A função de guarda-livros corresponde ao que hoje denominamos de contabilistas. No final do século XIX o número de profissionais desta categoria cresceu, muito embora seja difícil determinar o número existente.
Ser um guarda-livros representa uma oportunidade de ascensão social e econômica pela acessibilidade aos ensinamentos.
Era possível adquirir conhecimentos necessários para exercer a profissão através de cursos particulares, muitos deles ministrados num horário bastante conveniente, ou mesmo até junto com as primeiras lições de matemática e escrita, conforme já demonstramos aqui em outras postagens. Ao contrário da advocacia, que era necessários estudos superiores, ser guarda-livros não possuía este requisito.
O curso Veridiano de escrituração mercantil, por exemplo, ensinava os livros exigidos por lei, além de noções de direito, redação e outros assuntos (1). O curso funcionava das 7 as 9 da manhã e das 7 a 9 da noite, o que permitia que o interessado que estivesse trabalhando pudesse adquirir conhecimentos de contabilidade.
Sobre o reconhecimento da sociedade é importante citar que o guarda-livros era um dos profissionais aptos a votar no império, conforme está expresso no Decreto 6097, de 12 de janeiro de 1876 (2), desde que tivessem ordenado acima de 200 reis e registro do comercio. Outro caso que prova a fé no guarda-livros está numa declaração dada em 1888 por J. M. Pontes, guarda-livros da Cia Carris de Ferro de S. Paulo, informando que um certo Luiz de Vasconcellos possuía ações da empresa (3).
Associação profissional
O crescimento do número de profissionais trouxe, como consequência, a reunião em associações. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a Associação de Guarda-Livros foi criada em 1876, coincidentemente no mesmo ano da lei eleitoral (4). Para evitar a desconfiança dos patrões, a Associação os convidava: “Pede-se o comparecimento de todos e assim também dos srs. negociantes que quizerem honrar-nos com a sua presença, e fazerem parte da mesma” (grafia da época) (5).
Discussões teóricas
Algumas discussões teóricas começam a surgir neste momento. Um profissional de nome Antônio Tibúrcio de Mello questiona a qualidade de dois peritos sobre o laudo emitido sobre a contabilidade de uma empresa que faliu (6). Outra discussão ocorreu a partir dos balanços da Companhia Cantareira sobre a melhor forma de classificação das ações a emitir (7). Ou a discussão sobre a diferença entre balanço e balancete, na mesma empresa (8).
Tecnologia
A contabilidade ainda era feita à mão. Assim, a boa caligrafia era um requisito básico para um bom profissional. Mas aparecem no Brasil os primeiros avanços tecnológicos para facilitar o trabalho guarda-livros. Um dos grandes problemas deste profissional era lidar com os problemas dos borrões provocados pela tinta. Na véspera da proclamação da república aparecem produtos para tirar borrões dos livros, “sem deixar vestígio”, como “O Electric” (9) ou “Eureka” (10).
(1) O Estado de S Paulo, 2 de fevereiro de 1899
(2) A Província de S Paulo, 4 de fevereiro de 1876.
(3) A Província de S Paulo, 17 de julho de 1888.
(4) A Província de S Paulo, 7 de setembro de 1876.
(5) A Província de S Paulo, 6 de agosto de 1876. No final do século aparece o Grêmio dos Guarda-livros de São Paulo.
(6) O Estado de S Paulo, 4 de outubro de 1899.
(7) A Província de S. Paulo, 13 de abril de 1884, p. 1
(8) A Província de S. Paulo, 21 de março de 1884.
(9) A Província de S Paulo, 19 de junho de 1889.
(10) A Província de S. Paulo, 7 de janeiro de 1889.
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