrados, que concentram suas investigações no período compreendido entre 2000 e 2005, querem averiguar, sobretudo, se o Juventus contabilizou integralmente a quantia recebida. Há suspeitas de que tenha escriturado em seus livros quantias inferiores para sonegar impostos. Na semana passada, a polícia financeira fez operação idêntica na sede do Juventus e nas residências do capitão da seleção italiana, Fábio Cannavaro, e do atacante sueco Zlatan Ibrahimovic.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)


Enviado por Ricardo Viana

Enron 3

Reportagem da Folha de S. Paulo

Ex-executivos da Enron são condenados por fraude

Sentença sai em 11 de setembro, e acusados podem pegar até 185 anos de prisão

Colapso da empresa de energia, em 2001, causou perda bilionária

a acionistas e provocou amplas reformas no mundo corporativo

DO "FINANCIAL TIMES"

Kenneth Lay e Jeffrey Skilling, ex-executivos da Enron, foram condenados ontem por fraude e conspiração por participação no colapso em 2001 da fornecedora de energia americana que provocou as mais amplas reformas corporativas desde a Grande Depressão de 1929. O veredicto deu ao governo federal sua mais importante vitória na batalha de cinco anos desde a onda de crimes do colarinho-branco que abalou a confiança dos investidores, eliminou milhares de empregos e destruiu bilhões de dólares em ativos de acionistas. Depois de cinco dias do que os jurados chamaram de deliberações "emocionais", o júri condenou Lay, ex-presidente da Enron, em todas as seis acusações de fraude telefônica, fraude em valores mobiliários e conspiração. Skilling, o ex-executivo chefe da empresa, foi considerado culpado em 19 acusações de conspiração, fraude em valores mobiliários, negociação privilegiada e falso testemunho. Skilling foi absolvido em nove das dez acusações de negociação privilegiada. Os dois poderão passar o resto das vidas na prisão. Lay, 64, poderá pegar até 45 anos, e Skilling, 52, até 185 anos. A sentença sai em 11 de setembro. Os jurados disseram que não foi uma testemunha ou uma peça de evidência que os levou ao veredicto. Eles confessaram que mudavam de idéia todos os dias. "Eu me senti como uma bola de pingue-pongue", disse Doug Baggett, gerente de um departamento jurídico, em uma entrevista coletiva. No final, disseram que, quando tinham dúvidas sobre a credibilidade de uma testemunha, encontravam a resposta nas 20 caixas de documentos apresentados como evidências. Especialistas em administração legal e corporativa disseram que os veredictos mostraram que os jurados recusaram os argumentos da defesa de que não houve fraude contábil na Enron e que o colapso foi provocado por uma crise de confiança na firma, causada por reportagens céticas na mídia.
Símbolo
"Simbolicamente, é o fim do jogo da moralidade", disse Henry Hu, professor de economia e direito na Universidade do Texas. "Enron tornou-se palavra que pode ser usada para assustar crianças. O investidor médio talvez não tenha acompanhado outros casos, como os da WorldCom e da Tyco, mas este, sim. Eles sabiam quem eram esses homens." O juiz Sim Lake disse que a fiança de US$ 5 milhões de Skilling é suficiente para ele continuar em liberdade até a sentença, mas exigiu a permanência de Lay no tribunal até que seu passaporte foi entregue e seus cinco filhos empenharam suas casas para pagar a fiança -também de US$ 5 milhões. O advogado de Skilling, Daniel Petrocelli, disse que vai fazer uma apelação "vigorosa".

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

Padrões Internacionais

Uma reportagem do Valor Econômico:

Bancos já simulam impacto dos padrões internacionais

Maria Christina Carvalho
A adoção das normas internacionais de contabilidade International Financial Reporting Standards (IFRS) vai ter impacto positivo no Itaú. Se já estivessem em vigor no Brasil, as normas acarretariam aumento de R$ 1,9 bilhão no patrimônio do banco, que era de R$ 16,619 bilhões ao final do primeiro trimestre.

A estimativa foi divulgada pelo vice-presidente sênior do Itaú, Henri Penchas, que participou, ontem de seminário a respeito do assunto, organizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos Financeiros (Ibef).

A IFRS surgiu da necessidade identificada pelas principais economias do mundo de uma padronização das normas contábeis para aprimorar a transparência e facilitar a comparação do desempenho das empresas.

Elaboradas pela International Accounting Standard Board (IASB), conselho independente com especialistas do mundo todo, essas normas passaram a ser compulsórias nos países da União Européia e também no Reino Unido desde o ano passado e estão sendo adotadas por outros mercados. Os Estados Unidos, que têm a United States Generally Agreed Accounting Principles (USGAAP), criaram um grupo de trabalho para harmonizar suas normas com as do IASB em dois a três anos.

No Brasil, o Banco Central (BC) tomou a dianteira e, em março, divulgou comunicado informando que os bancos terão que adotar a IFRS a partir do balanço de 31 de dezembro de 2010. Já a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está com a ação limitada porque depende de alteração da Lei das S/A. Um projeto de lei que viabilizaria a mudança (número 3.741) tramita há tempo no Congresso.

Apesar do prazo relativamente folgado dado pelo BC, os grandes bancos já estão se preparando para a adoção da IFRS. O Itaú quer divulgar o primeiro balanço sob as novas regras ainda neste ano. O Unibanco pretende identificar as diferenças da nova regra até setembro e ter o primeiro balanço em dezembro de 2008, disse o diretor Osias Brito. Já o Bradesco identificou as mudanças no ano passado, disse o diretor de contabilidade Moacir Nachbar Jr.

O Banco Central, informou o chefe do Departamento de Normas do Sistema Financeiro, Amaro Luiz de Oliveira Gomes, vai se ocupar neste ano com a tarefa de "diagnosticar as principais assimetrias" entre as regras locais e a IFRS. Como lembrou o diretor da área de serviços financeiros da Ernst & Young, Gregory Gobetti, o próprio BC já fez o balanço de 2005 usando as novas regras contábeis.

Os especialistas como a Ernst & Young já mapearam as diferenças e ajudaram bancos europeus na adaptação das regras. Para Gobetti, é bom aproveitar "o exercício já feito pelos bancos europeus"

A pressa dos bancos brasileiros se justifica, segundo Pedro Masetto, também diretor executivo da Ernst & Young: "A padronização das regras contábeis vai permitir ao investidor comparar o desempenho dos bancos dos diferentes países e reduzir os custos das próprias instituições", que não precisarão mais fazer balanços diferentes conforme o mercado em que atuam.

Enron 2

Reportagem da Gazeta Mercantil:

Ex-diretores são declarados culpados

Houston (EUA), 26 de Maio de 2006 - Jeffrey Skilling e Kenneth Lay, ex-diretores da empresa Enron, foram declarados culpados de fraude e conspiração por sua responsabilidade na falência de 2001 do então gigante energético, anunciou o júri. Jeffrey Skilling foi considerado culpado de 19 das 28 acusações que lhe foram atribuídas e terá de cumprir uma pena máxima de 185 anos de prisão. Por sua vez, o fundador da Enron, Lay, foi declarado culpado das seis acusações de fraude e conspiração de que era acusado, além das acusações de fraude bancária que enfrentava em outro julgamento que ocorria paralelamente, também em Houston. Pode ser condenado a um máximo de 165 anos de prisão. O anúncio das sentenças está previsto para 11 de setembro, disse o juiz do caso, Sim Lake, que pediu o passaporte de Lay.

O governo americano comemorou o veredicto e prometeu processar os criminosos corporativos com o mesmo ímpeto que utiliza para com os delinqüentes das ruas: "não toleramos a corrupção empresarial e, além disso, o Departamento de Justiça tem trabalhado agressivamente contra aqueles que estão envolvidos em corrupção corporativa", disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow.

Lay estava sentado com sua esposa no momento em que o veredicto foi pronunciado. Skilling olhava para os sapatos. Ambos haviam se declarado inocentes do maior colapso da história corporativa americana. "Obviamente estou decepcionado, mas o sistema funciona assim", declarou Skilling com o rosto fechado na saída do tribunal. Seu advogado, Dan Petrocelli, afirmou que apelaria do veredicto.

