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07 abril 2025

Automação e profissão


De Portugal:

(...) os autores do estudo "Automação e inteligência artificial no mercado de trabalho português", publicado esta sexta-feira, classificaram 120 profissões em função do grau de exposição à disrupção tecnológica: efeitos transformadores (que resultam da exposição a instrumentos de inteligência artificial) e efeitos destrutivos (que resultam da exposição à automação que substitui trabalho humano). Em quatro categorias:

"Profissões em ascensão": Alto potencial transformador e baixo risco de destruição pela automação (mais promissoras)

"Terreno das máquinas": Alto potencial transformador e elevado risco de automação (numa encruzilhada)

"Terreno dos humanos": Baixa exposição tanto transformativa como destrutiva (menos expostas)

"Profissões em colapso": Potencial transformador mínimo e elevada exposição destrutiva (risco de extinção)

O estudo completo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que além de ter a lista também descreve a metodologia e os critérios utilizados, pode ser consultado aqui.

A compra de um óculos no Brasil, segundo um gringo

Eis o que ocorreu com um especialista no assunto:


No Brasil, comprar um par de óculos de sol infantis requer um elaborado ritual de negociação completo com serviço de café e vários funcionários de vendas, como descobriu o professor da London School of Economics, Christopher Sandmann, durante férias em família.

(...) Sandmann descreve em uma loja de óptica high-end com seu filho de dois anos de idade, onde eles foram recebidos por nada menos que seis funcionários. Um segurava a porta, outro os levava até uma mesa, um terceiro apertava as mãos, enquanto outros ofereciam água, limonada e café. (...)

A verdadeira lição veio durante as negociações de preços. O preço inicial de £100 (700 Reais) (...) foi o ponto de partida para uma série de ofertas e contraofertas. A parte principal [da estratégia]? Os vendedores brasileiros dominaram uma tática psicológica comprovada. Eles restauram seu poder de barganha adiando a decisão final para um dono de loja ausente por telefone. Isso transforma a negociação em um esforço colaborativo, com comprador e vendedor subitamente aliados na esperança da aprovação do proprietário.

"Ligar para o proprietário é uma tática inteligente", explica Sandmann. "Primeiro, amarra-lhes as mãos; eles não ligarão duas vezes para o chefe em meu nome. Também é psicologicamente astuto porque transforma [o vendedor] e eu em aliados. Anteriormente, todos os mimos com café e limonada encobriam o fato de estarmos envolvidos em um cabo de guerra pelo preço."

(Eu já tive essa experiência na compra de um automóvel. Nunca tinha imaginado sob essa ótica - ops)

Uma decisão desastrosa de economia de custo

 Sobre o veículo Cybertruck da Tesla:

(...) foi a decisão inicial de criar um veículo que não precisasse ser pintado. Se a Tesla optasse por não pintar as picapes, não precisaria instalar uma nova linha de pintura de US$ 200 milhões (R$ 1,122 bilhões), uma grande economia potencial. Além disso, não teria que se preocupar com a fiscalização da EPA em relação às emissões prejudiciais e ao desperdício que essas instalações frequentemente geram.


No fim, Musk escolheu um exterior de aço inoxidável, a mesma decisão que DeLorean tomou para seu problemático carro esportivo quatro décadas antes. Mas, como Musk não é um engenheiro de produção, pode não ter compreendido completamente os desafios que esse material apresenta em relação ao alumínio ou a materiais compostos. Além do fato de que o aço inoxidável deixa marcas de mão visíveis – uma reclamação comum em eletrodomésticos –, ele é difícil de dobrar e tende a voltar à sua forma original, um dos motivos pelos quais há problemas nos painéis da carroceria da Cybertruck.

“Eles ficaram entusiasmados por não gastar US$ 200 milhões em uma linha de pintura, mas provavelmente gastaram isso tentando fazer o aço inoxidável funcionar”, comenta Glenn Mercer.

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui

06 abril 2025

Grandes nomes da história da contabilidade dos EUA: Sprague


Charles Ezra Sprague (1842-1912) teve grande influência no desenvolvimento inicial da profissão contábil nos Estados Unidos. Era um homem de cultura e chegou a ser fluente em 16 idiomas. Formou-se em 1860, e serviu no Exército da União durante a Guerra Civil. Em 1870, começou a trabalhar como escriturário no Union Dime Savings Bank, em Nova York. Subiu rapidamente na hierarquia do banco e em 1892, foi eleito presidente do Union Dime Savings Bank, cargo que ocupou até sua morte. Durante sua gestão, introduziu diversas inovações bancárias, como cadernetas e talões de cheque pequenos, livros contábeis em fichas removíveis e uma máquina de lançamento de lançamentos contábeis.

Sprague viajava com frequência à Europa e nessas viagens conheceu práticas contábeis de outros países, como Inglaterra e Alemanha. No primeiro, aprendeu a importância de haver procedimentos formais para o reconhecimento de profissionais da contabilidade. Introduziu o sistema de um conselho de examinadores para contadores públicos e tornou-se um dos primeiros contadores públicos certificados no estado de Nova York. Na Alemanha, conheceu as abordagens contábeis do país, que influenciaram seus escritos posteriores.

Escreveu diversas obras, incluindo: The Accountancy of Investment (1904), Extended Bond Tables (1905), Problems and Studies in the Accountancy of Investment (1906), Tables of Compound Interest (1907), Amortization (1908), The Philosophy of Accounts (1908) e Logarithms to 12 Places (1910). Antes disso, envolveu-se com a publicação The Bookkeeper, para a qual escreveu e atuou como editor associado de 1880 a 1883.

