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06 maio 2013

Gazeta do Rio de Janeiro e a Contabilidade anterior a independência

As primeiras notícias sobre a contabilidade num jornal impresso brasileiro ocorreu logo após a chegada da Família Real. Isto não foi uma coincidência, já que a imprensa no nosso País começou após a vinda do rei de Portugal. O primeiro registro que encontrei nas minhas pesquisas ocorreu no jornal Gazeta do Rio de Janeiro, em 1809. E trazia o seguinte anúncio:

O Superintendente da Decima das Freguezias de Santa Rita, e Candellaria procura hum sujeito, que bem escreva, e conte para a escripturação da Decima: quem se achar nestas circumstancias, dirija-se ao dito Superintendente.
(Gazeta do Rio de Janeiro, n. 77, p. 4, 1809. Itálico no original)

O Superintendente estava procurando alguém que tinha uma boa caligrafia, um dos requisitos relevantes para ser um profissional de contabilidade até o século XX, quando se popularizou as máquinas de datilografia. O anúncio não é claro sobre que tipo de escrituração o Superintendente desejava. Isto era relevante já que na época era comum o uso das partidas simples.

Um ano depois um anúncio na mesma Gazeta do Rio de Janeiro, apresentava um profissional que sabia as partidas dobradas e estava oferecendo seus serviços:

Huma pessoa de consumada experiencia, e talentos mercantís; e que fala, e escreve perfeitamente todas as línguas da Europa, e que possue extensas correspondencias em todas as Praças de commercio, se offerece para conduzir a correspondencia, e escripturação em partidas dobradas, e singelas de qualquer casa bem acreditada que se quiser servir de seu prestimo. Na Loja da Gazeta se receberao ulteriores informações.
(Gazeta do Rio de Janeiro, 1810, n. 35, p. 4, itálico no original)

Este profissional parece bem capacitado, já que falava e escrevia em todas as línguas existentes na Europa (sabemos, hoje, que isto é um exagero, já que o número é substancialmente grande). Além disto, ele conhecia não somente as partidas simples, que no texto parece com o nome de “singela”, como também as dobradas. O termo “partida singela” parece ser comum naquele período: em outra edição da Gazeta do Rio de Janeiro, já em 1819, outra pessoa se oferece para fazer a escrituração mercantil por partida singela (número 42, p. 4).

É interessante notar que somente em 1818 iremos encontrar outro anúncio deste tipo, onde uma pessoa que um emprego de Caixeiro ou Guarda-livros e que tinha acabado de chegar de Lisboa (Gazeta do Rio de Janeiro, 1818, n. 52, p. 4).

Um aspecto relevante: o termo “contabilidade” ou “contador” não aparece nestes quatros anúncios citados e publicados na Gazeta do Rio de Janeiro. Mas o termo guarda livros aparece. Inclusive está presente num anúncio de 1816 (número 30, p. 4), quando o jornal anuncia a disponibilidade da obra “Guarda livro moderno, ou Curso completo de Instrucções elementares sobre as Operações do Commercio, tanto em Mercadorias, como em Banco, contendo o methodo de escripturar livros por partidas dobradas, conforme o estilo dos principaes Escriptorios Mercantis da Europa”.

Entretanto, entre os números do mesmo jornal, encontrei este classificado que é bastante interessante (clique na imagem para ver melhor):

O profissional que se oferecia como Guarda Livros apresentava referências e passaporte. Detalha que seu trabalho inclui o uso das partidas dobradas, prometendo fechar a escrituração após findar o ano, com um retrato adequado da situação da empresa. Um profissional que toda empresa deseja, mesmo nos dias de hoje. 

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