Mas na língua portuguesa o método das partidas dobradas
somente chegou em 1758 ou 264 anos de diferença. O que provocou tal atraso?
Uma hipótese é a dificuldade de difusão da invenção da
imprensa. Mas isto não se sustenta, já que em outros países europeus daquela
época o método foi difundido rapidamente. Além disto, o catalogo da Biblioteca Nacional
de Portugal mostra a presença de mais de mil títulos do século XVI e o dobro no
século seguinte.
Ao buscar por um texto pioneiro sobre o assunto na nossa
língua encontramos a obra Mercado Exacto
nos seus livros de contas ou Methodo Facil para qualquer mercador, e outros
arrumarem as fuas contas com a clareza neceffaria, com feu Diario, pelos princípios
das Partidas dobradas, fegundo a determinação de Sua Mageftade, de autoria
de João Baptista Bonavie. Esta obra é datada de 1758 e foi publicada em Lisboa.
A resposta para o grande atraso na divulgação do método está
na própria obra. Nas páginas 14 da obra constam diversas licenças para sua
impressão, incluindo a do Santo Oficio e do Rei. Na realidade são diferentes
pessoas permitindo que a obra seja impressa, com datas diferentes. Isto é um
claro sinal de que a impressão de textos em Portugal não era livre, já que
dependia da autorização da Igreja e do Rei. E uma pesquisa nos livros publicados
antes desta data vai encontrar que a maioria é composta por obras religiosas ou
por textos nacionalistas, como Os Lusíadas de Camões.
E o que conduziu a mudança, que permitiu o Rei e a Igreja
liberarem a publicação desta obra? A resposta seria as reformas que estavam
sendo conduzidas em Portugal pelo Marquês de Pombal. Uma das medidas de Pombal
foi a criação da Aula de Comércio, uma escola portuguesa técnica, com
disciplinas práticas, como a contabilidade, e duração de três anos. O
interessante é que a obra foi publicada em 1758 [1] e a escola foi fundada um
ano depois, mas provavelmente tanto uma quanto a outra são reflexos da mudança
do quadro institucional português promovido por Pombal.
Conteúdo do Livro
O livro de Bonavie [2] possui algo em torno de 150 páginas, ou
130 contadas a partir da introdução, bem menos que a obra de Pacioli. Mas
enquanto o livro do italiano era uma obra de aritmética e contabilidade,
Bonavie escreveu somente sobre as partidas dobradas.
Conforme anunciado na própria capa, a obra seria a primeira
parte e contem 15 itens: instruções gerais, instrução particular do memorial,
instrução particular do diário, instrução particular do livro de razão, títulos
das contas gerais e seus usos, instrução para passar as adições do diário para
o livro de razão, do livro de loge ou entrada das fazendas, do index ou
alfabeto do livro de razão, idea ou aplicação do método, para extrair um
balanço volante do livro de razão, forma do balanço volante, execução
verdadeira do memorial ou borrador, execução verdadeira do diário, execução
verdadeira do alfabeto ou repertório do livro de razão e execução verdadeira do
livro de razão. Como pode ser notado pela listagem acima, o método usado para
ensinar as partidas dobradas é bem distinto.
Quem era Bonavie?
Segundo o Diccionario Bibliographico Portuguez, de
Innocencio Francisco da Silva, de 1854, no seu volume terceiro, Bonavie talvez
tenha sido um italiano que apareceram em Portugal durante o governo de Pombal.
Silva afirma que não se tem muita notícia do autor [3], exceto pelo seu livro,
que Silva informa ter sido editado em 1779, o que contradiz a própria obra de
Bonavie (vide a figura acima). Ainda segundo Silva, a obra de Bonavie não fez
muito sucesso, sendo os exemplares vendidos “a peso”. Entretanto isto é
questionável, já que em 1771 a obra foi novamente editada, agora na cidade do
Porto.
[1] A data de publicação é controversa. Vasconcelos et al
afirma que a obra foi publicada em 1771, sem citar a fonte. Vide VASCONCELOS,
Ana et al. Uma abordagem histórica acerca dos Avanços Contábeis decorrentes das
reformas implementadas pelo Marquês de Pombal na Administração Fazendária do
Brasil Colonia de 1777 a 1808. Contextus,
v. 6, n.2, 2008. Já Silva informa o ano de 1779, conforme será comentado
adiante.
[2] Este livro encontra-se digitalizado na Biblioteca
Nacional de Portugal.
[3] Sobre Bonavie, a Biblioteca Nacional de Portugal que
Bonavie traduziu um livro de geografia em 1739. Isto seria um sinal que ele
viveu em Portugal durante muitos anos.
boa noite tenho um livro desse em minha posse gostaria de saber mais sobre ele , obgdo.
ResponderExcluir