Seu livro mais importante, The Philosophy of Accounts, teve enorme impacto sobre a prática contábil, passando por cinco edições em menos de 15 anos. Antes dessa obra, a maioria dos livros de contabilidade eram manuais práticos, com exemplos e exercícios. Sprague tentou explicar o "porquê", e não apenas o "como", da contabilidade, um afastamento da abordagem tradicional americana ou inglesa, aproximando-se do estilo alemão.

No livro citado (The Philosophy of Accounts) ele propôs uma nova classificação de contas. Antes, as contas eram divididas em pessoais e impessoais. Sprague propôs uma divisão mais simples: um grupo com ativos e passivos, e outro com capital e contas de lucros e perdas. Um conceito introduzido por ele em The Bookkeeper - ativos igualam passivos mais patrimônio (A = P + PL) - foi usado para representar a teoria das contas de forma algébrica. 

Adaptado do verbete escrito por Rodney Rogers, The History of Accounting. Foto: aqui

Grandes nomes da história da contabilidade dos EUA: Moonitz

Maurice Moonitz (1914-2009) começou os estudos como músico. Mas a crise de 1929 e a mudança para Califórnia levou a trabalhar como contador de banco. Conseguiu o bacharelado (1933), o mestrado (1936) e o doutorado (1941) pela Universidade da Califórnia em Berkeley, onde tornou-se professor associado efetivo (1947) e trabalhou até a aposentadoria (1978).

Além de pesquisador, tinha uma experiência prática resultante do trabalho, por oito anos, como contador e auditor. Atuou por três anos no Accounting Principles Board, responsável pelas normas contábeis dos EUA na década de 1960.

Sua obra mais reconhecida, The Entity Theory of Consolidated Statements (1944), apresentou uma abordagem conceitual para as demonstrações consolidadas, defendendo o tratamento de grupos de empresas interligadas como uma única entidade econômica e contábil. Essa perspectiva exige que todos os ativos e passivos, inclusive o ágio, reflitam 100% de seus valores de transação, e não apenas o percentual correspondente ao controle majoritário.


Outra contribuição importante foi o livro-texto em dois volumes Accounting: An Analysis of Its Problems, com Charles Staehling, que incluía um exemplo completo em que todos os elementos das demonstrações financeiras, inclusive o lucro líquido, eram mensurados a valor presente.

Em 1960, Moonitz foi nomeado o primeiro diretor de pesquisa contábil do AICPA. Suas publicações The Basic Postulates of Accounting (1961) e, com Robert T. Sprouse, A Tentative Set of Broad Accounting Principles for Business Enterprises (1962), foram os números 1 e 3 da série de Estudos de Pesquisa Contábil do AICPA. O primeiro estudo atendeu à demanda por uma investigação sobre os postulados fundamentais da contabilidade. No entanto, como a abordagem normativa levava à contabilidade a valor corrente, foi rejeitada pelo establishment contábil. Em 1962, o Accounting Principles Board declarou que os estudos, embora valiosos, diferiam demais dos princípios geralmente aceitos para serem adotados naquele momento. 

Moonitz também contribuiu para a contabilidade inflacionária, refinando e esclarecendo a abordagem de nível geral de preços, hoje amplamente aceita pelos estudiosos. Produziu ainda análises sobre o processo de definição de normas contábeis nos Estados Unidos. Todas as suas obras se destacaram pelo alto nível de rigor acadêmico e influenciaram profundamente o campo da contabilidade por meio de outros estudiosos.

Baseado no verbete escrito por George Staubus para The History of Accounting. 

Grandes nomes da história da contabilidade dos EUA: Devine


Carl Devine (1911-1998) é, na opinião de Arrington, o intelectual mais formidável da história do pensamento contábil. Sua principal obra, escrita ao longo de quatro décadas, Essays in Accounting Theory, aborda ideias que vão da matemática à poesia, dentro do contexto da contabilidade. Essa obra rendeu, em 1985, o prêmio de Contribuição Excepcional à Literatura Contábil, concedido pelo American Institute of Certified Public Accountants e pela American Accounting Association. A última edição do livro apareceu um ano após seu falecimento. 

Formado em matemática e ciências físicas, com MBA (1938) e doutorado em administração de empresas pela Universidade de Michigan (1940) teve como mentores William Andrew Paton e A.P. Ushenko, lógico da filosofia. Passou por diversas universidades como professor ao longo da sua vida profissional. 

Seu pensamento tem por característica uma fidelidade ao pragmatismo, sem nunca adotar posturas rígidas ou inequívocas. Esse tipo de flexibilidade intelectual pragmática nunca foi popular no pensamento contábil.  

Para Devine, a preferência por alternativas contábeis depende do contexto e da história, algo que ele ilustra em várias questões específicas da contabilidade prática, como avaliação de estoques, depreciação e mensuração do resultado. Nesse sentido, Devine adota uma atitude sobre a fragilidade de fundamentar a validade do conhecimento em um único paradigma ou metodologia. Ele valorizou um positivismo modestamente credível, mantendo com vigor o interesse dos pragmatistas por uma ciência da experiência. 

Devine confere tanta importância às questões morais quanto às epistemológicas. O conhecimento sobre o humano deve ser guiado por uma obsessão com as consequências do saber para a busca humana por uma vida boa e justa. Uma ciência indiferente - ou mesmo antagonista - a questões de valores, ética e virtudes, por mais que se interpretem esses termos, é uma ciência muito parcial, senão falsa. 

Do verbete de C. Edward Arrington, The History of Accounting. Imagem do livro Essays, nona edição,