Skilling estava sendo julgado junto com Lay desde janeiro em Houston. As oito mulheres e os quatro homens do júri se retiraram para deliberar a partir do dia 17 de maio. O júri demorou menos de seis dias para chegar a um veredicto.

A Enron, cuja capitalização chegou a US$ 100 bilhões, faliu em poucas semanas quando foram descobertos desvios de fundos na contabilidade do grupo. Sua quebra arruinou milhares de acionistas e empregados que haviam investido em ações e fundos de pensão da empresa. O caso se transformou então num símbolo da corrupção e do excesso do mundo empresarial americano.

Lay e Skilling se defenderam afirmando que não estavam a par das manipulações contábeis de seu diretor financeiro, Andrew Fastow, que havia criado sociedades financeiras paralelas para ocultar as perdas da firma. Fastow se declarou culpado, aceitou colaborar com a Justiça e testemunhou contra seus ex-chefes. Em seu testemunho, afirmou que eles realmente estavam a par do que acontecia e que Skilling o estimulava nessas atividades.

Lay dirigiu a Enron até o início de 2001, quando cedeu a presidência a Skilling, seu braço direito, que renunciou inesperadamente no verão seguinte. Lay teve de retomar as rédeas do grupo alguns meses antes de sua quebra. Estima-se que as perdas pela quebra da Enron superaram os US$ 40 bilhões.

O Caso Enron


O caso Enron ficou conhecido como exemplo do uso da contabilidade para manipular mercados e do aproveitamento da informação assimétrica a favor dos executivos. Ontem terminou o julgamento dos executivos nos Estados Unidos. Leia a reportagem abaixo:


Vigilância corporativa ganha novo ânimo
May 26, 2006 4:05 a.m.

Por Paul Davies e Kara Scannell
The Wall Street Journal

Os veredictos que condenaram ontem os ex-executivos da Enron Corp. Kenneth Lay e Jeffrey Skilling marcam o ápice de uma extraordinária onda de repressão a um igualmente extraordinário grupo de delitos corporativos. Mas em vez de marcar o fim de uma era, as condenações tendem a dar novo ânimo ao governo americano em seu combate ao crime de colarinho branco.

Desde que a Enron Corp. virou sinônimo de transgressão executiva quando quebrou quase cinco anos atrás, autoridades obtiveram a condenação ou admissões de culpa por fraude e outras acusações contra centenas de poderosos do mundo empresarial, e os legisladores impuseram novas leis, mais duras. Draconiana para alguns, a resposta do governo americano aos escândalos corporativos da virada de século provocou uma reação de grupos pró-empresas.

Lay, de 64 anos, foi presidente do conselho da Enron, e Skilling, de 52, seu diretor-presidente. Os dois foram condenados ontem por fraude, formação de quadrilha e outras acusações, por terem mentido para os acionistas sobre o estado das finanças da empresa. Eles tiveram de entregar seus passaportes e pagaram US$ 5 milhões cada de fiança para aguardar a sentença em liberdade. A sentença será definida em 11 de setembro. Eles devem pegar vários anos de prisão. Advogados de ambos disseram que vão recorrer.

As condenações de ontem vão ajudar a transformar o legado do boom do mercado dos anos 90. Inicialmente visto por investidores como uma das mais longas fases de alta dos mercados, a década agora será vista historicamente como uma de ganância desenfreada e transgressões corporativas que ocorreram sem controle.
[corporativo]

"Todos nós acabamos distraídos pelos benefícios que fluem desses grandes avanços do mercado quando ele está subindo", disse Robert Morvillo, um veterano advogado de defesa. "A distração parece que precisa esperar um problema seriamente perturbador em que alguém sai ferido. A Enron é um ótimo exemplo de quando pessoas saíram feridas."

Lay e Skilling se juntam a uma lista de nomes que antes representava os executivos mais badalados, mas desde então se tornou um inventário do excesso da virada do século. Entre outros estão o ex-presidente da Tyco International Ltd. L. Dennis Kozlowski, condenado a até 25 anos de prisão, e o ex-diretor-presidente da WorldCom Inc. Bernard Ebbers, sentenciado a 25 anos.

Com o veredicto da Enron, aqueles que defendem táticas agressivas para proteger os acionistas e outras pessoas têm motivos para se sentir energizados, com a bandeira deles endossada num julgamento histórico feito por um júri de 12 cidadãos comuns.

"Nossas leis criminais serão cumpridas tão vigorosamente contra executivos de grandes empresas como serão contra criminosos de rua", disse o procurador-geral-adjunto Paul J. McNulty após o anúncio do veredicto. "Este veredicto nos encoraja — ele nos encoraja a continuar a combater a corrupção onde quer que a encontremos."

E George Stamboulidis, um ex-promotor federal, disse: "Estou certo de que os promotores têm processos na gaveta, prontos para ser abertos."

Eles têm. Entre elas: cerca de duas dúzias de empresas estão sob investigação num inquérito sobre se elas dataram retroativamente opções de ações para enriquecer executivos.

O julgamento da Enron pode servir de diretriz para futuras ações repressivas. Em alguns julgamentos anteriores, os promotores adotaram uma postura exaustivamente detalhista, assoberbando jurados com provas sobre assuntos contábeis bizantinos. Os promotores da Enron preferiram uma abordagem mais simples.

"Os promotores provaram o gostinho da vitória", acrescentou Roman Darmer, outro ex-promotor federal. "Eles mostraram que sabem como ganhar esses processos e agora têm mais ferramentas com as quais trabalhar." As apostas não podiam ter sido maiores: um fracasso da promotoria teria fornecido combustível para a incipiente reação pró-empresas, que até agora teve um sucesso limitado. "Este pode ser o fim de um caso que passou a simbolizar a onda de escândalos corporativos, mas de jeito nenhum isso sinaliza o fim para os investigadores", disse Arthur Jakoby, um advogado de defesa que já trabalhou para a Securities and Exchange Commission, ou SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA.

O estouro da bolha do mercado acionário em 2000 foi seguido por uma onda de acusações de que os executivos usaram malandragens para melhorar seus balanços, cometeram outras fraudes contra acionistas ou se enriqueceram indevidamente. Com a quebra das empresas, os investidores perderam somas incontáveis e dezenas de milhares de funcionários perderam o emprego.

A Enron, uma gigante de negociação de energia com sede em Houston, estava entre as maiores e foi a primeira a quebrar.

24 maio 2006

Presidiários "custam" mais que alunos

O sítio Contas Abertas divulga que os presidiários "custam" duas vezes mais que os estudantes universitários. Destaquei a palavra custam pois o seu sentido não é técnico, referente ao custo da contabilidade de custo. É simplesmente resultado da divisão do orçamento público pelo número de presos e pelo número de estudantes. Além disso, a reportagem fala em valores entre R$1 mil a R$2 mil por mês, o que pode gerar certo questionamento pois a dispersão da análise é muito ampla. Apesar dos problemas técnicos, é uma reportagem interessante:


Presidiários no Brasil custam quase duas vezes mais que estudantes universitários


Os prejuízos que a violência traz para a sociedade não estão presentes apenas no cotidiano dos cidadãos brasileiros. Manter um presidiário no Brasil onera os cofres da União em aproximadamente R$ 18 mil por ano. De acordo com estimativas do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), cada presidiário custa em média, de R$ 1.000 a R$ 2.000 por mês, o equivalente a mais de quatro salários mínimos, fixados em R$ 350,00. Um estudante das instituições públicas no país custa a metade desse valor. Segundo pesquisa feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), um estudante universitário custa aproximadamente, R$ 790 por mês e R$ 9.488,00 por ano.

O DEPEM estima que existam hoje, 361,4 mil presos em delegacias e penitenciárias de todo o Brasil. Se cada detento custa em média, de R$ 1.000 a R$ 2.000 por mês, manter a população prisional do país gera um custo mensal de aproximadamente R$ 542,1 milhões por mês e R$ 6,5 bilhões por ano. O programa Universidade do Século XXI, criado pelo Ministério da Educação para reformar a educação superior e estruturar as instituições federais gastou em 2005, pouco mais que isto, o equivalente a R$ 7,5 bilhões. O Fundo de financiamento ao estudante do ensino superior (FIES), do Ministério da Educação, aplicou R$ 787 milhões em 2005, oito vezes menos do que foi gasto com todos os presidiários do Brasil. Os dados sobre os programas do Ministério da Educação são do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) e não incluem os restos a pagar.

