Nos últimos anos, em diversos países, percebeu-se uma inflação nas notas dadas aos alunos. Nunca vi uma pesquisa sobre isso no Brasil, mas pode estar acontecendo também em nosso país. Isso significa que o número de notas mais elevadas tem se tornado cada vez mais comum. Como a educação é, antes de tudo, um sinal, conforme Brian Kaplan, a nota deixou de desempenhar essa função.
Tenho um pequeno exemplo da minha universidade. Raramente um aluno recebe uma nota que não seja a máxima no Trabalho de Conclusão de Curso. Veja que, apesar de o exemplo ser da minha instituição de ensino, creio que isso também ocorra em outras escolas. Se a nota máxima é o esperado, perde-se um critério para distinguir qual trabalho de conclusão de curso é de boa qualidade e qual é, na verdade, um texto mediano.
Uma forma de o aluno sinalizar que seu TCC é de boa qualidade é obter a aprovação em um congresso. Assim, seu trabalho recebe a chancela de um evento acadêmico, tornando-se um indicativo de qualidade. O que deveria ser resolvido na nota do TCC acabou beneficiando os organizadores de eventos científicos.
Isso também distingue um curso a distância de um curso presencial nos dias de hoje no Brasil. Talvez eu esteja errado aqui, mas conto com o respaldo da dissertação de mestrado de Elizabeth Araújo, que comprovou esse fato. Fazer um curso presencial é um sinal importante para um futuro empregador.

Há uma proposta de utilizar o modelo de resposta ao item como solução para a inflação das notas. As notas ajustadas significariam que uma nota máxima em Cálculo teria um valor muito maior do que uma nota máxima no TCC. Se os alunos soubessem disso, se dedicariam mais a disciplinas como Cálculo; os professores, sabendo que sua nota nessa disciplina seria mais valorizada, poderiam atribuir uma avaliação mais justa.
Aproveitando minha experiência pessoal, conto um caso que ocorreu recentemente comigo. Um aluno estava sendo reprovado e argumentou que a nota poderia prejudicá-lo em sua tentativa de estudar no exterior. Pensando bem sobre o assunto, percebi que o discente só considerava o seu próprio lado. Caso eu me sensibilizasse com sua perda e ele conseguisse o intento de ir para o exterior, poderia estar prejudicando alguém que foi avaliado de maneira mais justa. Decidi, então, sinalizar que o aluno não era tão brilhante quanto imaginava, atribuindo-lhe a nota justa.
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