Mas como era a contabilidade antes destes fatos formais? Desconheço uma referência sobre o assunto, o que significa que ainda é necessário pesquisa sobre o mesmo.
Lendo História do Brasil com Empreendedores, de Jorge Caldeira (Mameluco) encontrei a seguinte passagem (p. 45) sobre a vida da família Prado. Ao falar da vida de Antonio da Silva Prado (1778 a 1875), Caldeira conta como ele enriqueceu: fez uma viagem para Chapada Diamantina como tropeiro e obteve uma alta margem de lucro. A partir daí, passou a fornecer capital para outros tropeiros. Ajudou o governo de Dom Pedro I a pagar algumas contas e ganhou o contrato para cobrar impostos em Sorocaba. Nesta função de cobrador de impostos, comprou milhares de mulas; suas mulas passavam pela barreira fiscal sem pagar impostos, mas as tropas concorrentes eram duramente taxadas. O dinheiro obtido era reaplicado no negócio. Eis um trecho importante do livro.
Nesse ritmo, Antonio da Silva Prado se tornou logo um dos homens mais ricos de São Paulo. Deu o passo seguinte ao reunir para si toda a herança da família, ao casar sua filha Veridiana com seu meio-irmão Martinho. A noiva tinha recebido a educação que seu pais julgava mais adequada, que incluía um longo treinamento na contabilidade de partida dupla.
Observe que o trecho diz respeito ao início do século XIX, quando ainda não existiam escolas de contabilidade no Brasil. Mas isto não impedia que algumas pessoas tivessem conhecimento da contabilidade. No caso Veridiana, provavelmente a educação recebida em contabilidade deve ter ocorrido através de professores particulares, contratado pelo pai, Antonio da Silva Prado. Além disto, a relevância da educação na contabilidade indica claramente que Prado já conhecia o método, de alguma forma, e considerava importante que sua filha aprendesse.
Sabe-se que antes da criação de escolas formais de contabilidade, a mesma era ensinada nas famílias. E no Brasil, como isto ocorreu? Talvez fosse necessário alguém investigar a história não oficial da contabilidade para descobrir a freqüência que isto ocorria. O livro de Caldeira já é relevante por revelar outra visão da história brasileira: existia um intenso mercado interno no Brasil colônia, a economia não dependia da exportação e os trabalhadores eram em sua maioria pessoas livres.
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