Traçar o perfil da população prisional e criar um cadastro único com o máximo de informações, não tem sido tarefa fácil para o governo. Os diferentes regimes de detenção, fechado, aberto, semi-aberto, entre outros, além dos vários tipos de presídios, como os de segurança máxima e os estaduais, tornam difícil uma estimativa precisa, principalmente em relação aos gastos.

O Sistema de Informações Penitenciárias Infopen, do Ministério da Justiça, criado em 2002, ainda não disponibiliza dados mais detalhados de todas as unidades prisionais e presos do país. De acordo com a assessoria de comunicação do DEPEN, ainda há dificuldade para fazer estas contas. A base de dados do Infopen estabelece uma série de indicadores que devem ser preenchidos pelas unidades prisionais de todos os estados. Segundo o DEPEN o maior problema para que haja uma base única tem sido o baixo índice de preenchimento desses indicadores pelos estados.

Os valores dos gastos com presidiários são aproximados. A estimativa leva em consideração diferentes custos como roupas, alimentação, remédios, assistência médica, energia elétrica, dentre outros. A proposta do Infopen é fornecer dados de todos os presos ou internos, como o controle de visitas, ficha jurídica, tipos de regime prisional e crimes cometidos, perfil social e etnia.

O estudo do TCU considera os dados de 2003 e utiliza valores globais, dividindo o orçamento pelo número de alunos. A pesquisa determinou valores distintos e avaliou os gastos de acordo com os cursos.

Para minimizar os altos custos com o sistema carcerário brasileiro, especialistas e organizações civis defendem a maior aplicação das penas alternativas para crimes leves, como prestação de serviços sociais, limpeza de muros e praças, ajuda em hospitais, dentre outros. Embora esteja previsto na Constituição e no Código Penal, esse tipo de pena ainda é pouco utilizado no Brasil. Estima-se que com a aplicação de penas alternativas, o custo de um preso poderia ser reduzido em até 10 vezes e o índice de reincidência despencaria de 42,5% para 17,5% .

O professor da Universidade de Brasília, Antônio Flávio Testa, sociólogo e cientista político, atribui boa parte dos problemas de segurança pública à ineficiência dos recursos públicos e à incompetência gerencial do Estado. "O preço que se paga para manter um criminoso na cadeia é altíssimo. Isto só reflete o mau uso do dinheiro público", disse.

Para o sociólogo, o Brasil não faz uso como deveria da legislação que prevê penas alternativas e dos programas de reeducação dos detentos. Flávio Testa critica o modelo repressor usado nos presídios e sugere uma segmentação dos criminosos com tratamentos mais rigorosos ou mais educativos, dependendo do tipo de crime cometido."Não adianta pensar que um Marcola vai voltar ao convívio da sociedade". O professor se referiu ao líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Willians Herba Camacho, (Marcola), responsável por boa parte dos ataques ocorridos em São Paulo.

Aline Sá Teles
Do Contas Abertas

Livro-caixa do PCC

Notícia do Estado de S. Paulo de 24 de maio, p.c4, informa que o livro-caixa do PCC foi utilizado na audiência da CPI. Segundo a notícia, "o deputado Raul Jungman (PPS-PE) entregou ontem à CPI do Tráfico de Armas cópia dos registros do livro-caixa do PCC apreendido pela polícia de São Paulo. O deputado usou dados do documento para inquirir Maria Cristina Machado, advogada de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Como a contabilidade de janeiro de 2005 aponta pagamento de R$10 mil na rubrica ´advogado visitas´, Jungmann quis saber se Maria Cristina recebeu dinheiro do PCC para visitar o cliente"

Mais adiante a reportagem comenta que a organização operou no azul no mês, com arrecadação de R$483.588 e gasto de R$376.040, um saldo superior a R$100 mil. Nesse período a contabilidade do PCC era centralizada.

Em dezembro de 2004 a organização gastou R$46 mil na compra de dois AR15 e 1 AK47 e R$20 mil em dois fuzis rouger. Além disso, o PCC também concedia financiamentos a seus integrantes. Em janeiro, R$50 mil foram dados a "Cantor" e R$1.500 para Felipe.

A partir da descoberta dos documentos, o tesoureiro foi assassinado e a contabilidade descentralizada. As investigações apontam uma arrecadação mensal de R$750 mil em média.

23 maio 2006

Ratemyprofessor

O sítio RateMyProfessors.com começou a funcionar em 1999. Desde então, os estudantes avaliam seus professores usando uma escala de 1 (pior) a 5 (melhor) para clareza e ajuda. Além disso o estudante também pode fazer comentários sobre o professor. A participação do estudante é voluntária e não é necessário revelar sua identidade.

Sempre desconfiei de processos de avaliação. Mas um estudo de 2003, e posteriormente ampliado em 2004, me fez refletir se minhas críticas eram sem fundamento. Em Web-based student evaluation of professors, James Felton, John Mitchell e Michael Stinson, da Michigan University, apresentaram resultados interessantes que todo professor de contabilidade deveria anunciar em sala de aula. Utilizando milhares de avaliações desses alunos os professores observaram algumas relações importantes.

Inicialmente, utilizando os resultados por instituição de ensino, os resultados foram pouco conclusivos. Mas quando a análise foi realizada por disciplina, Felton, Mitchell e Stinson obtiveram conclusões interessantes. A primeira, existe uma relação forte e direta entre a percepção de qualidade do aluno e o grau de facilidade de uma disciplina. Em outras palavras, disciplinas fáceis possuem mais chances de serem consideradas de boa qualidade. A segunda, um professor apontado como "bom" pelos alunos geralmente era também elogiado por seus quesitos físicos. Finalmente, uma disciplina mais fácil tinha mais chance do professor ser considerado sexualmente atraente.

Mas as conclusões interessantes ainda não foram apresentadas. Advinhem quais as matérias consideradas com menor qualidade pelos alunos? Acertou quem colocou contabilidade nessa resposta, que pelo menos ganhou da engenharia, da ciência da computação e daquela com pior qualidade, a matemática. As mais difíceis foram ciência, estudos étnicos, contabilidade e marketing, na ordem do 28o. ao 31o. Os professores menos sexies foram os de matemática, ciência da computação, contabilidade e humanidades. É isso mesmo: no quesito beleza os docentes de contabilidade somente venceram os de humanidades.

Para os curiosos, listo os vencedores:

Qualidade (na ordem): Direito, Línguas, Educação, Medicina e Enfermagem e Justiça Criminal

Facilidade: Humanidades, Educação, Música e Línguas

Apelo sexual: Medicina e Enfermagem, Marketing, Línguas e Educação Física.

Continuo minha reflexão: no meu departamento no semestre passado os dois professores com melhor avaliação por parte dos alunos foram James Giacomoni, da área de orçamento público, e Jorge Katsumi, de contabilidade internacional.

Copa realça rivalidade entre Nike e Adidas


Reportagem do Wall Street Journal sobre a copa do mundo e a concorrência entre duas empresas

Copa realça rivalidade entre Nike e Adidas
May 23, 2006 4:05 a.m.

Por Stephanie Kang em Beaverton, EUA, e Mark Esterl em Herzogenaurach, Alemanha
The Wall Street Journal

Além das 32 seleções em campo, a Copa do Mundo também vai ser decisiva para o duelo entre as titãs dos artigos esportivos Adidas AG e Nike Inc.

A batalha empresarial é tão intensa quanto a dos gramados. Como evento mundial que atrai uma audiência maior do que as Olimpíadas, a Copa pode ser o momento de decisão na concorrência cada vez mais acirrada entre as empresas. Nike e Adidas passaram a ver o torneio como um referendo de quem é o número 1 não só em futebol, mas em todo o mercado mundial de artigos esportivos.

As arqui-rivais estão abordando a Copa cada uma à sua moda. A Adidas, que há décadas mantém a liderança em futebol, pretende continuar na frente por meio de seu acordo de patrocínio com a Fédération Internationale de Football Association, a Fifa. Como a Alemanha sedia o evento este ano, a Adidas, que tem sede na Bavária, tem também a vantagem de jogar em casa.

