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26 agosto 2014

Curso de Contabilidade Básica: Sem fins lucrativos 2

A contabilidade possui muitas utilidades. Em geral quando aprendemos os primeiros passos na área concentramos nossa atenção nas empresas de serviço ou comercial, com fins lucrativos. E o uso que fazemos das informações obtidas geralmente está associado a uma decisão financeira: emprestar dinheiro para empresa, investir em ações, verificar a chance de falência,  etc.

Iremos tratar hoje de uma entidade sem fim lucrativo. E nosso objetivo é um pouco diferente das situações usuais. Vamos observar as informações contábeis do Instituto Ronald McDonald, uma entidade associada à empresa de fast-food McDonald´s. E nosso objetivo é tentar ajudar você a tomar uma decisão bem simples: você deve ajudar ou não o Instituto? Geralmente em agosto a rede de sanduíche promove o “McDia Feliz”, onde o cliente pode consumir um Big Mac, o principal sanduíche da rede, e o recurso arrecadado, exceto alguns impostos, é revertido para instituições de apoio e combate ao câncer infanto-juvenil no Brasil.

O Instituto Ronald McDonald disponibiliza um Relatório deAtividades desde 2004. Isto é um ponto positivo, já que a entidade está disposta a mostra o que faz com o dinheiro obtido nas campanhas. Vamos analisar somente o último relatório, mas você poderá notar que não existe muita diferença entre eles.

O relatório de atividades possui 72 páginas e é muito bem produzido. Mostramos a seguir a primeira página, com um desenho feito por uma criança de Santa Catarina. O objetivo do relatório de atividades já aparece muito claro aqui: comover o doador. O texto é dividido em Conselhos, Mensagem do Presidente, Quem somos, Programas, Projetos, Fontes de Recursos, Solidariedade traduzida em números, Transparência, Mensagem do Superintendente e Ficha Técnica. Cada um destes capítulos possui uma cor diferente, mas o padrão de apresentação é basicamente o mesmo: uma apresentação bonita, com muitas fotografias de crianças e um texto agradável.

No capítulo de Fontes de Recursos ficamos sabendo que foram vendidas 1,8 milhão de unidades em 2013, com uma arrecadação de 20,4 milhões de reais. Isto equivale a 11,33 reais por unidade vendida e fez com que o ano de 2013 batesse o recorde da campanha.

Vamos olhar as informações contábeis, que estão no capítulo Transparência. Este item começa com a “carta de auditoria”, assinada pela EY, uma das grandes empresas de auditoria, o que daria uma tranquilidade para o doador. Logo no segundo parágrafo a EY fala que examinou as “demonstrações financeiras” que “compreendem o balanço patrimonial em 31 de dezembro de 2013 e as respectivas demonstrações do resultado das atividades sociais, das mutações do patrimônio social e dos fluxos de caixa (...) assim como o resumo das principais práticas contábeis e demais notas explicativas”.  E esta carta afirma que está tudo certo com as informações. Isto parece ser um alívio para o leitor que deseja consumir seu Big Mac para ajudar as criancinhas.

Vamos então olhar as demonstrações financeiras do Instituto. Na página seguinte temos o balanço patrimonial, que se encontra reproduzido abaixo. A entidade possui um “caixa e equivalentes de caixa” de 13,7 milhões, que corresponde a 55% do ativo. (Volte no texto e veja que em 2013 o instituto vendeu 20,4 milhões de reais durante a promoção; parece que quase 70% estão “descansando” no caixa). A figura mostra que os detalhes desta conta estão na nota explicativa “4”. Existem 10,4 milhões de recursos repassados, que é explicado na nota 5.

No passivo existem 5,5 milhões de recursos a repassar e o “fundo social”, que corresponde ao capital social numa empresa, é de 16,4 milhões ou dois terços do lado direito. Observe o leitor que destacamos a seguinte informação: “as notas explicativas são partes integrantes das demonstrações financeiras”.

Bom, então vamos para as notas explicativas. Se o leitor tiver a curiosidade de acompanhar este texto com as demonstrações financeiras irá perceber que a carta do auditor está na página 67, o balanço patrimonial na página 68 e página seguinte é outro capítulo, qual seja, a “mensagem do supervisor”. É isto mesmo: a “transparência” limita-se a duas páginas! E as notas explicativas – conforme a carta e a figura acima? Não são apresentadas para o leitor. E as outras demonstrações financeiras que o auditor disse que analisou? Também não são apresentadas. Ou melhor, parece que é de uso e análise exclusiva da EY, a empresa de auditoria.

Ficamos curiosos em saber quem era o contador do Instituto. Mas isto também não é objeto do Relatório de Atividades. Se o leitor for mais curioso ainda poderá verificar que em nenhum dos relatórios anteriores as demonstrações são apresentadas completas.

Para finalizar encaminhamos a seguinte mensagem para o Instituto:

Estava lendo o relatório de atividades do Instituto e percebi que o auditor comenta sobre "notas explicativas" e "outras demonstrações". Entretanto, o relatório só apresenta o Balanço Patrimonial. É isto mesmo?


Vamos ver se teremos uma resposta. 

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