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12 maio 2017

Corinthians: exemplo para contabilidade?

O Sport Club Corinthians Paulista divulgou suas demonstrações contábeis no final de abril. Uma análise das demonstrações permite notar, de imediato, um aumento substancial nos seus ativos, de 1,351 bilhão para 2,164 bilhões, em razão dos contas a receber de longo prazo (mais 487 milhões) e imobilizado (mais 395 milhões). Ao mesmo tempo, aumentou o valor de receitas a realizar de longo prazo (mais 481), que representa, de certa forma, a contrapartida do contas a receber, e o ajuste de avaliação patrimonial (mais 407).

Em termos de resultado, destaca-se o substancial aumento da receita de futebol decorrente dos direitos de transmissão de TV (mais 90 milhões), que ajudou no superavit registrado e que reverteu o deficit de 2015.

O que chama atenção é realmente o imobilizado. O detalhamento da nota explicativa revela que ocorreu um aumento líquido de terrenos, de 79 milhões para 422 milhões, o que explica a grande variação no imobilizado. De onde surgiu estes valores? O aumento de terrenos teve como contrapartida a conta de ajuste de avaliação patrimonial, que como escrevemos anteriormente, aumentou em 407 milhões. Eis o que informa a demonstração:

Em 2016, a administração optou por fazer o ajuste de avaliação do seu patrimônio (edificações/terrenos) do Clube, através do laudo técnico de avaliação realizado em 05/12/2016 pela empresa Pontes & Peteado (sic) - Empreendimentos, Consultoria e Perícias Ltda, conforme demonstrado abaixo”


(Confesso que procurei pela empresa no cadastro do CFC e não localizei) Logo após o detalhamento, o clube informa o seguinte:

A administração do Clube optou por considerar o laudo patrimonial com a data de dezembro de 2016 para realização dos lançamentos em 31 de dezembro de 2016 e decidiu não retroagir para a data de adoção inicial da ITG 2003, aprovada pelo Conselho Federal de Contabilidade por meio da Resolução 1.429/2013 que previa os registros desses valores a partir de 1o. de janeiro de 2013, por entender que os esforços e custos envolvidos nesse trabalho excedem os benefícios proporcionados pelas novas informações para o ano de 2015. Por essa razão, não houve a reapresentação dos saldos do imobilizado em 2015, o que gerou o registro na conta do patrimônio líquido - Ajuste de Avaliação Patrimonial.


Entenderam? O clube não usou o deemed cost no passado, fez uma reavaliação em 2016 e resolveu não reapresentar as demonstrações, alegando a relação custo-benefício da informação. Afinal, a reavaliação adicionou somente 422 milhões ao ativo do clube ou 31% a mais em relação ao ativo existente no final de 2015. Observe que estamos usando o termo reavaliação.

Auditor - A empresa Parker Randall Brasil foi a responsável pela auditoria do clube. E fez um relatório com ressalva, informando o seguinte:

Conforme mencionado (...) o Clube contabilizou a reavaliação de determinados bens do ativo imobilizado ao seu valor justo (...) tendo como contrapartida a rubrica “Ajuste de avaliação patrimonial” no patrimônio líquido. A contabilização dessa reavaliação está em desacordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil (Pronunciamento Técnico CPC 27 - “Ativo Imobilizado”. Consequentemente em 31 de dezembro de 2016, o saldo do imobilizado e do patrimônio líquido (...) estão apresentados a maior em R$407.738 mil cada.


Ou seja, o auditor foi direto ao ponto e indicou que o clube fez uma reavaliação. Mas não foi somente isto. O auditor aponta dois outros fatos que ajudaram na ressalva. O primeiro é a falta de confirmação dos saldos ou circularização. Quando um auditor faz seu trabalho, ele espera receber a informação dos credores e devedores sobre os valores informados pelo clube. Pois a empresa não conseguiu confirmar estes valores, de assessores jurídicos e de pessoas jurídicas. E isto inclui patrocinadores, como Caixa Econômica e Nike, além da rede de televisão (TV Globo). Ou seja, as maiores entidades que apoiam o clube não confirmaram os valores envolvidos nesta relação. Finalmente, os auditores tiveram dúvidas relacionadas com o fundo de investimento relacionado com a construção do estádio do clube. O clube registrou o estádio como cotas de investimento, mas existem dúvidas sobre a questão jurídica e seus valores.

Exemplo - Há anos venho comentando que o Corinthians é um exemplo de apresentação das demonstrações contábeis num clube de futebol. Não mais, depois destas demonstrações contábeis com ressalva. O que temos aqui parece mais um exemplo de um relatório dos auditores independentes, que indica os pontos cruciais, sendo preciso na indicação para o usuário externo dos motivos da ressalva.

3 comentários:

  1. Interessante seu ponto de vista. Me permita fazer 2 perguntas de leigo.

    1. O que significam os termos circulante e não circulante no qual são subdivididas tanto as receitas quanto as despesas?

    2. No item 8 da contabilidade, referente aos intangíveis, porque existem dados de jogadores que encerraram o contrato em 2015 como Paolo, Ralf, Wagner Love, etc?

    Obrigado

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    1. 1. os termos circulante e não circulante correspondem, numa linguagem de leigo, a curto e longo prazo.
      2. As demonstrações são do exercício social de 2016, mas para fins de comparação também são informados aspectos do período anterior. Esta é uma possibilidade. A outra, é que ficaram resquícios do contrato por pagar/receber.

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  2. Que postagem maravilhosa!!!!!!!!!!

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