Durante os 64 jogos, bilhões de espectadores verão o logo das três tiras da Adidas em bolas, uniformes de árbitros e voluntários e em cartazes espalhados pelos estádios do país. Nos Estados Unidos, o país-sede da Nike, a Adidas garantiu também direitos exclusivos para anunciar durante a transmissão dos jogos.
[world cup]

As arqui-rivais estão abordando a Copa cada uma à sua moda. A Adidas, que há décadas mantém a liderança em futebol, pretende continuar na frente por meio de seu acordo de patrocínio com a Fédération Internationale de Football Association, a Fifa. Como a Alemanha sedia o evento este ano, a Adidas, que tem sede na Bavária, tem também a vantagem de jogar em casa.

Durante os 64 jogos, bilhões de espectadores verão o logo das três tiras da Adidas em bolas, uniformes de árbitros e voluntários e em cartazes espalhados pelos estádios do país. Nos Estados Unidos, o país-sede da Nike, a Adidas garantiu também direitos exclusivos para anunciar durante a transmissão dos jogos.

As duas abriram as carteiras mais do que nunca para publicidade tradicional, conteúdo online, torneios de futebol amador e patrocínio de jogadores e times.

As costumeiras táticas de marketing de guerrilha da Nike — inundar as sedes das Olimpíadas com outdoors quando a empresa não tem o patrocínio oficial, por exemplo — podem ser mais difíceis de executar na Alemanha. A Fifa recorreu a tribunais locais para proteger direitos exclusivos de marketing e solicitou às cidades que dêem tratamento preferencial aos patrocinadores oficiais na hora de vender espaço de outdoor fora dos estádios.

"Estamos onde todo mundo queria estar", diz Günter Weigl, diretor de futebol mundial da Adidas.

Mas a ligação da Nike com a popular seleção brasileira está mostrando ser uma vantagem tática. A camisa da seleção está entre as mais cobiçadas do mundo. E a Nike está fazendo com que Ronaldinho, Ronaldo e os outros craques brasileiros se tornem celebridades mundiais ainda maiores. O Brasil é tão importante para o plano da Nike que sua campanha de marketing global usa o slogan "joga bonito" em português mesmo.

A Nike diz que está se aproximando de US$ 1,5 bilhão em vendas relacionadas ao futebol, mais que o dobro do que gerou em 2002 e quase 40 vezes o que faturou em 1994, o ano da Copa nos EUA, quando ela vendeu US$ 40 milhões. A líder Adidas está prevendo um salto de mais de 30% este ano, para mais de US$ 1,5 bilhão.

Este ano, a Adidas ficou mais perto da Nike em sua batalha pela supremacia no mercado mundial de artigos esportivos, graças à compra da Reebok International Ltd. por US$ 3,8 bilhões. Em abril, a empresa, cuja sede fica na pequena cidade alemã de Herzogenaurach, assinou um contrato de 11 anos com a Associação Nacional de Basquete dos EUA, a NBA, depois de transferir os direitos da Reebok. Além de futebol e basquete, a Adidas, que fatura US$ 12 bilhões por ano, é também uma grande força em atletismo, tênis e golfe.

Enquanto isso, a Nike, que tem sede na cidade americana de Beaverton, Oregon, e fatura US$ 13,7 bilhões, está fazendo um esforço redobrado em futebol depois de anos de iniciativas claudicantes. A atual investida começou para valer quando os EUA sediaram a Copa de 1994, época em que a Nike estava querendo expandir-se internacionalmente, diz Denson. "Se nossa meta era ser a maior e melhor marca esportiva do mundo, tínhamos de ser a número 1" em futebol, diz.

As duas empresas trazem histórias bem diferentes para esta Copa do Mundo. Herbert Hainer, o diretor-presidente da Adidas, um ex-jogador semiprofissional, diz que o futebol está no DNA da empresa. O fundador Adi Dassler costurou seu primeiro par de chuteiras mais de 80 anos atrás, e a Adidas fornece as bolas para as Copas do Mundo desde 1970.

Depois que a Adidas renovou no ano passado por US$ 350 milhões o contrato de patrocínio da Copa até 2014, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, proclamou que "o futebol e a Adidas se tornaram um".

Aproveitando a vantagem de jogar em casa, a Adidas está construindo um estádio temporário na frente do Reichstag em Berlim que comportará mais de 10.000 espectadores, para os quais serão transmitidos jogos da Copa num telão. A seleção argentina, por sua vez, vai treinar na espaçosa sede da empresa.

A Nike, que começou fabricando tênis de corrida em 1964, tornou-se uma gigante global ao persuadir os consumidores a usar seus calçados de corrida, basquete e ginástica fora das quadras. Mas a empresa foi durante muito tempo fraca em futebol.

O co-fundador da Nike Philip H. Knight fez sua primeira grande jogada em futebol em 1996, quando fechou um contrato de dez anos e US$ 100 milhões com a Confederação Brasileira de Futebol. O contrato foi recentemente prolongado até 2018 por estimados US$ 144 milhões. Desde então, a Nike fechou acordos com times populares como o Barcelona na Espanha, a Juventus na Itália, o Arsenal na Inglaterra e o Corinthians no Brasil.

A Nike também vê oportunidades no que chama de produtos da "cultura esportiva". Isso inclui coisas como uma camiseta com os números 5862709402, representando os anos em que o Brasil ganhou a Copa. "Mesmo que você não adore futebol, vai gostar do visual, do estilo, da abordagem", diz Trevor Edwards, diretor de marketing da Nike.

22 maio 2006

Comportamento da Profissão mais antiga do mundo

Segundo notícia da ABC News dois economistas, Lena Edlund e Evelyn Korn publicaram um artigo, "Theory of Prostitution" no Journal of Political Economy onde analisam a profissão mais antiga do mundo.

Os autores tentam responder qual a razão para que essa profissão seja tão relativamente bem paga. Antes de responder a essa pergunta, os autores fizeram uma comparação entre os ganhos dessa profissão e de outras ocupações. Mesmo em diferentes ambientes e em diferentes épocas da história humana as prostitutas ganham mais que outras ocupações.

Utilizando um modelo matemático (sic), Edlund e Korn argumentam que o salário adicional não é decorrente do risco associado com o exercício da profissão, mas devido a redução das possibilidades de casamento em virtude da ocupação. Homens geralmente não casam com ex-prostitutas, então essas mulheres são relativamente bem recompensadas pelo custo de oportunidade.

Os autores também descobriram que a prostituição geralmente reduz quando a renda do homem aumenta.

Segundo a reportagem, "viúvas e prostitutas competem por commodities (na visão reducionista dos economistas) mas viúvas são distintamente superiores pois podem gerar crianças que são socialmente reconhecidas". Então, "se o homem tem dinheiro, ele tende a comprar um produto superior (...) e a comprar (alugar) um produto mais barato menos frequentemente". [Observem que estou citando a reportagem]

Além disso os autores observaram que quando a taxa homem sobre mulher aumenta tende a aumentar a lucratividade relativa da prostituição, quando se compara com o matrimônio.

Se a diferença é temporária devido a uma guerra, por exemplo, isso tende o incentivo a prostituição.

"Para os residentes permanentes de um local, o homem é um potencial participante do mercado de casamento e do mercado de sexo; já um visitante, somente o mercado de sexo está disponível". Isso significa dizer que quando aumenta o número de visitantes num local é normal o aumento da prostituição, como ocorreu nas cruzadas do século XII e ocorre hoje em certas cidades brasileiras.

Os autores não consideram supreendente a existência de um grande número de prostitutas entre as imigrantes. As mulheres imigrantes tem grande dificuldade de encontrar emprego, devido as barreiras da língua, por exemplo.

Bolha no Brasil

Uma reportagem da revista Istoé Dinheiro questiona se não teríamos uma bolha nos recentes lançamentos de ações no Brasil. Eis a reportagem:

Existe uma bolha na bolsa?
O valor de mercado das empresas que abriram capital nos últimos dois anos descolou da realidade do pregão. Essa exuberância é irracional?


