O nome de M. N. Burnier aparece nas minhas pesquisas contábeis pela primeira vez no ano de 1838. O Brasil já era um país independente há 16 anos, existia o ensino de contabilidade no país, mas somente uma tradução publicada de um texto de contabilidade (1). Os livros de contabilidade eram importados de Portugal. Sendo um país agrário, com uma atividade comercial importante, Burnier será o autor do primeiro de livro de contabilidade publicado no Brasil.
Sabemos muito pouco sobre Burnier (2). Ele era um advogado francês da Saboia, uma região que faz fronteira com a Itália. Deve ter chegado ao Brasil na década de 30 do século XIX, mas provavelmente já sabia a língua portuguesa (3). O primeiro texto publicado por ele no Brasil deve ter sido “A Sciencia do Negociante, ou a Arte de Enriquecer pelo Commercio” (4).
Já o livro tinha a denominação de Elementos da Contabilidade Commercial (5).O título é bastante revelador da obra. É bom lembrar que o livro Os Elementos, de Euclides, é o livro didático mais bem sucedido e influente (6). Assim, parece que Burnier queria transformar seu livro numa obra didática. O segundo aspecto é que Burnier usa o termo “contabilidade”, referindo ao conteúdo. E naquele momento não era muito comum este termo. Finalmente, apesar de o país ser essencialmente agrícola, o livro trata da contabilidade comercial. Provavelmente naquele momento a principal aplicação aqui era no comércio.
O livro foi publicado por um sistema interessante: o leitor poderia ser um subscritor, pagando 2 mil reis e teria seu nome no fim do volume. Quem não subscreveu antes, pagaria um preço maior, de 4 mil reis. O editor era J. S. Saint-Amant. O início da subscrição ocorreu em agosto e o livro foi publicado um ano depois (7).
As citações sobre Burnier e sua obra são tão poucas que fica a impressão de que ele não existiu. Com efeito, tentei pesquisar no Google tanto o autor quanto a obra e não obtive sucesso.
Continua
(1) Tratava-se do livro de Jaelot, com a tradução de Candido de Deos e Silva. Conforme O Despertador, 23 de novembro de 1839, ed. 490, p. 3. Na Revista Nacional e Estrangeira, de maio de 1839, edição 2, p. 332, informa que este livro é “Sciencia do Guarda-Livros ensinada em 21 lições e sem mestre”, de autoria de Degrange, e não Jaelot. Esta revista critica a obra Sciencia afirmando ser incompreensível para os brasileiros
(2) Uma pesquisa mais direcionada na internet traz poucos resultados sobre o autor. Isto significa que nem a literatura contábil brasileira prestou atenção a Burnier, cometendo uma grande injustiça histórica, que tentaremos começar a reparar nesta postagem.
(3) O Despertador, 3 de agosto de 1838, ed 103, p. 4.
(4) O Despertador, 29 de março de 1838, ed 3, p. 2.
(5) Apesar da Revista Nacional e Estrangeira ter colocado o título da obra no singular, tudo leva a crer que este seja o nome correto da obra.
(6) Conforme Wikipedia, https://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Elementos
(7) O Despertador, 3 de agosto de 1838, ed 103, p. 4.
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