Por Daniella Camargos

Qual empresa vale mais, a fabricante de cosméticos Natura ou a telefônica Embratel? A Gol, caçula das companhias aéreas brasileiras, ou a Acesita, maior produtora de aço inoxidável da América Latina? Engana-se quem pensa que as gigantes da velha guarda são mais valiosas, pelo menos na Bolsa de Valores. As recentes ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, no jargão do mercado) não só estão servindo para aquecer as negociações na Bovespa como para mudar as referências de preços do mercado. Mesmo com uma receita 20% menor e um lucro 40% inferior, a Gol vale quase seis vezes mais que a Acesita. Por sua vez, a Natura equivale a duas Embratel, que tem o triplo do faturamento. O valor de mercado alcançado por outras empresas recém-lançadas na bolsa também surpreende. A produtora de açúcar e álcool Cosan, por exemplo, vale mais de cinco vezes a Petróleo Ipiranga. E a locadora de automóveis Localiza empata com a Perdigão. Dada a exuberância, potencialmente irracional, das companhias que abriram capital nos últimos dois anos, o mercado começa a fazer perguntas. Existem fundamentos reais para que as novatas do pregão sejam mais valiosas do que as veteranas? Ou a supervalorização dos ativos é o prenúncio de uma bolha?

As opiniões dos analistas se dividem. Os que afastam a hipótese da bolha não economizam argumentos para justificar a súbita valorização das calouras. A primeira justificativa, e talvez a de maior peso, é o fato delas terem aderido aos mais altos padrões de governança corporativa da bolsa, ao listarem suas ações no Nível 2 e no Novo Mercado. “O investidor considera justo pagar um prêmio maior pela transparência e pelo compromisso de prestação de contas aos minoritários”, diz Clodoir Vieira, analista da corretora Souza Barros. Seguindo este raciocínio, alguns especialistas acreditam que, se as empresas com mais tempo de pregão migrarem para tais níveis de governança, poderão sofrer uma reavaliação positiva no preço de suas ações, que estariam depreciadas. A prova poderá ser tirada com a Telemar, que pretende pulverizar seu capital, aderindo ao Novo Mercado. Os controladores da companhia condicionaram este movimento a uma alta de 62% na cotação das ações, o que significaria um acréscimo de R$ 11,4 bilhões no valor de mercado da operadora de telefonia. “Se a operação da Telemar der certo, será o divisor de águas do mercado de ações brasileiro”, acredita Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management. “Ávidas por atrair investidores, outras empresas tradicionais poderão seguir o mesmo caminho”, diz.

A segunda explicação para a rápida valorização das novatas no pregão é o grande potencial de crescimento. “A Gol, por exemplo, pode dobrar de tamanho num prazo muito curto caso conquiste os passageiros da Varig”, diz Vieira, da Souza Barros. Outra justificativa é a redução do risco país pelas agências internacionais. “Ela faz melhorar a percepção dos investidores, principalmente estrangeiros, sobre os ativos brasileiros”, diz Marco Melo, diretor de pesquisa em ações da corretora Ágora Sênior. Além disso, há, atualmente, uma farta liquidez internacional. Do total dos 16,2 bilhões em ações ofertadas no mercado brasileiro em 2005, 60% foi absorvido por investidores estrangeiros em busca de boas oportunidades de ganho.

Há quem acredite, porém, que tais argumentos não são suficientes para afastar a hipótese de uma euforia especulativa. “Nada justifica o fato de o valor de mercado médio das empresas que fizeram IPO recentemente representar cerca de 32 vezes seu lucro líquido, enquanto as maiores empresas do Brasil, com menor risco, valem aproximadamente 15 vezes o lucro líquido”, afirma Rodrigo Pasin, sócio da Value, uma consultoria especializada em avaliação de ativos. Por este critério de comparação, as novatas na bolsa estão valendo em média duas vezes mais que as companhias consideradas investment grade pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s. Isto é estranho, já que, pelo menos em tese, as empresas de risco mais baixo deveriam valer mais, por apresentar um custo de capital menor.

No caso da loja eletrônica Submarino, o preço atual dos papéis corresponde a 52 vezes o resultado operacional do ano anterior. Teoricamente, explica Pasin, isso significa que o prazo para que os resultados da companhia se equiparem ao preço pago por cada ação será de 52 anos. Além disso, lembra o consultor, muitas ofertas de ações estão ocorrendo para propiciar a saída de fundos de capital de risco ou de sócios das empresas. E não para capitalizar a companhia e turbinar seu crescimento. É o caso de Natura, Submarino e DASA (Diagnósticos da América, controladora dos laboratórios Delboni Auriemo), entre outras.

Na opinião de Póvoa, da Modal, os números das estreantes no mercado de ações impressionam porque há uma dificuldade de se aceitar que, atualmente, a economia de serviço (da qual faz parte a maioria das empresas que abriu capital nos últimos dois anos) é mais valorizada que a economia industrial. De fato, as companhias do chamado setor terciário estão ganhando uma importância cada vez maior no mundo dos negócios. Já há algum tempo que, lá fora, empresas do que um dia chamou-se “Nova Economia”, como Google e Microsoft, valem mais do que companhias tradicionalíssimas, como a General Motors. “Não existem explicações tangíveis para a rápida valorização dessas empresas”, diz Póvoa. “Por isso, os erros de avaliação podem ser maiores e, conseqüentemente, os riscos também”. Ele descarta, porém, a possibilidade de uma bolha estar sendo formada. “Ao contrário do que ocorreu com as empresas de Internet anos atrás, as companhias que chegaram recentemente à bolsa dão lucro e têm um histórico para ser avaliado.”

Se falta consenso entre os especialistas sobre a existência ou não de uma bolha, sobra certeza em relação à possibilidade de um ajuste no preço dos novos ativos. Segundo os analistas, à medida em que as empresas novatas na bolsa atingirem a maturidade, ou seja, finalizarem os investimentos previstos, o preço de suas ações será ajustado. “A velocidade e a intensidade em que isso acontecerá vai depender dos resultados futuros das companhias” diz Vieira, da Souza Barros. Isso significa que investidores tentados a investir agora pelos retornos altos e de curto prazo relatados nos últimos balanços correm o risco de apostar nas empresas no momento errado.

1+1=2?

Uma piadinha recorrente diz que o bom contador é aquele que pergunta ao patrão quanto que ele quer no resultado de 1+1.

Essa mesma história também pode ser aplicada na estatística, na economia ou na matemática. Tome, por exemplo, a matemática, uma ciência exata.

1+1=3

Considere uma calculadora que faz arredondamento. Uma operação como 1,3 + 1,4 terá como resultado final 3.

1+1 = 1

A mesma calculadora, com arrendondamento, terá um resultado de 1 para 0,7 + 0,6.

1+1 = 24

Uma dúzia de ovos mais um dúzia de ovos é igual a 24.

1+1 = 1
Se você compra um CD você ganha o segundo de graça. Se x é o custo de 1 CD, então 1x + 1x = 1X

1+1 = 1,4
Você vai para sua casa e caminha 1 quilômetro a oeste em linha reta e então 1 quilômetro ao norte, também em linha reta. Qual a distância percorrida em linha reta? A solução corresponde a determinar o teorema de Pitágoras onde 1x1 + 1x1 = raiz de dois.

Fonte: Numb3rs (em PDF)

19 maio 2006

Na Prisão

Três homens estão numa cela e começam a conversar. Descobrem que estão na mesma situação: são ex-empresários que foram presos por crime contra a ordem econômica.

O primeiro diz:
- Eu coloquei os preços da minha empresa acima dos meus concorrentes. Eu estou aqui por exploração do poder econômico.

O segundo afirma:
- Eu coloquei os preços da minha empresa um pouco abaixo dos meus concorrentes. Fui preso por concorrência predatória.

O terceiro completa:
- Eu coloquei os preços igual ao dos meus concorrentes. Fui preso por formar um cartel.

Contabilidade Financeira e Futebol

O texto a seguir foi postado no sítio do Bovespa e trata da contabilidade de clubes de futebol no Brasil. Conforme o próprio texto destaca, não é possível confiar na qualidade das demonstrações financeiras produzidas nessa área.

Eis o texto completo:

Estratégia
Muito longe da trave
Times de futebol voltam a olhar para o mercado de capitais, mas a realidade por aqui ainda frustra qualquer aspiração espelhada no modelo europeu

Por Adriana Souza Silva

* Matéria cedida pela Revista Capital Aberto, edição de abril/2006.

Informações sobre a publicação podem ser obtidas no site www.revistacapitalaberto.com.br.
16/05/2006

Não é preciso recorrer a um antropólogo para enxergar o quanto o futebol está enraizado na cultura do brasileiro. Tampouco ser um especialista em finanças para deduzir que muitos torcedores ou mesmo investidores profissionais se interessariam pela compra de ações de um time se, um dia, os nossos clubes fossem parar na bolsa.

Na Europa, aconteceu exatamente isso no início dos anos 90. A paixão pela camisa foi convertida em oportunidade de negócio. Desde então, 38 clubes já viraram empresas de capital aberto com direito a participarem do ranking anual da revista Forbes com as sociedades desportivas mais caras do mundo. No mais recente, divulgado em março, o Manchester United, da Inglaterra, aparece no topo da lista, avaliado em US$ 1,4 bilhão, seguido pelo espanhol Real Madrid (US$ 1,01 bilhão) e o italiano AC Milão (US$ 920 milhões). E no Brasil? Por que o jogo Futebol X Mercado não sai do zero a zero?

Vontade até existe por parte dos times brasileiros. O Botafogo, por exemplo, está com toda a papelada para a abertura de uma empresa, a Botafogo Futebol SA, cuja intenção é exatamente aproveitar o bom momento da bolsa de valores no País e partir para o ataque, via uma operação com debêntures ou uma emissão de ações. No Atlético Paranaense, a ida à bolsa de valores também chegou a ser cogitada. Mas, sem a mesma pressa que o time carioca, a discussão ficou para o ano que vem. A intenção de abocanhar um naco das fortunas negociadas nas recentes ofertas na Bovespa mexe até com a imaginação de times pouco conhecidos. “Estamos mais perto de ir a mercado do que de subir para a segundona”, garante Osvaldo Teixeira, presidente do Náutico de Roraima, um pequeno clube da terceira divisão do futebol brasileiro.

Sim, sonhar não custa nada. Mas entre a vontade de ver as ações do time no pregão e a realidade atual das agremiações desportivas do País há uma distância do tamanho do Maracanã. E a culpa não é só da desordem administrativa da maioria dos nossos clubes. Afinal, se a abertura de capital fosse mesmo um objetivo, nada impediria que a diretoria contratasse meia dúzia de consultores para ajudá-los a pôr ordem na casa. O problema é que, para a maior parte dos dirigentes, a simples idéia de transparência, eqüidade e prestação de contas — os três pilares da governança corporativa — já é motivo de desespero.

“Atualmente, nenhum clube brasileiro tem como oferecer isso ao investidor”, avalia José Antônio Alves, consultor e professor do curso de Direito Esportivo da FGV-Rio. “As condições dos times são temerárias. Nem sequer podemos dizer que são mal gerenciados, pois a gestão simplesmente não existe. Os diretores são pessoas que exercem outras atividades e, nas horas vagas, aparecem na sede para saber o que está acontecendo. Há clubes com mais de uma centena de conselheiros.”

Mesmo após a Lei Pelé, nº 9.615/01, que obrigou a divulgação pública de balanços de todos os times, a prestação de contas ainda peca pela falta de padronização. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) fez sua parte e editou, no ano passado, um conjunto de normas como referência para esse segmento. Mas ainda existem muitos times que contabilizam como ativo desde os direitos de imagem de um campeonato que ainda não aconteceu até eventuais multas a serem cobradas caso um de seus jogadores decida ir para outro time.

A primeira tentativa de listagem de um clube na Bovespa fracassou exatamente por uma confusão contábil. Em janeiro de 2003, o Coritiba, através do Coritiba S.A, entrou com pedido de registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para uma oferta pública de ações. A questão é que, dos R$ 51 milhões declarados como patrimônio, mais de R$ 50 milhões, ou 99%, eram relativos ao direito sobre o uso da marca do Coritiba. Nas demonstrações do time, o direito do uso da imagem foi considerado no cálculo da integralização do capital da companhia, sendo descrito como “patrimônio intangível gerado internamente”. Porém, na ocasião, a CVM vetou o projeto avaliando que intangíveis gerados internamente não podem ser contabilizados.

Desfalque nos cofres públicos

Outra questão que os times precisam resolver antes de pensarem em atrair o investidor são as dívidas trabalhistas e com o poder público. Somente em débito perante a Previdência Social há um montante de R$ 400 milhões a ser pago, segundo o Ministério dos Esportes, por falta de repasse do FGTS. Em maio do ano passado, levantamento da revista Consultor Jurídico apontou que, juntos, os clubes brasileiros possuíam 2.821 processos na Justiça do Trabalho. Isso porque, após a Lei Pelé, o atleta passou a ter contrato de trabalho como qualquer outro trabalhador comum, o que deu espaço aos jogadores para reclamarem de falta de décimo terceiro, atraso salarial, más condições de trabalho, etc. O não-repasse à Receita Federal do Imposto de Renda deduzido na fonte também entrou na lista de irregularidades das agremiações.

Em 2003, foi criada pelo Ministério do Esporte uma loteria para tentar resolver o impasse entre dirigentes e cofres públicos, a chamada Timemania. Na operação, o dinheiro arrecadado pelo governo seria usado para abater as dívidas da falta de recolhimento do INSS e do Imposto de Renda. Os clubes de futebol, por sua vez, emprestariam a sua marca para ser usada na loteria e aumentar a venda dos boletos. O Botafogo, por exemplo, aguarda apenas a aprovação da Timemania para anunciar a abertura de sua nova S.A. Contudo, apesar de ser mais cobiçada do que taça em final de campeonato, a tal solução fiscal, por enquanto, ainda é um projeto de lei. Precisa passar pela Câmara, ir ao Senado e, depois, ganhar a sanção da Presidência.

Entre os especialistas no assunto, há os otimistas e os sóbrios. O primeiro grupo encontra-se representado na figura do vice-presidente jurídico da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Pedro Trengrouse. Zagueiro da ajuda financeira aos clubes, ele acredita que a medida serviria como incentivo para a melhoria da gestão e adequação dos times às exigências do mercado. Já na equipe dos sóbrios, o atacante José Antônio Alves, da FGV, não perdoa e marca: “O futebol brasileiro é movido à paixão. Não adianta só injetar dinheiro enquanto não houver uma mudança de paradigma, que visa corte de custos, conselho independente e profissionalização dos dirigentes”.

Com ou sem lucro?

Mesmo num mundo perfeito, isto é, de times com dívidas sanadas e contabilidade ajustada às recomendações do CFC, haveria ainda uma terceira barreira para driblar: o fato de a grande maioria dos clubes brasileiros não ser empresas — condição imprescindível para vir a mercado. Só como companhias poderiam se aventurar numa operação de securitização, por exemplo, ou qualquer outra relacionada ao mercado de capitais. Mas se o clube deixar a condição de sociedade civil sem fins lucrativos perde a isenção de impostos aplicável a essas instituições e terá de arcar com a mesma mordida que as demais companhias hoje levam do fisco. Compensa?

O advogado do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão, Felipe Portugal, acredita que possa haver um jeito de o time manter sua isenção fiscal e, ao mesmo tempo, conseguir desfrutar do mercado de capitais. A solução, para ele, estaria na criação de uma nova empresa, desta vez com fins lucrativos, como quer fazer o Botafogo. O clube seria o acionista controlador dessa S.A que, mediante os devidos registros na CVM, serviria de veículo para as captações do time que financiariam projetos como a construção de um estádio ou a compra de um jogador. A dúvida é se os dirigentes dessas S.As criadas pelos clubes teriam credibilidade perante os investidores.

O caminho até o mercado requer cuidados. Aos times que têm essa pretensão, o conselho é seguir os ensinamentos do folclórico Vicente Matheus, presidente do Corinthians nos anos 70 e 80: “começar do começo”. Isso implica investir em governança dentro das atuais administrações dos times, antes mesmo de pensar em abrir uma empresa ou aventurar-se a tentar um registro na CVM. Para José Antônio Alves, da FGV, a situação do futebol brasileiro assim permanecerá enquanto o esporte não se livrar de um círculo vicioso. A ausência de profissionalismo se reflete numa decisão errada da diretoria que, por sua vez, atrapalha o desempenho dos jogadores, leva o time à derrota e afasta os patrocinadores. Ainda muito longe dos grandes times europeus de capital aberto, os nossos precisam, antes de mais nada, vestir a camisa de uma gestão competente.

Outro artigo sobre o mesmo assunto:

Eficiência mesmo, só estilo britânico

Dentro e fora dos gramados, o Manchester United é um modelo a ser seguido

Por Cíntia Cristina da Silva
* Matéria cedida pela Revista Capital Aberto, edição de abril/2006.
Informações sobre a publicação podem ser obtidas no site www.revistacapitalaberto.com.br.

Os ingleses inventaram o futebol e a maneira mais eficiente de ganhar milhões de libras com o esporte. O exemplo mais contundente e bem acabado é o Manchester United, um dos clubes mais conhecidos do mundo. Fundado em 1878, foi uma das primeiras agremiações de futebol a abrir o capital, em 1991.

Na época, o time atravessava uma situação difícil. Sem dinheiro para reformar o estádio Old Trafford como exigia o Relatório Taylor — legislação que obrigou uma mudança nas condições de segurança dos estádios de futebol —, o Manchester resolveu lançar ações na Bolsa de Valores. A empreitada deu certo: o time captou dinheiro suficiente para reformar o estádio, investir em jogadores e ganhar títulos. Desde então venceu oito campeonatos ingleses entre 1993 e 2003. O preço das ações de times de futebol segue a mesma lógica de mercado a que estão sujeitas outras companhias. No entanto, a valorização da empresa depende de uma variável interessante: as vitórias e derrotas dentro de campo são levadas em consideração, destaca o especialista em gestão de clubes de futebol e professor da Fundação Getúlio Vargas, Antônio Carlos Kfouri Aidar, autor de A Transformação do Modelo de Gestão no Futebol.

Com as vitórias em campo, o retorno financeiro do Manchester se manteve nas alturas: o clube está no topo dos times mais ricos do mundo há oito anos consecutivos. O ranking publicado anualmente na Forbes é feito pela empresa de consultoria inglesa Deloitte Sports Business Group, especializada em administração esportiva. Além do patrimônio dos clubes, a Deloitte leva em consideração os rendimentos anuais.

Quando abriu o capital, o time inglês tinha um patrimônio de 18 milhões de libras. Em 2001 foi apontado como o time mais bem-sucedido na Bolsa de Valores com um lucro estimado em 22 milhões de libras. A administração eficiente e a exploração máxima de sua marca — cujo emblema é facilmente reconhecido entre fãs de futebol — foram revertidas em rendimentos. O Manchester passou a tratar seus torcedores como clientes e essa profissionalização gerou uma empresa multi-funcional. Hoje, os “red devils” têm sua própria emissora de TV e uma estrutura impressionante. O estádio Old Trafford abriga um museu, lojas, restaurantes e camarotes, com capacidade para até 4 mil pessoas. Toda essa estrutura funciona o tempo todo, pois o local é alugado para festas e convenções.

O time também administra seu próprio banco. Oferece seguros, fundos de investimento, cartão de crédito, financiamentos, além das vantagens que o “dinheiro não pode comprar”, ou seja, possibilidades de visitas aos vestiários, encontros com os jogadores e outras atividades que, de fato, têm valor inestimável para torcedores de futebol.

O modelo de gestão implantado no Manchester não tem nada de mambembe. Ao contrário dos times brasileiros, as equipes inglesas sempre tiveram uma administração profissional. Já eram gerenciadas como empresas confiáveis; portanto a transição para o mercado de capitais transcorreu sem sobressaltos.

Todo esse vigor financeiro atraiu grandes investidores. Recentemente o empresário americano Malcolm Glazer, dono do time de futebol americano Tampa Bay Buccaneers, comprou 70% das ações do clube. Mas as chances de ele fazer uma oferta pelo restante das ações é para lá de remota. Além de acionistas, os minoritários do Manchester são torcedores fervorosos e contam com o governo inglês como aliado. Glazer, imagina-se, não compraria essa briga.

17 maio 2006

Petrobrás - 3


O gráfico ao lado mostra o efeito dos problemas da Bolívia na cotação da Petrobrás. Num primeiro momento parecia que bolsa não considerou importante os fatos que estavam ocorrendo. Posteriormente a cotação caiu.

O preço do ADR chegou a 106.92 no dia 9 de maio. Hoje, no dia 17, está a 93,49, queda de 12,56%. Para uma empresa com um valor de mercado de 102 bilhões é muito. Mas para uma empresa que tinha uma cotação de 83.11 em meados de fevereiro pode indicar uma quebra numa tendência altista.

Em Nova Iorque o beta da empresa é de 1,94. Isso classifica a empresa como um investimento agressivo, de risco.

Ebitda


Uma reportagem interessante do jornal Valor Econômico trata da adoção de padrão para cálculo do Ebitda. Será mesmo necessário tamanha discussão para mensurar um indicador? Qual a relevância dessa padronização? Isso significa que teremos no futuro outros índices com padronização?. Veja a reportagem a seguir:

Pesquisa revela que analistas querem padrão para Ebitda
Angelo Pavini
16/05/2006

Alguns chamam de Ebitda, outros de Lajida, e por aí começa uma polêmica que ganha cada vez mais espaço no mercado brasileiro envolvendo o indicador de fluxo de caixa, que serve de base para a maioria dos analistas decretar que uma ação deve ser comprada ou não. Seu cálculo pode variar de acordo com a visão de cada empresa ou analista, uma subjetividade que levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a colocar sua padronização em discussão no início do ano e estimulou a Associação dos Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (Apimec) a realizar uma pesquisa para avaliar quais seriam as medidas necessárias para aperfeiçoar o indicador.

A base da discussão é o fato de o Ebitda - Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, ou Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortizações - não ser um indicador contábil. Ou seja, não tem de obedecer uma série de critérios legais para ser calculado, como acontece com o lucro líquido ou a receita líquida, lembra Reginaldo Alexandre, diretor técnico da Apimec São Paulo e responsável pela pesquisa. "E ele serve de base para vários outros indicadores de liquidez, lucratividade e rentabilidade, como o EV/Ebitda (que mostra a relação entre o valor de mercado da empresa em relação a sua geração de caixa), ou Ebtida/Despesas financeiras". Há uma preocupação também com relação à forma como as empresas usam o indicador, e que pode abrir espaço para manipulação dos números.

A pesquisa - concluída dia 2 de maio - envolveu 51 associados da Apimec que responderam cinco perguntas. A primeira foi sobre qual a melhor forma de cálculo do Ebitda, se a partir do lucro operacional, mais detalhada, ou pelo lucro bruto, mais direta. A maioria, 64%, optou pelo cálculo mais detalhado.



Outra pergunta foi sobre se as despesas e receitas financeiras deveriam ser incluídas no indicador, uma vez que nem sempre elas fazem parte do ganho que a empresa tem com as operações. Dos consultados, 79% acham que sim, que é preciso incluir os resultados financeiros, mas querem que eles sejam detalhados para que o analista avalie sua importância e seus impactos. "Esse é um ponto polêmico especialmente no caso das empresas exportadoras, que usam muito as antecipações de câmbio para obter reais com custo baixo e aplicar com ganhos no mercado brasileiro", diz Alexandre.

Na terceira questão, sobre despesas e receitas não recorrentes, ou seja, que podem não se repetir, como a venda de uma fábrica, uma multa ou um acidente que paralise a produção, 62% dos analistas disseram ser a favor de que elas sejam incluídas, desde que a empresa deixe claro os motivos. "Mas vale notar que 38% dos consultados simplesmente acham que esses resultados não recorrentes devem ser desprezados", diz Alexandre.

A quarta pergunta era se o Brasil deveria adotar um padrão de divulgação de medidas não contábeis semelhante ao americano, o que foi aprovado por 91% dos analistas. "Nos EUA, a legislação é muito restritiva, as empresas que apresentam o Ebitda o têm de fazer de forma bem clara, abrindo a fórmula de cálculo e explicando por que e o uso que se quer fazer desse indicador contábil."

A conclusão final é que os analistas defendem uma padronização do Ebitda. Além disso, tanto os resultados financeiros quanto os não recorrentes merecem um tratamento especial. E, finalmente, que as empresas têm de ser o mais transparentes que puderem sobre como calculam o indicador, sobre cada item fora do normal e também sobre o motivo de o usarem.

Alexandre admite que nem sempre o Ebitda cumpre sua missão de dar uma idéia da real saúde de uma empresa. Ela pode, por exemplo, estar expandindo vendas a um ritmo de 30% ao ano, mas necessita de empréstimos para financiar essas vendas ou repor o estoque. Ou fez todas as vendas a prazo e vai demorar para receber ou sofrerá com inadimplência. Há ainda o caso de duas empresas com o mesmo Ebitda, mas em fases de vida totalmente diferentes, uma com fábricas velhas, outra com novas. "A necessidade de investimento de uma vai ser muito maior", diz. Tudo isso não aparece no Ebitda, por isso é importante analisar também outros dados para saber exatamente como está a saúde da empresa, diz


(Notícia enviada por Ricardo Vianna)

Freakonomics no Futebol

Freakonomics é o título de um livro de sucesso sobre a aplicação da economia em acontecimentos cotidianos. Seus autores, Steven Levitt e Stephen Dubner, possuem uma teoria sobre uma variável que interfere na qualidade do jogador: a data do nascimento.

Para Levitt e Dubner, a responsabilidade desse fato está na regra da Federação Internacional de Futebol (FIFA) que determina o dia 1o. de janeiro como data limite para as competições de futebol no mundo. Essa regra teria um impacto na determinação das equipes mais novas de futebol, que termina por influenciar no sucesso posterior no futebol. A hipótese é que as equipes novas de um país (juvenis, infantos e outras) estariam representadas principalmente por atletas que nasceram no início do ano.

Parece que a maioria dos atletas ingleses nasceram no início do ano e o mesmo ocorre com os atletas da Alemanha.

Interessante e polêmico. Por curiosidade tentei verificar se isso é razoável na seleção do Brasil. O resultado: 16 dos 23 convocados nasceram no primeiro semestre. E dos 16, 9 foram no primeiro semestre.

16 maio 2006

Wal Mart aprende com seus erros

Uma reportagem interessante do Wall Street Journal sobre os erros cometidos pela maior empresa de varejo do mundo. E como foram corrigidos.

Escorregões culturais ensinam ao Wal-Mart como lucrar fora dos EUA
May 16, 2006 4:05 a.m.

Por Geraldo Samor, Cecilie Rohwedder e Ann Zimmerman
The Wall Street Journal

Quando a Wal-Mart Stores Inc. começou a se expandir pelo mundo no início dos anos 90, ela oferecia aos consumidores estrangeiros um pedacinho dos Estados Unidos — e este foi exatamente o problema.

No Brasil do futebol, a rede fez uma promoção de tacos de golfe. No calor do México, tentou vender patins de gelo. Na impassível Alemanha, seus funcionários empacotavam compras e sorriam, levantando suspeitas de flerte.

Agora, surgem sinais de que o Wal-Mart aprendeu com seus erros. A empresa tem comprado redes locais de sucesso, contratado executivos locais qualificados e aprendido os gostos locais. Isso a está transformando numa varejista global ainda mais poderosa. Mesmo assim, a empresa ainda enfrenta obstáculos, como resultado de seu confronto com os melhores varejistas do mundo.

As operações internacionais do Wal-Mart já são 20% de suas vendas totais e representam o segmento que mais cresce dentro do grupo. Se a operação internacional do Wal-Mart fosse uma cadeia independente, poderia encerrar o ano como quarta maior varejista do mundo, atrás do Wal-Mart dos EUA, da americana Home Depot Inc. e da francesa Carrefour SA, respectivamente, diz Michael Exstein, analista do Credit Suisse Group. Segundo suas projeções, o faturamento internacional do Wal-Mart vai subir para US$ 78 bilhões no ano fiscal que se encerra em 31 de janeiro de 2007. No último ano fiscal, ele foi de US$ 63 bilhões.

O Wal-Mart, que vai divulgar hoje o balanço do trimestre encerrado em 28 de abril, disse este mês que as vendas devem subir 12%, para US$ 81,5 bilhões, devido em parte a uma alta de 24% das vendas internacionais. Nos EUA, o ganho foi de 10%.

No Brasil, o grupo saltou de sexta para terceira maior rede varejista depois de aquisições realizadas nos últimos dois anos. No México, o Wal-Mart é o maior varejista em vendas, e suas ações são negociadas como uma empresa separada, a Wal-Mart de México SA. Esses dois mercados respondem por 22% das vendas internacionais da empresa. Na Grã-Bretanha, que responde por 45% das vendas fora dos EUA, a companhia enfrenta um ambiente mais difícil, embora ela esteja tentando para resolver os problemas. A situação é a mesma na Alemanha e no Japão.

"Não vamos ganhar em todos e cada um deles", disse recentemente o diretor-presidente do Wal-Mart, Lee Scott, referindo-se aos 15 países em que a empresa atua. "Não há nenhum segredo na nossa fórmula em que basta chegar, pendurar uma placa na porta e, 'Meu Deus, façam fila! Tem um Wal-Mart aqui!'. As coisas não funcionam assim."

Os desafios do Wal-Mart variam de acordo com o país. Na Alemanha, um processo aberto por trabalhadores forçou a empresa a revogar um trecho do manual de ética que proibia relacionamentos românticos entre supervisores e empregados. Embora essas normas sejam comuns nos EUA, os trabalhadores alemães as consideraram uma violação de seus direitos pessoais.

O Wal-Mart se deu melhor na Grã-Bretanha, onde comprou em 1999 a Asda. Por muito tempo, a Asda foi a mais barateira entre as principais cadeias de supermercados do Reino Unido. Mas rivais têm conseguido cortar preços e oferecer novos produtos antes da Asda. A Tesco PLC, a maior varejista do país, compara seus preços com os da Asda em seu site na internet.

No Japão, o Wal-Mart também tem enfrentado uma concorrência feroz. Mesmo antes de a empresa ter entrado no país, em 2002, quando comprou uma parcela minoritária na rede de alimentos e vestuário Seiyu Ltd., concorrentes como a Aeon Co. mandaram funcionários para conhecer as lojas do Wal-Mart nos EUA, Coréia do Sul e China. Copiando a fórmula do Wal-Mart, varejistas japoneses cortaram preços e abriram megalojas de um andar com estacionamentos gigantes — uma novidade no país.

Quando o Wal-Mart iniciou suas operações fora dos EUA, em 1991, não estipulou metas específicas e parecia achar que o que tinha funcionado nos EUA funcionaria no exterior. No México, a rede estava certa. Lá, a empresa comprou a Cifra SA, a maior varejista do país, e transformou as lojas nas megalojas de estilo americano, com grandes descontos.

Depois de alguns escorregões culturais, como o dos patins de gelo, a empresa entendeu o que os consumidores queriam. Para os milhares de mexicanos que viajam aos EUA a trabalho ou até mesmo para um fim de semana de compras, o Wal-Mart era um pedacinho dos EUA no México.

Quando o Wal-Mart abriu as primeiras lojas no Brasil, em 1995, ele tentou o modelo supercenter, mas fracassou inicialmente. Muitos brasileiros preferiram continuar comprando em lojas mais próximas, em vez de dirigir até um longínquo Wal-Mart. Nos últimos dois anos, a empresa aprendeu essa lição com a ajuda de um grupo de altos executivos que inclui 16 brasileiros. Ela comprou redes de varejo com diversos formatos, incluindo as lojas de bairro Balaio e as lojas Magazine, que não vendem comida.

O Wal-Mart também percebeu que teria de reservar um espaço bem maior para comida do que nos EUA, onde os consumidores estão mais acostumados a comprar carne e peixe embalados, em vez de frescos. Para os brasileiros poderem apontar para o pedaço de carne que querem e pedir para fatiar no local, foi preciso ampliar a área do açougue.

— Kris Hudson, John Lyons colaboraram neste artigo